Protestos ao redor do mundo têm uma coisa em comum
O guru das artes marciais de Hong Kong Bruce Lee pediu aos seguidores que “esvaziem a mente, sejam sem forma, sem forma como a água”.
Essa filosofia guiou meses de protestos contra o governo em Hong Kong. E o modelo se aplica a movimentos de protesto em outros lugares, que operam com táticas que mudam rápido e sem uma liderança definida.
Manifestações em massa não são novidade. Protestos contra guerras e usinas nucleares varreram o globo décadas atrás, assim como o movimento Occupy de 2011-2012 que criticava a globalização e a desigualdade.
No entanto, do Iraque ao Chile, parece que os protestos estão por toda parte no momento. Grandes manifestações nas ruas, violentos confrontos com a polícia, pneus e prédios incendiados, lojas destruídas. Músicas, cantos, danças e as chamadas flash-mobs: multidões que se reúnem e desaparecem em lugares inesperados, organizadas por aplicativos de mensagens criptografadas, onde as pessoas usam pseudônimos.
Em alguns casos, os protestos são movidos por uma reação contra a austeridade, em meio ao lento crescimento global que se torna ainda mais desigual. Mas nem todos os movimentos têm a mesma centelha, mesmo que sua forma seja semelhante.
Os protestos sem líderes podem ser difíceis de serem enfrentados pelos governos, já que as autoridades não conseguem identificar um alvo. O movimento pode começar com um protesto contra um problema específico e depois se ramificar.
A falta de liderança central pode impedir conflitos internos, mas também levar as manifestações a muitas direções, minando o momentum. Os protestos sem líderes podem ser ágeis, mas também ficam sem leme e caóticos, reféns de elementos violentos.
A história diz que é difícil manter os movimentos sem líderes com a mesma força por um longo período. Ainda mais porque os países se preocupam menos com o risco de reação internacional, incluindo sanções.
“Percebemos um ambiente geopolítico mais competitivo no qual os objetivos tradicionais de política externa baseados em valores caíram no esquecimento”, diz Jonathan Wood, diretor de análise de risco global da Control Risks, em Washington. “A resposta padrão de muitos governos provavelmente será tentar controlá-los o máximo possível e esperar que comecem a se dissipar antes que os custos econômicos se tornem muito altos.”
Chile
Os protestos no Chile seguem um padrão semelhante ao do Brasil em 2013. Ambos foram desencadeados por uma razão aparentemente banal – um pequeno reajuste nas tarifas de transporte público – e se transformaram em protestos em massa contra uma lista cada vez maior de queixas: aumento do custo de vida, desigualdade, piora dos sistemas de saúde e educação e, principalmente no caso brasileiro, corrupção.
A natureza amorfa dos protestos significa que não há um líder único para negociar ou um manifesto claro. As convocações para protestos no Chile são frequentemente feitas por grupos de estudantes nas redes sociais, mas com a participação de chilenos de todas as idades e classes sociais.
Em Santiago, 1 milhão de pessoas – mais de 15% da população da cidade – foram às ruas na sexta-feira. Nesta quarta-feira, o governo anunciou que não vai mais sediar a cúpula de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico no próximo mês, que teria a participação do presidente dos EUA, Donald Trump, e do presidente chinês Xi Jinping.