“Privatização da Petrobras (PETR4) é uma cortina de fumaça”, diz ex-presidente da estatal, Sergio Gabrielli
A perspectiva de uma privatização da Petrobras (PETR4) ainda em 2022 interfere diretamente no cenário político-eleitoral deste ano, avalia o ex-presidente da petroleira, José Sergio Gabrielli.
Nesta semana, a discussão sobre a desestatização da companhia voltou com força às manchetes, reacendendo a velha polêmica sobre o tema.
Na quarta-feira (11), o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, afirmou que uma das primeiras medidas à frente do cargo será a solicitação de estudos sobre a desestatização da Petrobras.
Em entrevista ao Money Times, o ex-presidente da Petrobras, afirma que a companhia sempre foi central para a política brasileira, e que as discussões em torno dela podem impactar o processo eleitoral.
A discussão acerca da privatização
Para Gabrielli, o debate que já está colocado é acerca de qual modelo de Petrobras se quer no país.
De um lado, ele avalia a Petrobras proposta pelo governo Bolsonaro, que envolve uma petroleira privatizada e focada na exportação de petróleo cru, além de um mercado de refino aberto para outras empresas entrarem, como já fez com o gás e agora quer fazer com o petróleo.
Já a outra alternativa colocada, é uma Petrobras mais forte, mais integrada na produção de petróleo e refino, que se volta para uma distribuição de derivados, com um papel relevante no setor petroquímico, de biocombustíveis e na distribuição de fertilizantes.
Nesse segundo cenário, o economista avalia que a empresa “vai precisar reajustar seu plano de investimentos, reduzindo sua política de distribuição de dividendos e reinvestindo grande parte do lucro”.
“Se a maioria dos candidatos de oposição ganhar, eu acho que o modelo de Bolsonaro vai ser mudado”, calcula Gabrielli.
Privatização da Petrobras: sai ou não?
Para o analista da Levante Investimentos, Flávio Conde, não será possível privatizar a Petrobras neste mandato do governo Bolsonaro. “A equipe econômica já ajeitou a privatização da Eletrobras (ELET6). Agora, não vai dar tempo”, diz.
Na visão do analista, caso Jair Bolsonaro seja reeleito, existe uma chance dessa privatização acontecer. Segundo ele, o objetivo do presidente com o processo é não precisar carregar o “ônus político, quando o preço subir”. Já para a equipe econômica, a intenção é uma questão ideológica.
O ex-presidente da Petrobras diz que a privatização é “uma cortina de fumaça”. Gabrielli acredita que o novo ministro de Minas e Energia não quer se posicionar a respeito e “está tentando desviar a discussão do novo processo inflacionário pelo preço dos combustíveis e a política de preços da Petrobras”.
“Ao colocar as privatizações em pauta, o ministro direciona a discussão para um tema que é inviável de acontecer esse ano”, diz.
“Já é muito difícil a viabilidade da privatização da Eletrobras, quanto mais a da Petrobras, que requer uma mudança muito grande da legislação e, provavelmente, vai levar a um debate eleitoral muito forte”, completa Gabrielli.
Falando sobre o cronograma político, Gabrielli, acredita ter maior probabilidade de acontecer a continuidade do fatiamento da Petrobras. Segundo ele, o valor iria ser reduzido, se tornando cada vez mais uma petrolífera exportadora de petróleo cru. “A empresa deixaria de ter um papel dominante no mercado de refino no Brasil”, afirma.
O ex-presidente ainda vê a tática da Petrobras como uma forma de ‘destruição’ da empresa, uma vez que distribuem como dividendos grande parte do lucro, “porque não querem ampliar a sua capacidade”. E completa: “uma empresa de petróleo, no longo prazo, precisa investir; se não, ela morre”.
*Por: Iasmin Rao Paiva e Janaina de Camargo
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