Comprar ou vender?

Como investir em meio às incertezas? Tome um calmante e espere!

27 fev 2020, 14:48 - atualizado em 27 fev 2020, 15:00
Incertezas
“Os níveis elevados de incerteza aumentam o valor da alternativa de adiar decisões” (Imagem: Unsplash/@jontyson)

“Olha aí meu bem…prudência e dinheiro no bolso. Canja de galinha não faz mal a ninguém”. As frases da canção Engenho de Dentro de Jorge Bem Jor valem muito para os momentos de forte queda dos mercados financeiros, como a recente após o medo da disseminação do coronavírus para fora da China.

Considerando o fechamento de quarta-feira (26), a queda do Ibovespa já chega a 9% em 2020, ou quase 20% em dólar. O recuo de 7% ontem foi o maior desde o “Joesley Day” em maio de 2017.

Vale a pena lembrar outra frase, esta de um trabalho de teoria econômica, produzido em 1994, com o tema “Investimento sob incerteza”:

“Tome uma pílula para relaxar! Sente-se e aguarde mais informações antes de tomar uma decisão!”, escreveram Avinash Dixit e Robert S. Pindyck.

Segundo eles, os níveis elevados de incerteza aumentam o valor da alternativa de adiar decisões, ou seja, aguardar por mais informações antes de tomar decisões de investimentos sérias.

Isso acontece porque a probabilidade de tomar decisões seriamente erradas é particularmente alta em ocasiões como esta.

“Muitos investidores, mesmo aqueles que passaram anos realizando cuidadosa diligência antes de decidir investir, às vezes perdem todo o senso de perspectiva” (Imagem: REUTERS/Lucas Jackson)

Mas, como lembra o estrategista da gestora de recursos Ashmore, Jan Dehn, “um grande número de investidores se comporta em oposição direta às recomendações de Dixit e Pindyck”.

Ele lembra que os surtos de incerteza estão, quase por definição, associados a uma profunda falta de informações concretas sobre as quais basear as decisões. No entanto, muitas vezes desencadeiam fluxos anormalmente grandes.

“Muitos investidores, mesmo aqueles que passaram anos realizando cuidadosa diligência antes de decidir investir, às vezes perdem todo o senso de perspectiva e tomam decisões imprudentes com base nas informações mais esparsas. Isso é irracional e raramente aumenta os retornos”, ressalta.

Dehn lembra que os preços muito voláteis, como os dos últimos dias, oferecem o pior guia possível para qualquer coisa que possa acontecer no futuro.

“Obviamente, quando a sensação de crise se dissipa, o que acontecerá, todas as mãos fracas terão que comprar de volta os ativos que acabaram de vender. Os únicos vencedores neste jogo são a mídia e os formadores de mercado, que ganham dinheiro enquanto investidores vendem abaixo do preço quando saem e pagam acima quando retornam”, explica.