Money Times Entrevista

Problema do governo não é fiscal, mas de comunicação, diz economista-chefe do PicPay

03 fev 2025, 7:00 - atualizado em 31 jan 2025, 15:49
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay
Para a Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, um país como o Brasil não consegue zerar o déficit devido a desafios estruturais. (Foto: Divulgação/PicPay)

Em 2024, o Governo Federal registrou um déficit primário de R$ 43 bilhões. O resultado representa uma queda real de 81,7% na comparação com 2023, quando o déficit foi de R$ 228,49 bilhões.

Apesar da melhora nos números, o mercado ainda está com um pé atrás com a responsabilidade fiscal do atual governo e, para Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, o motivo é a comunicação. “Entre erros e acertos – mais tropeços do que acertos –, eles estão aprendendo que não se faz política como antigamente”, afirma a economista, em entrevista exclusiva para o Money Times.

Benedito cita, como exemplo, o pacote de contenção de gastos de R$ 70 bilhões apresentado pelo ministro Fernando Haddad no final do ano passado.

Entre as medidas apresentadas, incluiu-se a limitação do crescimento do salário mínimo ao intervalo permitido pelo arcabouço fiscal. Além disso, a equipe econômica também propôs acabar com os chamados “supersalários” — que são os salários acima do teto constitucional —, reajustes no abono salarial, mudanças nas regras de aposentadorias para militares e endurecimento das regras para benefícios sociais.

Para a economista, o pacote de medidas fiscais não foi avaliado como ruim – na verdade, incluía pautas cuja possibilidade o mercado sequer considerava, como o corte de supersalários e mudanças na aposentadoria de militares.

O problema é que o governo anunciou junto com o pacote fiscal uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a isenção do pagamento de Imposto de Renda para os contribuintes que ganham até R$ 5 mil por mês.

“O timing foi péssimo. O governo poderia ter tratado dessas questões agora, após a aprovação da LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias], ao invés de antecipá-las. Poderia ter deixado para março, quando começam as entregas do IRPF [Imposto de Renda de Pessoa Física], tornando o assunto mais oportuno. A gente sabe que governo precisou utilizar o tema como moeda de troca nas negociações políticas, mas a estratégia gerou ruído e aumentou a desconfiança sobre a responsabilidade fiscal do governo”, destaca.

Outro exemplo que coloca em xeque a habilidade do governo de se entender com o mercado é a reforma tributária. O Ministério da Fazenda conseguiu aprovar e regulamentar a reforma, que ficou mais de 30 anos em debate no Congresso.

Segundo Benedito, a condução da reforma tributária por Haddad deve ser comemorada, uma vez que a reforma foi muito sofisticada e eles conseguiram colocar em andamento coisas positivas. Mas faltou comunicação.

“A comunicação falha colocou o Haddad na fogueira e ele ficou muito exposto. Ele acabou perdendo parte da credibilidade não por suas ações, mas pela forma como as apresentou”, completa.

Governo quer, mas déficit zero não está no radar

A economista ainda afirma que, apesar das dúvidas do mercado, o país se beneficia com o crescimento na arrecadação, o que melhora o cenário fiscal.

Por outro lado, um país como o Brasil não consegue zerar o déficit devido a desafios estruturais. “A gente está arrecadando muito, mas não se pode gastar mais do que se arrecada. O governo chegou ao limite do ‘eu posso tudo’ e a conjuntura não permite mais essa postura”, aponta.

Benedito diz que, dado esse contexto, o mercado trabalha com o cenário de que o arcabouço fiscal permanecerá como está. Ou seja, não há espaço para mudanças nas regras fiscais por parte do governo.

“Agora, o foco deve ser na execução do que já foi aprovado. Mesmo que o governo utilize a margem do limite inferior do teto de gastos – algo que oficialmente não planeja fazer –, o impacto seria pequeno no déficit”, diz.

Ela destaca que esse nível de previsibilidade ajuda a reduzir a desconfiança e dá mais segurança ao mercado para investir, sendo que isso também contribui para a recuperação do fluxo de capital e a retomada da confiança nos ativos de risco.

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Editora
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
juliana.americo@moneytimes.com.br
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