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Produtores de gado podem economizar R$ 1,45 bilhão por ano com biodigestores, diz Embrapa

12 dez 2023, 12:45 - atualizado em 12 dez 2023, 12:45
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O digestato pode ser utilizado como matéria-prima para a formulação de fertilizantes e pode ser aproveitado na lavoura, segundo a Embrapa (Foto: Embrapa)

Um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estima que a adoção de biodigestores em metade dos estabelecimentos rurais brasileiros com até 100 cabeças de gado resultaria em uma forte economia na atividade.

No lado ambiental, 595 mil toneladas de dióxido de carbono equivalente deixariam de ser emitidas a partir da substituição do gás liquefeito de petróleo (GLP) pelo biogás gerado na própria fazenda. Ao substituir dois botijões por mês de GLP pelo biogás, cada propriedade economizaria R$ 2.880 por ano.

Dessa forma, se metade das pequenas e médias propriedades pecuárias brasileiras produzissem gás a partir de resíduos orgânicos, haveria uma economia total de R$ 1,45 bilhão anualmente.

Esse é o valor que 504 mil fazendas, metade das que mantêm entre 10 e 100 cabeças de gado, economizariam ao deixar de comprar o botijão de gás liquefeito de petróleo (GLP).

As estimativas são de um estudo realizado por pesquisadores da Embrapa Agroenergia (DF), a partir de dados coletados de um biodigestor instalado em caráter experimental em uma propriedade em Luziânia (GO).

Sobre o estudo da Embrapa

Para esse trabalho, os cientistas utilizaram a RenovaCalc, ferramenta desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente que calcula a intensidade de carbono equivalente emitida por biocombustíveis. “A metodologia se baseia nos inventários de Avaliação do Custo de Vida (ACV) de cada rota de biocombustível e emprega métodos reconhecidos internacionalmente”, relata a pesquisadora Rosana Guiducci, uma das autoras do artigo.

A RenovaCalc é utilizada pelo Renovabio, programa federal de incentivo ao uso de biocombustíveis coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), e é disponibilizada gratuitamente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

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A RenovaCalc apontou que o biogás libera 83,11 gramas de CO2 equivalente para cada megajoule (unidade de energia) produzido, enquanto o combustível fóssil substituto, GLP, libera 86,7 gramas na mesma função.

A diferença entre esses números foi usada para calcular a quantidade de CO2 que deixaria de ser emitida se pouco mais de 500 mil propriedades substituíssem o GLP pelo biogás: 595,2 mil toneladas por ano.

Os benefícios do biodigestor

O biodigestor ainda gera um subproduto valioso: o digestato, efluente resultante da digestão anaeróbica feita por bactérias no interior do equipamento. O digestato pode ser utilizado como matéria-prima para a formulação de fertilizantes e pode ser aproveitado na lavoura na própria fazenda. O digestato ainda é apropriado para ser usado em cultivos orgânicos, pois é livre de aditivos químicos.

Dessa forma, pode reduzir impactos ambientais pela diminuição do uso de fertilizantes convencionais. Os pesquisadores ressalvam, porém, que ele não é recomendado para o uso direto em hortaliças.

Para o produtor que participou dos experimentos, os ganhos com o biodigestor foram grandes. “Só vi vantagens; além de economizar no botijão de gás, ainda produzo o adubo [digestato] para jogar nas plantas”, relata Cruz. Ele frisa que o manejo dos animais não sofreu grandes alterações.

“Só mudou o modo de lavar o curral, um trabalho que eu já fazia todos os dias”, conta. Os dejetos dos animais devem ser coletados sem o uso de sabão ou outros químicos, a fim de se preservar as bactérias que vão executar a digestão do material e gerar o gás.

Cruz recebeu a primeira de três instalações experimentais que o projeto de pesquisa pretende instalar. O segundo biodigestor, também em Luziânia, começou a operar em novembro, e um terceiro irá funcionar ainda no primeiro semestre de 2024.

“Até o fim de outubro de 2024, pretendemos ter o protótipo validado. Assim, estamos abertos a parcerias com a iniciativa privada interessada em codesenvolver o biodigestor”, revela a pesquisadora Itania Pinheiro Soares, que coordena o projeto de pesquisa.

Ela relata que os maiores desafios desse desenvolvimento são as adaptações feitas de peças convencionais. “Caixas d’água e algumas conexões, por exemplo, poderiam ser substituídas por estruturas já fabricadas para a finalidade do biodigestor, o que facilitaria o trabalho, reduzindo problemas operacionais. Daí a importância de termos um parceiro codesenvolvedor do ramo”, explica Soares.

A pesquisadora conta que a demanda veio da Cooperativa Mista da Agricultura Familiar, do Meio Ambiente e da Cultura do Brasil (Coopindaiá), preocupada em dar um destino adequado aos dejetos animais, um passivo ambiental comum na pecuária leiteira, principal atividade dos membros da cooperativa. A cientista informa, ainda, que já há uma iniciativa de parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) para capacitar produtores interessados na tecnologia.

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