Presidente do BCE teme perda de independência de bancos centrais
A independência dos bancos centrais está sendo questionada em algumas partes do mundo e uma maior influência política poderia prejudicar sua capacidade de manter a inflação baixa, disse a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, nesta segunda-feira (27).
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na semana passada que exigiria que o Federal Reserve reduza os custos dos empréstimos, alegando que conhece a taxa de juros muito melhor do que as pessoas encarregadas de tomar decisões sobre ela.
“Embora pesquisas recentes sugiram que a independência de jure dos bancos centrais nunca foi tão predominante como é hoje, não há dúvida de que a independência de fato dos bancos centrais está sendo questionada em várias partes do mundo”, disse Lagarde em uma conferência do banco central húngaro.
O Fed deve manter a taxa de juros nesta semana, mesmo que o BCE provavelmente faça uma redução, argumentando que a inflação está caindo apenas lentamente e que algumas propostas do governo Trump podem, na verdade, aumentar as pressões sobre os preços, provavelmente atraindo críticas da Casa Branca.
Enquanto isso, Lagarde advertiu que a interferência política pode levar a um “círculo vicioso” que poderia resultar no enfraquecimento da independência dos bancos centrais.
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“A influência política sobre as decisões dos bancos centrais também pode contribuir substancialmente para a volatilidade macroeconômica”, disse Lagarde em um discurso em vídeo na Hungria, onde o aliado político do primeiro-ministro Viktor Orban, o ex-ministro das Finanças Mihaly Varga, foi nomeado como o próximo presidente da autoridade monetária a partir de março.
Lagarde disse que a pressão política persistente sobre um banco central aumenta a volatilidade da taxa de câmbio e eleva os rendimentos dos títulos e os prêmios de risco.
Esse tipo de volatilidade pode tornar mais difícil manter a inflação baixa, aumentando as preocupações de que os bancos centrais independentes não estejam cumprindo seus mandatos, disse Lagarde.
Essa sequência de eventos, segundo ela, poderia minar o consenso social e ampliar ainda mais a volatilidade na economia.