Private Banks deverão se adaptar à nova era de juros baixos
Os private banks, áreas de gestão de fortunas dos bancos, procuram se adaptar aos novos tempos de juros baixos no Brasil.
Segundo Luiz Severiano, head global do Itaú Private Bank e coordenador da Comissão de Private Banking da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima), o momento exigirá maior esforço para ajustar as aplicações dos investidores ao novo cenário e orientar os clientes sobre os novos tempos de retornos menores e de maior risco.
Muitos desses clientes, alerta Severiano, não se deram conta ainda da nova realidade, ou acreditam que a queda é passageira. “É um cenário desafiador em termos macroeconômicos, de juros menores no Brasil e no mundo, com juros até negativos, e está ocorrendo uma mudança no comportamento do investidor”, afirma.
“No Brasil, é uma novidade o juro pós fixado em 6% e com expectativa de quedas, até 5%, juro real em torno de 3% dependendo do prazo”, observa. Ele participou do 7º Seminário de Private.
Situação cômoda acabou
Esse ambiente é mais desafiador para as famílias e para os private banks, pois com o juro alto e baixo risco a situação era cômoda para todos, admite Severiano. “Em um ambiente de juro mais baixo, os bancos precisam se mexer, precisam ficar mais sofisticados e é muito mais desafiador oferecer um investimento de mais longo prazo, mais sofisticado ou de maior risco como bolsa do que uma aplicação de renda fixa pós-fixada de risco zero”, afirma.
Cliente private ainda não está preparado para o juro baixo
Severiano observa também que o cliente de private banking não está preparado para essa queda dos juros. “Como ainda tivemos ganhos este ano em renda fixa com a queda dos juros em papéis do governo e em multimercados, o rendimento médio caiu de 14% ao ano para 10%, um retorno ainda razoável, mas daqui para frente a situação vai mudar e o ganho será bem menor para quem ficar só na renda fixa”, alerta.
Segundo ele, muitos investidores de alta renda ainda não perceberam a mudança, por conta desses ganhos extraordinários desta fase de ajuste dos juros. “Só os mais conservadores, que estavam totalmente em juros pós-fixados, CDI ou Selic, aplicações que acompanharam a queda dos juros para 6% ao ano, é que já perceberam a mudança”, diz. “Muitos ainda não tomaram consciência desse impacto, ou acham que em algum momento a situação do país pode piorar de novo pois o dólar subiu, e os juros vão voltar a subir”, explica Severiano.
Juro não deve voltar aos níveis do passado
O executivo diz que os juros até podem voltar a subir nos próximos anos, mas não voltaram aos dois dígitos, muito menos aos 14,25% ao ano de dois anos atrás. Essa opinião é reforçada por Carlos Kawall, economista-chefe do Safra e membro do Grupo Consultivo Macroeconômico da Anbima.
Para ele, o movimento de taxas de juros mais baixas não é passageiro. No entanto, ele ponderou que os clientes do private não compartilham da mesma visão: “há relutância deles em aceitar que a queda dos juros veio para ficar”, disse.
O motivo são as lembranças do passado: os investidores se recordam de quando a Selic começou a cair no final de 2011 e logo voltou a subir em 2013. As razões para a queda dos juros em 2011 e hoje, porém, são bem diferentes, e tem razões muito mais estruturais. “Há um ambiente mundial de juros baixos e até negativos no mundo inteiro que tem impacto no Brasil”, lembra Severiano.
Investidor terá de adaptar seus gastos à nova realidade
Segundo ele, em alguns casos em que o patrimônio do investidor é menor, ele terá de adaptar seu orçamento aos novos tempos de ganhos menores. “Havia um ambiente muito benéfico, de alto rendimento com baixo risco, que acabou”, diz. Nesse novo ambiente, o investidor que valores mais altos terá de adaptar sua carteira aos novos tempos de ganhos menores. Mas os que têm um patrimônio menor, de R$ 10 milhões, por exemplo, e podiam sacar R$ 600 mil por ano, agora poderão sacar R$ 300 mil.
“E isso terá impacto em seu orçamento”, afirma. “Pode ser que o cliente tenha que mudar o modelo de vida dele e não apenas o portfólio”, diz Severiano.
Segundo ele, a expectativa para este ano para o setor de private é de um crescimento modesto, acompanhando o juro do CDI. O segmento fechou o primeiro trimestre com um patrimônio de R$ 1,3 trilhão, em meio a mudanças no perfil dos investimentos, com a renda fixa perdendo importância e os ativos de bolsa, investimentos alternativos e juro real ganhando.
É um amadurecimento da indústria que exige uma capacitação técnica cada vez maior, não só dos profissionais como todos que trabalham no setor, afirma