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Protestos em MT são espontâneos, sem participação de associações do agro, diz Famato

31 out 2022, 11:20 - atualizado em 31 out 2022, 12:08
Manifestantes MT
“É um movimento espontâneo, não com uma organização de alguma entidade, pelo que eu vi até agora”, disse o presidente da Famato, Normando Corral, à Reuters (Imagem: REUTERS/Rogerio Florentin)

Os protestos com bloqueios de estradas em Mato Grosso, maior produtor brasileiro de grãos e oleaginosas, são espontâneos, não têm organização de entidades agropecuárias e refletem a insatisfação com o resultado das eleições, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).

“É um movimento espontâneo, não com uma organização de alguma entidade, pelo que eu vi até agora”, disse o presidente da Famato, Normando Corral, à Reuters.

A federação, que apoiou o presidente Jair Bolsonaro em sua tentativa de reeleição, disse que apesar da insatisfação com o resultado “até agora não tem como contestar a legalidade do que ocorreu”.

“Até que provem o contrário, as eleições ocorreram de forma sem contestação nenhuma”, afirmou ele, lembrando que a eleição foi “radicalizada” desde o início e o resultado favorável a Luiz Inácio Lula da Silva teve “pequena margem”.

“Dá pra ver que temos um país dividido em suas opiniões. Mais do que nunca agora tem que ter bom senso, e aguardar o posicionamento, principalmente do presidente da República, que não teve sucesso na eleição”.

Segundo Corral, Bolsonaro deverá ter um posicionamento.

Protestos realizados por manifestantes apoiadores do presidente Jair Bolsonaro interditavam a BR-163 em seis pontos no Mato Grosso na manhã desta segunda-feira, enquanto a Via Dutra foi impactada em ambos os sentidos em trecho no Rio de Janeiro, após o resultado do segundo turno das eleições.

Se continuarem, os protestos teriam potencial de prejudicar o tráfego de produtos agropecuários, entre outras cargas.

O Mato Grosso deve responder por cerca de 27% da produção de soja do Brasil, maior produtor e exportador global da oleaginosa na nova safra 2022/23, que está sendo plantada, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No caso do milho, essa proporção é ainda maior, de 35% do total produzido no país.

O Estado também é líder na produção de carne bovina do Brasil, respondendo no segundo trimestre por 15% dos abates de gado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo Corral, os protestos podem atrapalhar o escoamento da produção, dependendo da duração.

O Brasil, que já embarcou a maior parte da soja colhida este ano, agora está exportando o milho segunda safra em maiores volumes no momento.

Mas boa parte desse escoamento até os portos é feito também por ferrovia. Pode haver, contudo, dificuldades para o produto chegar aos terminais ferroviários.

“Se vai atrapalhar o escoamento de produção é muito cedo para falar, porque isso aí começou ontem. E não sei quanto tempo vai durar e se vai durar…. Não dá pra saber, isso pode terminar hoje. Toda e qualquer interrupção causa problema”, afirmou.

Evandro Lermen, cooperado da Cooperativa Agropecuária e Industrial Celeiro do Norte (Coacen), com sede em Sorriso, maior município produtor de soja do Brasil, disse à Reuters que os caminhões praticamente não foram carregados com milho durante o final de semana em função do feriado de Finados, na quarta-feira.

Dessa forma, ele minimizou o impacto no escoamento, se os protestos forem logo encerrado. “Não estamos preocupados”, disse ele, acreditando que até quarta-feira a situação nas estradas deve estar normalizada.

Outros Estados também registraram protestos.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirmou por volta das 10h que foram registradas situações de “bloqueio/aglomeração” em 12 Estados, incluindo o Distrito Federal, com 70 pontos no total.

A situação nos portos de Santos e Paranaguá, dois dos principais pontos de exportação de grãos e outros produtos agropecuários, está normal, informaram as administrações portuárias.

Geralmente, os portos contam com estoques e impactos de protestos levam algum tempo para serem sentidos.

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Pela legalidade

Corral, da Famato, destacou que a federação não apoia os bloqueios de estradas.

“De forma nenhuma, o que a gente apoia é a legalidade, por enquanto não tem nenhuma prova de que houve ilegalidade para contestar (a eleição).”

Ele destacou que a “maior causa da insatisfação é opinião das pessoas”, lembrando que o presidente eleito “havia sido condenado por atos ilegais”.

“Não é que ele foi absolvido, ele concorreu por questão peculiar no Brasil, o arcabouço jurídico é muito falho”, comentou.

As acusações contra o petista no âmbito da Lava Jato foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que concluiu que o julgamento ocorreu fora da vara adequada e que o juiz Sérgio Moro, que analisou o caso em primeira instância, foi parcial.

Corral comentou que, já que o petista disputou e ganhou, será o presidente do Brasil, “ainda que o país esteja rachado”, e pediu bom senso.

“Temos de ter lideranças com bom senso. O agronegócio brasileiro tem se desenvolvido pela competência dos produtores, pela pesquisa, é pela ciência que produzimos em clima tropical”, disse ele, acrescentando que o setor tende a prosperar nos próximos anos com uma demanda forte global por alimentos.

Mas ele ponderou que ações do novo governo podem atrapalhar. “Por isso temos de ficar atentos para que isso não ocorra”, disse, lembrando que o setor conta com o apoio do novo Congresso, que manteve boa parte de sua base agropecuária.

Ele disse que os produtores têm “receios” sobre “a insegurança jurídica determinada por movimentos ilegais” ligados ao partido do presidente eleito, em especial o MST, dos sem-terra.

“Isso vai ser repelido não só pelas forças policiais, mas vai ter um movimento acirrado pelos produtores”.

(Atualizada às 12:07)

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