Coronavírus

Presidente do Citi Brasil pede “senso de urgência” na vacinação

17 mar 2021, 8:52 - atualizado em 17 mar 2021, 8:52
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O Brasil, com uma população de cerca de 212 milhões de pessoas, fez algum progresso na obtenção de mais vacinas nas últimas semanas, mas a situação continua terrível (Imagem: Reuters/Nick Zieminski)

Marcelo Marangon tem ido ao prédio quase vazio do Citigroup em São Paulo desde o início da pandemia de Covid-19, confiante de que saberia o que fazer se fosse infectado. Agora, diz ele, o cenário se tornou mais assustador.

“A preocupação é que se algo acontecer, você pode não ser atendido,” disse Marangon, presidente do banco para o Brasil, em uma entrevista. “Então, de fato, agora dá medo, né? É uma situação triste e dramática.”

Uma nova onda do vírus atingiu o Brasil, que agora tem mais infecções totais do que a Índia – um país com uma população seis vezes maior. Vários hospitais estão sem espaço para novos pacientes e o sistema de saúde do país está à beira do colapso. A situação foi agravada por políticas de distanciamento social negligentes e por uma nova variante mais contagiosa que se originou em Manaus, capital do estado do Amazonas.

“Estou muito preocupado com minha família, com nossos funcionários”, disse Marangon, ao defender que o governo deve acelerar o programa de vacinação. O banco manteve 98% de seus 1.800 empregados no Brasil trabalhando de casa desde o início da pandemia e só vai reconsiderar a decisão no terceiro trimestre do ano e se a situação melhorar, disse ele.

“Eu confesso que eu vim todo o dia ao banco, eu fui me acostumando com a ideia de que é um risco que a gente está correndo, pode ser que infelizmente a gente seja infectado,” disse Marangon.

“Eu já tinha meu plano de ação, com quem falar, para quem ligar, para onde eu iria se acontecesse alguma coisa.” Mas ele ficou mais preocupado depois que mais pessoas próximas, incluindo funcionários do banco, foram infectadas e acabaram forçadas a suportar longas esperas por uma vaga em hospitais ou unidades de terapia intensiva.

O Brasil, com uma população de cerca de 212 milhões de pessoas, fez algum progresso na obtenção de mais vacinas nas últimas semanas, mas a situação continua terrível.

O Ministério da Saúde disse na segunda-feira que comprou 100 milhões de doses da Pfizer e 38 milhões da Johnson & Johnson. A entrega pode começar em abril, segundo o ministério, mas cerca de 75% das doses da Pfizer só chegarão em agosto.

Mais de 14 milhões de vacinas já foram aplicadas no Brasil, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Marangon disse que a quantidade de vacinas negociadas pelo governo nas últimas semanas representa um avanço significativo em comparação com os esforços anteriores, mas ainda há “uma ansiedade enorme” quanto aos prazos e quantidades de entrega.

“A vacinação é que vai dar o ritmo da retomada econômica — não tem outra prioridade,” disse ele, acrescentando que administrar as vacinas é mais importante até do que as reformas para trazer de volta o crescimento e a estabilidade fiscal. “Estamos atrasados ​​no processo. Precisamos de um senso de urgência.”

O Citigroup no início de 2021 estimou que o crescimento econômico do Brasil seria de 3,5% a 4% para o ano, mas desde então revisou a estimativa para 3%. Marangon disse que mesmo essa projeção está sob revisão para baixo.

Ao mesmo tempo, a inflação está acelerando não por causa do excesso de demanda, mas porque os preços das commodities estão subindo em todo o mundo, disse ele. Isso significa que outras nações estão se recuperando enquanto a economia do Brasil continua estagnada. O real mais fraco, decorrência da falta de confiança no Brasil, também está empurrando os preços para cima, disse ele.

“Isso gera inflação sem crescimento – uma situação muito delicada”, disse Marangon, acrescentando que somente mais vacinas permitirão que a economia se recupere e gere empregos.

A visão pessimista de Marangon para o crescimento da economia do Brasil contrasta com as ambições da empresa para os negócios que ele supervisiona.

“O Brasil é nossa prioridade na América Latina e vamos acelerar o crescimento em alguns negócios”, disse. O Citigroup, com sede em Nova York, está planejando aumentar o quadro de funcionários este ano, depois de manter o número estável no Brasil em 2020, disse ele.

Uma das metas de expansão é na área de banco de investimentos no Brasil, bem como nos negócios que atendem empresas com receita de R$ 500 milhões a R$ 5 bilhões.

Marangon disse que também espera dobrar o total de ativos sob gestão no private banking nos próximos três a quatro anos, mas não quis dizer quanto o banco administra hoje no país. No ano passado, o Citigroup trouxe Eduardo Estefan Ventura para dirigir o negócio de private banking no Brasil.

O lucro do Citigroup caiu 4%, para R$ 1,4 bilhão no ano passado, após um aumento nas provisões para empréstimos inadimplentes. Ainda assim, os empréstimos aumentaram 37%, à medida que o banco aproveitou a chance de emprestar mais para grandes empresas que lutavam por liquidez durante a turbulência induzida pela pandemia.

O banco também abocanhou uma parcela maior dos investimentos dessas empresas, gerando um salto de 60% nos depósitos no Brasil durante o ano. Os ativos totais alcançaram R$ 104 bilhões, um aumento de 13%.

Marangon disse que o Citigroup não tem planos para grandes aumentos nas provisões para empréstimos inadimplentes este ano. E disse que espera que um ritmo de vacinação mais rápido ajude a desbloquear os mercados de capitais, impulsionando o negócio de banco de investimento. O retorno sobre o patrimônio líquido ajustado no Brasil foi de 14,1% em 2020, em comparação com 5,9% globalmente.

“Tivemos um ano muito bom no Brasil em 2020, mas isso não é algo que você pode comemorar no ambiente em que vivemos”, disse Marangon.

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