Previdência: por Saramago e Quintana
Por Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial Research
Pronto! A sociedade que mais se apegou às falsas dicotomia achou a nova discussão. Evoluímos. Há pouco tempo, discutíamos sobre exposições de arte (?) e as supostas linhas entre a liberdade e a invasão.
Agora discutimos sobre a solvência de longo prazo. O fim do coronelismo. A eliminação do Estado cumprindo papel de arrimo de uma sociedade que ficou marcada por protestar contra o governo, enquanto exigia do próprio a solução dos problemas individuais.
Ah, mas a Reforma encolheu. Não existe reforma ideal. Existe a reforma possível, e nenhuma das que são, em tese, politicamente viáveis, serão suficientes. Mas por mais que tenhamos uma vontade incontestável de repetir que Deus é brasileiro, este milagre nem Ele será capaz de fazer. A multiplicação do dinheiro!
Estamos ficando velhos. Uma massa cada vez maior de inativos deve, neste modelo arcaico, obsoleto e insolvente, ser sustentado por uma quantidade menor de trabalhadores. Um mundo em revolução sob a ótica da mão-de-obra e na luta pela eficiência.
Ainda temos vergonha de ser um país do agronegócio. Perdemos um pouco este sentimento, é fato, quando temos super safra e superávit da balança. Resquícios da hipocrisia ou da memória seletiva!
Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida” no teu seio “mais amores.”
Como podemos tentar a industrialização, que tantos defendem como atalho para o primeiro mundo, se não somos capazes de desenhar um modelo meritocrata de relações trabalhistas, economicamente viável e que distribua renda a partir da geração de riqueza para aqueles que efetivamente contribuem para a economia e, por consequência, para a nação.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
De nada adianta, um povo, ou um amontoado daqueles que se intitulam representantes do povo, que na realidade quer mais é viver “deitado eternamente em berço esplêndido“. Realmente seremos capazes de ver que os “filhos teus não fogem à luta, muito menos temem quem os adora, a própria morte“?
Direita ou esquerda? A maioria absoluta daqueles que bradam contra um ou outro destes lados, não tem a menor idéia do que estes tais lados significam. É dura, mas inequívoca a verdade de que somos uma nação sem ideologia. Somos infantes: seja porque somos filhos de Reis sem direito à Coroa, ou porque ainda somos crianças, engatinhamos sociologicamente rumo à formação de uma convicção minimamente razoável de objetivo.
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce
Por quanto temos carregaremos o “karma” do país do futuro? Que ingrato este futuro. Se por um lado não chega nunca, por outro, ao que parece, quando chegar, estaremos insolventes!
Mantermo-nos infantes nos protege da insolvência. Mas o tempo, ah o tempo, este ingrato! Ele passa. E não volta! Quem está lá, supostamente no comando, estará longe, quando os efeitos da negligência definitviamente chegarem às nossas portas.
Espero e luto, com as armas que tenho, para que não sejamos responsáveis e omissos, impondo ao futuro desta nação a impetuosa verdade consequente da irresponsabilidade. Afinal, sem ter a mais rasa idéia do que havia por vir, o grande Mario Quintana escreveu algo que resume perfeitamente o sentimento que deveríamos ter em relação aos que determinarão se REFORMAMOS nosso presente, alterando nosso destino, ou não:
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!