Opinião

Primeira fase do acordo comercial EUA-China pode provocar uma corrida no petróleo

06 nov 2019, 12:25 - atualizado em 06 nov 2019, 12:25
Primeira fase vem impulsionando índices S&P 500 e Nasdaq até suas atuais máximas históricas e deixando o Dow Jones mais amplo (Imagem: REUTERS/Jessica Lutz)

petróleo fechou em alta pelo terceiro dia consecutivo nesta terça-feira. E, pelo terceiro dia consecutivo, alguns investidores e traders ficaram com a pulga atrás da orelha querendo saber o que teria mudado de forma tão drástica na oferta e na demanda de óleo e produtos derivados a ponto de justificar uma valorização de quase 6% desde o fechamento de quinta-feira.

WTI Gráfico de 60 minutos
WTI Gráfico de 60 minutos

Evidentemente, todos os participantes do mercado sabiam qual era o principal vetor por trás da ação dos preços, mas o que deixou os pessimistas incomodados com o rali foi: até quando o mercado continuará subindo por causa de uma promessa utópica?

Essa promessa é a chamada “primeira fase” do acordo comercial entre EUA e China, que vem tomando conta de praticamente todas as manchetes do mercado desde sexta-feira, impulsionando não só os índices S&P 500 e NASDAQ até suas atuais máximas históricas, mas também o índice Dow mais amplo – um feito que ocorreu pela última vez em julho.

Esforço concentrado para levantar o mercado

O que não faltou foi esforço por parte das autoridades de ambos os país nos últimos dias para instigar a especulação da mídia em torno de um acordo.

Desde o início desta semana, negociadores não identificados de ambos os lados vazaram à imprensa planos de recuar na aplicação de mais tarifas do que se esperava inicialmente. Quando isso virou notícia, o mercado acionário instantaneamente registrou novas máximas históricas, trazendo consigo os preços do petróleo.

Até mesmo o ouro, que serve de proteção para as ações, disparou nos últimos dias, na contracorrente do mercado mais amplo.

O comportamento apresentado pelo petróleo norte-americano West Texas Intermediate e pelo britânico Brent, em especial, deu a impressão de que a primeira fase do acordo já havia sido assinada e estava prestes a gerar uma demanda de milhões de novos barris de petróleo e produtos derivados no mercado.

Só que não: nem o acordo comercial foi fechado nem a demanda implícita deu as caras. Mas foi fácil ver por que os touros do petróleo estavam tão animados com tudo isso.

Um início promissor de 2019 que acabou não acontecendo

Depois de um promissor início de ano, em que a cotação do petróleo chegou a subir quase 50% em determinado momento, a commodity acabou ficando presa em uma frustrante consolidação de preços.

Até mesmo a histeria causada pelo ataque às instalações petrolíferas da Arábia Saudita em setembro se dissipou em poucos dias.

Esse acordo comercial pode ser o fator novo que os comprados no mercado tanto esperavam. Pelo menos pode ajudar o WTI a encerrar o ano com seu prêmio atual de 25% em relação a 2018.

Pode haver ganhos reais de demanda em um mercado petrolífero sem as amarras da guerra comercial.

A Rystad Energy declarou que só o impacto da guerra comercial a forçou a cortar sua previsão de crescimento da demanda de petróleo em 2019, para 1,2 milhão de barris por dia (bpd), contra uma perspectiva anterior de 1,4 milhão de bpd.

A Agência Internacional de Energia, que atua como órgão fiscalizador para os consumidores de energia do Ocidente, cortou sua projeção de crescimento de demanda petrolífera em 100.000 bpd tanto em 2019 quanto em 2020, citando preocupações com a macroeconomia mundial, que inclui a disputa comercial sino-americana.

Já a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) afirmou que sua produção de petróleo e de outros produtos energéticos deveria cair de 35 milhões de bpd, em 2019, para 32,8 milhões de bpd até 2024. Ao que tudo indica, o anúncio da Opep nada mais é do que uma estratégia para dar suporte aos preços, já que o cartel pode resolver aumentar a produção caso as condições de mercado se tornem favoráveis.

Um acordo comercial pode fazer os preços do petróleo dispararem

Artyom Tchen, analista sênior da Rystad, afirmou em agosto:

“Vale a pena levar em consideração, neste momento, o que pode acontecer com o preço do petróleo se as duas maiores economias do mundo firmarem um acordo de longo prazo. No último ano, a cotação do petróleo foi pressionada para baixo por causa de temores com a disputa comercial, com uma desaceleração econômica mundial e uma queda no crescimento da demanda.”

“Se esses temores se revelarem infundados, o mercado pode disparar.”

Uma valorização de 6% em três dias de fato é impressionante, embora o mercado tenha iniciado negativo o pregão asiático desta quarta-feira, após dados preliminares mostrarem que houve um salto nos estoques de petróleo bruto nos EUA.

Conclusão: “primeira fase” precisa deixar de ser uma promessa e se tornar realidade

É preciso ressaltar que o petróleo pode apresentar ganhos extraordinários com um possível acordo comercial.

Ao contrário do mercado acionário, onde uma combinação de alguns fatores positivos pode desencadear e muitas vezes sustentar uma máxima recorde atrás da outra, o petróleo é uma commodity física com uma demanda e uma oferta específicas.

Sem eventos concretos de mercado, capazes de drenar os estoques ou gerar choques de oferta, os rumores não contam muito no petróleo. Palavras vazias, aliás, podem acabar fazendo o mercado cair.

Por isso, se de fato a primeira fase estiver prestes a ser fechada, é melhor que os investidores sejam rápidos.

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