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Produção de petróleo dos Emirados fica acima da cota e preocupa traders

11 set 2020, 12:33 - atualizado em 11 set 2020, 12:33
Petroleo
Agora, muitos operadores estão de olho nos dados do estado do Golfo, cuja produção acima do limite pode ser muito maior do que se acreditava (Imagem: REUTERS/Angus Mordant)

Justo quando a Opep parecia ter finalmente solucionado o antigo problema do não cumprimento das metas de produção de petróleo por seus membros, surge um novo desobediente.

Os Emirados Árabes Unidos – tradicionalmente um parceiro leal do líder do grupo, a Arábia Saudita – bombearam um pouco mais do que o limite acordado em julho, segundo dados da Opep. O país admitiu ter feito o mesmo em agosto.

Agora, muitos operadores estão de olho nos dados do estado do Golfo, cuja produção acima do limite pode ser muito maior do que se acreditava anteriormente, contribuindo para a queda das cotações de petróleo para o menor nível em dois meses.

O sinal mais forte de que algo estava errado foi evidenciado no mês passado pela Agência Internacional de Energia, que em seu relatório sobre o mercado de petróleo estimou que os Emirados Árabes Unidos bombearam 3 milhões de barris por dia em julho. De acordo com a Petro-Logistics, que acompanha os movimentos internacionais de transporte de petróleo, a oferta do país foi ainda maior em agosto.

A empresa de pesquisa Kpler também disse que as exportações do país são maiores do que os números oficiais, enquanto dados de petroleiros compilados pela Bloomberg mostram que os Emirados Árabes Unidos embarcaram cerca de 2,9 milhões de barris por dia no mês passado.

Esses números são significativamente superiores aos 2,693 milhões de barris diários da produção de agosto anunciados pelo ministro da Energia, Suhail Al Mazrouei, que por si só estavam mais de 100 mil barris por dia acima da meta da Opep+ para o país.

Quando questionado sobre a diferença entre as estimativas de rastreamento de petroleiros e os números oficiais de produção, um porta-voz do Ministério de Energia dos Emirados Árabes Unidos não quis comentar. A Abu Dhabi National Oil também não quis comentar. A estatal prometeu aumentar significativamente os cortes das exportações em outubro.

Desconfiança

Estimar a produção de um país a partir de dados de embarques não é uma ciência exata. Muitos países, incluindo os Emirados Árabes Unidos, têm suas próprias refinarias que processam petróleo no mercado interno a uma taxa que varia de um mês para o outro.

Algumas exportações podem vir de tanques de armazenamento, em vez do bombeamento, e as vendas externas aparentes de petróleo bruto podem ser infladas pela mistura com um óleo leve chamado condensado, que está isento das cotas da Opep+. Também é difícil dizer se os navios estão completamente cheios quando saem dos terminais de carregamento.

Ainda assim, a percepção de que uma peça-chave da Organização dos Países Exportadores de Petróleo não está cumprindo sua cota tem influenciado os preços, de acordo com traders de petróleo que conversaram com a Bloomberg News, pedindo para não serem identificados.

“Quando um dos principais países do Golfo não consegue cumprir sua meta de conformidade, isso levanta questões no mercado sobre a sustentabilidade de todo o projeto de cortes”, disse Bill Farren-Price, diretor da consultoria RS Energy Group. “A Opep tem feito um trabalho incrível na entrega de cortes até agora, mas precisa continuar.”