Presidente do BoE alerta: mercados precisam agir mais rápido contra mudança climática
Os mercados financeiros têm sido muito lentos para reduzir o investimento em combustíveis fósseis, um atraso que pode levar a um aumento acentuado das temperaturas globais, disse o presidente do banco central britânico, Mark Carney, em entrevista divulgada nesta segunda-feira.
Carney, que deve se tornar o enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para as mudanças climáticas no próximo ano após deixar o comando do Banco da Inglaterra (BoE), disse à rádio BBC que o aquecimento global pode tornar os ativos de muitas empresas financeiras sem valor.
Carney citou uma análise de fundos de pensão que mostrou que as políticas das empresas apontam para um aquecimento global de 3,7 a 3,8 graus Celsius, em comparação com a meta de 1,5 grau estabelecida no Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas.
“A preocupação é se passaremos mais uma década fazendo coisas importantes, mas não o suficiente… e passaremos pela marca de 1,5ºC muito rapidamente”, disse Carney em um programa de rádio especialmente editado pela ambientalista adolescente Greta Thunberg.
“Como consequência, o clima se estabilizará em um nível muito mais alto”, acrescentou.
Carney disse que o setor financeiro fez muitos progressos na divulgação dos riscos das mudanças climáticas, mas alertou que o progresso não tem sido rápido o suficiente.
Ele pediu aos líderes políticos que efetuem mudanças hoje e evitem informações seletivas.
“Para cumprirmos a meta, é preciso haver um entendimento compartilhado sobre o que é necessário.(Mas) é razoável haver debates sobre onde o papel do Estado acaba e qual é o papel dos mercados”, disse Carney.
Ele disse que seria necessário haver uma mistura de investimentos públicos e mudanças impulsionadas pelos mercados financeiros por causa de seu poder de refletir julgamentos sobre o valor futuro dos ativos em um mundo afetado pelas mudanças climáticas.
No início deste mês, o BoE disse que os principais bancos e seguradoras do Reino Unido deveriam ser testados juntos pela primeira vez em 2021 para quantificar o possível dano financeiro causado pelas mudanças climáticas em seus negócios.