Projeção de US$ 200 o barril? Alta do petróleo assusta mercado e Brasil pode sair no prejuízo; entenda
Desde o início da semana, o preço do petróleo já subiu cerca de 8%. O motivo é a escalada dos conflitos no Oriente Médio, com o risco de o Irã e Israel entrarem em guerra. E, devido à commodity, as tensões prometem ultrapassar as barreiras internacionais e chegar ao Brasil.
Pedro Rodrigues, sócio da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) e especialista em óleo e gás, destaca em entrevista para o Money Times que até tem um lado positivo na alta do petróleo — mas que o lado negativo é mais forte.
Por um lado, o Brasil é um grande exportador de petróleo e o preço mais alto melhora a balança comercial. Por outro, a alta nos preços dos combustíveis tende a gerar mais inflação, não só no setor de transportes, mas também no de alimentos por conta do preço do frete.
“O impacto no final da linha é inflação e um petróleo caro tende a piorar esse cenário econômico do Brasil, que já está com una inflação alta”, afirma Rodrigues.
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O especialista ainda lembra que é preciso observar o papel da Petrobras (PETR3; PETR4) durante o movimento de alta da commodity. A empresa não usa mais o Preço de Paridade de Importação (PPI) e, por isso, o mercado não sabe como a companhia vai se comportar em um cenário de estresse e alta volatilidade.
Por enquanto, a Petrobras tem uma margem no preço dos combustíveis. Pelo levantamento diário do CBIE, a gasolina vendida no Brasil está 3,93% acima do preço internacional, enquanto o diesel está 5,27% mais caro.
Oriente Médio: Entenda o que está acontecendo com o petróleo
Conflitos entre Israel, Hamas e Hezbollah, embora ruins do ponto de vista humano, não têm tanto impacto econômico no mundo. O problema é com a entrada do Irã na história.
Vale lembrar que o Irã é o oitavo maior produtor de petróleo no mundo, com uma produção de 3,9 milhões de barris por dia. Ou seja, eventuais danos na infraestrutura petrolífera iraniana pode prejudicar a oferta da commodity.
Roberto Ardenghy, presidente do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás), aponta que os países da região do Oriente Médio são grandes produtores, mas também grandes exportadores de petróleo — caso da Arábia Saudita, Iraque, Irã, Kuwait e Emirados Árabes. Logo, qualquer conflito no Oriente Médio, causa essa reação dos mercados de aumentar o preço do petróleo.
Além disso, o país controla o Estreito de Ormuz — uma hidrovia estrategicamente importante para o escoamento do petróleo da região para os principais mercados do mundo. O Irã poderia fechar essa passagem, também atrapalhando a oferta do produto.
Segundo Ardenghy, do ponto de vista logístico, existem dois caminhos para se retirar o petróleo do Oriente Médio.
“Você tem o Mar Vermelho com o canal de Suez, onde a produção basicamente do Iraque é transportada, e você tem do outro lado o Golfo Pérsico com o Estreito de Hormuz, por onde passa uma quantidade muito importante de petróleo e de gás. Se calcula que entre 20 e 30 milhões de barris por dia circulam ali pelo Estreito de Hormuz. Então, realmente é uma região crítica para esse abastecimento e qualquer tipo de problema em termos de acesso pode realmente causar problemas de abastecimento mundial”, afirma.
Barril pode chegar a mais de US$ 200
Bjarne Schieldrop, analista-chefe de commodities do banco sueco SEB, estima que os futuros do petróleo bruto podem subir para US$ 200 o barril, ou mais, em um cenário de destruição da infraestrutura do Irã.
“Se você tirasse as instalações de petróleo no Irã e forçasse as exportações para baixo em 2 milhões de barris, então a próxima pergunta no mercado seria o que aconteceria no Estreito de Ormuz? Isso, é claro, acrescentaria um prêmio de risco significativo ao petróleo”, disse em entrevista para a CNBC.
A expectativa do analista é de Israel vai retaliar após o último ataque iraniano — e isso vai acontecer dentro de cerca de cinco dias, provavelmente, antes do aniversário de um ano em 7 de outubro [dia do ataque do Hamas ao festival de música em Israel].
Rodrigues, do CBIE, afirma que, por enquanto, é difícil medir o impacto do conflito para os preços do petróleo, porque tudo vai depender das medidas tomadas pelos governos.
“O céu é o limite. No caso do Estreito de Ormuz, por exemplo, o Irã pode ir desde uma proibição de acesso até jogar bombas nos navios que estão lá. Dependendo do que for feito, aí, sim, os preços podem chegar a mais de US$ 200”.