Política

Privatização da Petrobras é um debate saudável e nada mais do que isso, diz Montezano

29 out 2021, 12:00 - atualizado em 29 out 2021, 12:00
Gustavo Montezano
Em entrevista à TV esta semana, ele disse ter pedido ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que comece a estudar o processo de desinvestimento (Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil)

A discussão sobre a privatização da Petrobras (PETR3;PETR4) é “muito produtiva” e “saudável”, mas, por enquanto, nada mais do que isso, disse Gustavo Montezano, presidente do banco de desenvolvimento brasileiro BNDES.

O banco, que coordenou vários processos de privatização durante a presidência de Jair Bolsonaro, não foi oficialmente notificado pelo governo para iniciar qualquer ação, disse Montezano, em entrevista a jornalistas da Bloomberg na quinta-feira, antes de voar para Glasgow para a conferência climática COP26.

“Nós enquanto sociedade e a classe política percebemos que não há benefício econômico direto em ter uma empresa estatal produtora de petróleo, e isso apenas gera um barulho político, já que levamos a culpa quando o petróleo sobe”, disse ele.

A Petrobras aumentou em quase 65% os preços da gasolina neste ano, ajudando a empurrar para cima uma inflação muito impopular. Bolsonaro, que enfrenta uma eleição presidencial em outubro de 2022, tem dito que quer privatizá-la.

Em entrevista à TV esta semana, ele disse ter pedido ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que comece a estudar o processo de desinvestimento.

Montezano disse que a privatização mais rápida que o BNDES fez até agora durante o seu mandato demorou 11 meses desde a data em que o banco começou a trabalhar nela até o fim – foi a venda da Companhia Energética de Brasília. “Eu nunca diria que é impossível fazer no ano que vem; estou apenas apresentado dados ”, disse ele.

Enquanto isso, o BNDES está vendendo tantas fatias de empresas de capital aberto quanto o mercado permite, disse ele, chamando essas participações de “carteira de ações especulativas” porque criam volatilidade no capital do banco.

Desde que Montezano assumiu a presidência do BNDES, há cerca de dois anos e meio, o banco vendeu cerca de R$ 65 bilhões desses ativos, disse ele, incluindo ações da mineradora Vale (VALE3), Petrobras, da fabricante de celulose Suzano (SUZB3) e do frigorífico Marfrig (MRFG3).

“Podemos tirar parte desse dinheiro e alocar em créditos de carbono, por exemplo, assumindo riscos, dando liquidez e induzindo os mercados”, disse. “A agenda do clima era mais uma preocupação secundária nesses desinvestimentos, mas é um efeito colateral positivo.”

O banco de desenvolvimento ainda possui cerca de R$ 70 bilhões em participações em empresas de capital aberto, incluindo a Petrobras, o frigorífico JBS (JBSS3) e as concessionárias Eletrobras (ELET3;ELET6) e Copel (CPLE6). Ele disse que o plano é continuar a desinvestir, mas preferiu não dar detalhes.

“No longo prazo, o BNDES não deveria ter nenhum ativo sem componente ASG”, disse ele, referindo-se ao bom desempenho na área ambiental, social e de governança.

Uma das iniciativas do banco foi parar de emprestar para usinas térmicas que usam carvão. Um outro projeto prevê juros mais baixos nos empréstimos para empresas que se proponham a melhorar suas metas ASG.

O Brasil estabeleceu um compromisso em obter a neutralidade em carbono em 2050 e o papel principal do BNDES é ajudar o governo e o setor privado a atingir essa meta, disse ele.

O que Montezano agora tenta provar é que ele pode fazer mais do que vender ativos e reduzir novas concessões de crédito do BNDES.

Ele também quer ajudar a reparar a imagem ambiental danificada do Brasil. Ele participará da COP26 em um momento em que o país está sob pressão internacional para conter a destruição ambiental, após um salto em incêndios florestais e desmatamento ilegal.

“Estamos procurando maneiras de monetizar as florestas e os parques de conservação que temos, para dar concessões ao setor privado a fim de criar empregos e ajudar a preservar a biodiversidade”, disse ele. “Somos contra o desmatamento ilegal, mas não é fácil parar e, sim, precisamos de muita ajuda”.

bloomberg@moneytimes.com.br