Coronavírus

Presidente da Fiocruz vê medidas de relaxamento no Rio com preocupação

02 jun 2020, 18:21 - atualizado em 02 jun 2020, 18:21
Nísia Trindade Lima
Segundo a presidente, as medidas são duras e representam um remédio amargo e, por isso, é necessário envolvimento da sociedade (Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade Lima, vê com preocupação as medidas de relaxamento nas restrições adotadas na cidade do Rio de Janeiro no combate à pandemia do novo coronavírus (Sars- CoV2).

Para ela, não se pode reduzir as medidas sem a garantia de um forte sistema de vigilância ativa que vai precisar ser instituído.

Segundo a presidente, as medidas são duras e representam um remédio amargo e, por isso, é necessário envolvimento da sociedade.

“Vejo com muita preocupação a redução das medidas de isolamento. Vejo com muita preocupação a situação de áreas vulneráveis, favelas. Tem tido uma atuação muito grande a partir de redes em que a academia e articuladores de movimentos sociais em favelas e outros grupos vulneráveis para pensar políticas. Vejo uma preocupação muito também com a Região Norte do país onde o efeito tem sido devastador da pandemia atingindo áreas indígenas”, disse a presidente durante um debate transmitido pelo Facebook, promovido pelas Comissões de Ciência e Tecnologia e de Educação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, presididas pelos deputados Waldeck Carneiro (PT) e Flávio Serafini (Psol).

Os parlamentares também demonstraram preocupação com as medidas de relaxamento das restrições no Rio.

A reabertura das atividades econômicas no Rio teve início hoje (2), conforme anunciado ontem pelo prefeito Marcelo Crivella.

O plano completo, com seis fases de 15 dias cada, prevê a normalização de todas as atividades em agosto. Mas as fases podem ser estendidas ou encurtadas, de acordo com a avaliação do Comitê Científico que assessora a prefeitura na crise da pandemia de covid-19.

Parâmetros internacionais

A presidente lembrou de parâmetros que têm sido acordados por fóruns da Organização Mundial de Saúde (OMS) e aplicados com algumas diferenças entre os países.

Além disso, existe uma comunidade de especialistas  dedicada ao tema no Brasil.

“Na Fiocruz esse é um tema constante no nosso Observatório dedicado à covid-19. Então, o risco vai continuar a existir na medida em que a população não tem uma imunidade para este vírus, por um período que nós nem podemos determinar com exatidão”, afirmou.

“No caso do Rio de Janeiro, estamos ainda na subida da curva, então, são parâmetros também do sistema de saúde dar resposta, principalmente, nos leitos de UTI”.

Ela destacou os países que estão adotando medidas de relaxamento, e muitos vem fazendo isso de acordo com a evolução da pandemia, adotam níveis de cautela para entrar nessa fase.

“Acho que a Alemanha é um exemplo clássico disso”, destacou, lembrando que há imensas diferenças entre o país europeu e o Brasil e que, portanto, não se poderia repetir as experiências da mesma forma.

A presidente afirmou, entretanto, que há exemplos na Índia, onde as políticas são bem conduzidas e podem ser levadas em consideração.

Coronavírus - Testes
Para a presidente, a produção da vacina contra a covid-19 é fundamental e um grande desafio para a proteção da sociedade (Imagem: REUTERS/Rodolfo Buhrer)

“Acho que isso tem que ser olhado de acordo com o momento epidêmico sem dúvida nenhuma e ainda estamos, no caso do Rio de Janeiro, em subida da curva. Os parâmetros que tem que ser adotados são os de redução sustentada de casos, de possibilidade do sistema de saúde dar resposta, principalmente, através de estrutura de leitos de UTI para os casos que agravam”, disse, acrescentando que a testagem, a atuação da estratégia da saúde da família e dos agentes comunitários fazendo vigilância, são fundamentais nesse momento.

Vacina

Para a presidente, a produção da vacina contra a covid-19 é fundamental e um grande desafio para a proteção da sociedade. Um grupo de pesquisa da Fiocruz de Minas Gerais está dedicado à produção de uma vacina, levando em conta a urgência, a eficácia e a segurança.

“Nessa perspectiva, estamos discutindo com o departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério de Saúde e a Secretaria de Vigilância em Saúde um painel de vacinas promissoras candidatas, vendo aquelas que estão em estágio mais avançado construindo uma matriz sobre isso, para que se possa tomar uma decisão sobre quais caminhos o Brasil deve seguir nessa área, levando em conta a necessidade de ter uma vacina no prazo mais curto possível, sua eficácia e segurança”, informou.

Além da descoberta da vacina também está em discussão sua produção no Brasil.

“Sem dúvida nenhuma Bio Manguinhos [Instituto de Tecnologia em Imunológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz)] e a Fiocruz teriam um papel fundamental na produção dessa vacina. Estamos, nesse momento, na construção desses caminhos, avaliando com o Ministério da Saúde todas as propostas de quais vacinas podem ser produzidas no país”, indicou.

Segundo a presidente, não se pode esquecer que a construção do Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (Cibs), previsto para ser inaugurado em 2023, em Santa Cruz, na zona oeste do Rio, vai permitir um avanço do Brasil na produção de vacinas e biofármacos.

“É muito importante colocar essa questão do futuro do país e que tem a ver com a capacidade de reversão industrial na produção. Temos um projeto de futuro e é fundamental de fazer nesse momento”, concluiu.

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