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Projeto de R$ 4,2 bi une Casa dos Ventos e ArcelorMittal

19 abr 2023, 8:34 - atualizado em 19 abr 2023, 9:48
China, Minério de ferro
Projeto une Casa dos Ventos e ArcelorMittal (ARMT34). (Imagem: REUTERS/Stringer)

A siderúrgica ArcelorMittal Brasil, uma das dez maiores consumidoras de energia do País, e a desenvolvedora de projetos Casa dos Ventos anunciaram nesta terça, 18, a criação de uma joint venture para construção e operação de um complexo eólico na Bahia. As empresas afirmam ser o maior contrato corporativo de fornecimento de energia renovável do País. Além do tamanho, o acordo se diferencia entre os contratos usuais de autoprodução pela participação mais ativa da siderúrgica prevista na governança, algo que as empresas classificaram como inédito.

O acordo prevê o desenvolvimento conjunto do Complexo Eólico Babilônia Centro, com 553,5 megawatts (MW) de capacidade instalada, o que deve consumir R$ 4,2 bilhões em investimentos. A previsão é de que a mobilização para as obras seja iniciada no fim de 2023 e as primeiras turbinas entrem em operação em 2025. O início do suprimento para a siderúrgica ocorrerá em 2026, estendendo-se por 20 anos, prorrogáveis por mais 15 anos. Está prevista a opção de as empresas desenvolverem, no futuro, um projeto solar de 100 MW na mesma área do complexo eólico, o que tornaria a usina híbrida (com duas fontes).

 

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O anúncio ocorre em meio a um cenário de preços desafiador para esse tipo de acordo. A hidrologia levou os valores do megawatt-hora a níveis muito baixos no mercado de curto prazo, o que vem influenciando os preços da energia nos contratos de mais longo prazo. Os preços futuros também são pressionados por uma perspectiva de sobreoferta de energia nos próximos anos no País. Diante disso, muitos consumidores têm adiado decisões envolvendo suprimento de longo prazo.

Redução de emissões

A decisão da ArcelorMittal tem como pano de fundo a necessidade de garantir energia para um crescimento expressivo de capacidade ao longo dos próximos anos, dando previsibilidade de custo e fornecimento, associado a uma estratégia global de descarbonização, com metas de redução de emissões de CO2 em 25% até 2030 e de alcançar a neutralidade até 2050. Adicionalmente, comentou o presidente da ArcelorMittal Brasil, Jefferson de Paula, o projeto da usina tem uma taxa de retorno “interessante, até maior do que a de projetos que tivemos dentro do aço”.

Segundo o executivo, o grupo já se comprometeu com investimentos de mais de R$ 7 bilhões na expansão de seu parque produtivo no País, tanto em aços planos quanto em longos. Com isso, o consumo de energia elétrica da empresa deve aumentar em cerca de 50%, de 500 MW médios para 750 MW médios.

A siderúrgica já tem ativos de geração que atendem a 50% de suas necessidades atuais de energia, entre uma hidrelétrica em Minas Gerais e uma termoelétrica a gás no Espírito Santo. Com o projeto eólico Babilônia, a ArcelorMittal vai garantir o atendimento a aproximadamente 40% das necessidades de energia da ArcelorMittal em 2030.

Jefferson de Paula disse que a companhia não analisa outras oportunidades para ampliar a geração própria, mas indicou que a meta é chegar a 2030 com 100% do consumo de energia em fonte renovável. Ele não descartou novos investimentos, embora tenha sinalizado a intenção de desenvolver também a frente de créditos de energia renovável.

A ArcelorMittal terá 55% da joint venture e participação ativa em todo o processo de construção e operação da usina, em um modelo diferente do adotado nos contratos mais recentes de autoprodução, em que a construção e a operação ficam a cargo do gerador, enquanto o consumidor se mantém como sócio apenas com a finalidade de garantir isenção de determinadas tarifas e encargos setoriais.

A siderúrgica ficará com cerca de 90% da garantia física da usina, o correspondente a 267 MW médios, montante maior que o consumo de alguns Estados, configurando-se no maior contrato corporativo já assinado no País. Os cerca de 10% restantes serão vendidos no mercado livre.

Preço competitivo

O diretor executivo da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, destacou que, mesmo diante do cenário atual para os preços da energia, com valores historicamente baixos, o Complexo Babilônia Centro terá valor de MWh competitivo. Ele não revelou números, mas indicou que o preço com o qual as empresas estão trabalhando está abaixo dos níveis históricos com os quais o mercado vinha trabalhando, da ordem de R$ 250 a R$ 260 por MWh.

Entre as razões estaria o fato de que o parque eólico tem grande escala e será localizado em Várzea Nova (BA), onde a qualidade de ventos é diferenciada e há proximidade de conexão com o Sistema Interligado Nacional (SIN) e potencial de otimização das operações.

A empresa já adquiriu os 123 aerogeradores que serão instalados, como parte de um grande contrato entre a empresa e a fabricante Vestas, o que garantiu condições mais competitivas.

Conta ainda positivamente a perspectiva de um financiamento a custos mais baixos do que a média de mercado, tendo em vista a estrutura da própria joint venture, que permite garantias da ArcelorMittal e da Casa dos Ventos, que tem a francesa TotalEnergies como acionista. Segundo Araripe, a expectativa é de obter financiamento para 70% do investimento previsto em bancos de fomento como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Nordeste, com a possibilidade de acessar linhas subsidiadas da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Uma emissão no mercado de capitais não está descartada, mas Araripe ressaltou que o mercado está mais fechado neste momento.