Proibição ao 737 MAX deve gerar mais sofrimento aos acionistas da Boeing
Tudo indica que a Boeing (BA), maior fabricante de aeronaves do mundo, não terá um começo de ano-novo nada fácil.
Após meses de preparativos, controle de danos e intensas investigações regulatórias, o principal avião da companhia, o 737 MAX, ainda está em solo por causa de dois acidentes fatais neste ano. E não há qualquer previsão de quando a proibição mundial, imposta após o acidente de março, será revertida.
As ações da Boeing afundaram mais de 4% na segunda-feira, depois que o Wall Street Journal relatou que a fabricante de aeronaves poderia suspender até janeiro a produção do MAX em sua fábrica em Renton, Washington, onde trabalham 12.000 colaboradores.
Esse rumor, confirmado mais tarde pela Boeing, aumentou ainda mais a avalanche de notícias negativas sobre a forma como a empresa vem lidando desde outubro com a falha no sistema do 737 MAX, o que tem mantido suas ações sob pressão.
Depois de despencar cerca de 7% nos últimos cinco pregões, os papéis da Boeing já perderam quase um terço do seu valor desde março, quando o 737 MAX foi proibido de voar em todo o mundo após o acidente da Ethiopian Airlines, seguido da queda do Lion Air, em outubro de 2018. As ações recuperaram parte dessas perdas no pregão de ontem, subindo 1,1% e fechando a US$ 330,68.
A interrupção da produção do 737 MAX veio após uma declaração pública incomum da autoridade reguladora, que repreendeu a gerência da Boeing por usar táticas de pressão para reverter a proibição de voo.
A Autoridade Federal de Aviação dos EUA (FAA, na sigla em inglês) declarou, em uma mensagem ao congresso norte-americano, que aproveitou uma reunião recente para recomendar que a companhia focasse na “qualidade e pontualidade das submissões de dados para avaliação da FAA”.
Em outubro, dissemos que o pior para a Boeing ainda estava por vir, pois a FAA não iria querer dar a impressão de que estava acelerando a aprovação do MAX, na medida em que tenta conquistar novamente a confiança dos passageiros e órgãos reguladores estrangeiros.
O último revés é mais uma confirmação de que a jornada da Boeing de volta à normalidade será mais longa e problemática do que se previa inicialmente.
Acidentes geram prejuízos enormes
A quantidade de jatos MAX que estão amontoados fora das fábricas no Estado de Washington e a continuidade das investigações regulatórias vão gerar mais sofrimento financeiro para a Boeing, dificultando a vida dos analistas que tentam definir o fundo dos preços das suas ações.
Antes de anunciar a interrupção da produção em janeiro, a Boeing já havia armazenado mais de 380 aviões recém-fabricados, de acordo com um cálculo feito por Chris Edwards, blogueiro especializado na produção do 737.
Em seu balanço do segundo trimestre, a Boeing foi multada em US$ 5 bilhões para compensar os clientes de companhias aéreas prejudicadas pela proibição de voo da sua aeronave.
Esse custo seguramente vai aumentar se o órgão regulador não permitir que o MAX volte a voar no ano que vem. Além disso, a Boeing terá que pagar mais centenas de milhões de dólares às famílias das vítimas. Sheila Kahyaoglu, analista da Jefferies, calcula que o lucro por ação da companhia terá um impacto negativo de 6% em 2020.
Enquanto o Max continuar proibido de voar, será difícil saber a extensão do dano para a reputação da companhia e sua perspectiva financeira. Há muitas questões em jogo tanto para a Boeing quanto para a economia dos EUA.
O 737, que iniciou suas operações no final da década de 1960, é o modelo mais vendido da indústria da aviação e a principal fonte de receita da Boeing.
A versão Max reprojetada teve tanto sucesso que recebeu mais de 5000 pedidos que totalizaram mais de US$ 600 bilhões, incluindo aviões que já foram entregues.
Mas o retorno comercial do avião mais vendido da Boeing teve vários tropeços e é pouco provável que aconteça antes do início de 2020. Os atrasos já custaram à fabricante de aviões pelo menos US$ 8,4 bilhões até o momento, de acordo com a Bloomberg.
Resumo
Não acreditamos que a Boeing conseguirá voltar à total normalidade operacional no curto prazo, e o principal impedimento nesse processo é a reconquista da confiança pública.
A Boeing certamente é capaz de solucionar os problemas técnicos necessários para fazer do Max um gerador de receitas viável novamente, mas esse processo dependerá dessa reconquista de confiança.
A repreensão pública incomum da FAA nesta semana sinaliza que esse processo será mais complicado e poderá custar o cargo do CEO da companhia, Dennis Muilenburg.
Não acreditamos que seja o momento certo para os investidores que querem se posicionar nessa enorme ação industrial. Os riscos de queda ainda são bastante pronunciados.