Copa do Mundo

Presidente da Fifa acusa críticos do Catar de hipocrisia antes da Copa do Mundo

19 nov 2022, 13:46 - atualizado em 19 nov 2022, 13:46
Fifa Catar
Presidente da Fifa, Gianni Infantino, tenta criar empatia ao falar sobre críticas contra o Catar, país-sede da Copa do Mundo (Imagem: REUTERS/Hamad I Mohammed)

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, chamou de hipócritas as pessoas que criticam o Catar, anfitrião da Copa do Mundo, por seu tratamento aos trabalhadores migrantes; Para ele, o engajamento é a única maneira de avançar na questão dos direitos humanos.

Em uma declaração longa, e às vezes enfurecida, na abertura de uma entrevista coletiva às vésperas do início da Copa do Mundo, Infantino se dirigiu aos críticos europeus do país sede sobre as questões de trabalhadores estrangeiros e direitos LGBT.

“Eu sou europeu. Pelo que temos feito ao longo de 3 mil anos ao redor do mundo, nós deveríamos pedir desculpas pelos próximos 3 mil anos antes de darmos lições de moral”, disse Infantino.

“Eu tenho dificuldades para entender as críticas. Temos de investir em ajudar essas pessoas, na educação e para oferecer a elas um futuro melhor e com mais esperança. Deveríamos nos educar, muitas coisas não são perfeitas, mas a reforma e a mudança levam tempo. Essa lição de moral unilateral é só hipocrisia”, afirmou.

“Não é fácil aceitar críticas sobre uma decisão que foi tomada há 12 anos. Doha está pronta, o Catar está pronto e é claro que será a melhor Copa do Mundo da história.”

Infantino falou sobre sua própria experiência como filho de trabalhadores migrantes crescendo na Suíça, e disse que teria sofrido assédio e ataques por ser italiano e por ter cabelo ruivo e sardas.

“Eu sei o que é ser discriminado, eu sei o que é sofrer bullying”, declarou. “O que você faz? Você começa a se envolver, é isso que deveríamos estar fazendo… o único jeito de conseguirmos resultados é nos envolvendo.”

“Eu acredito que as mudanças que aconteceram no Catar talvez não acontecessem, ou pelo menos não nessa velocidade, sem a Copa. Obviamente, precisamos manter a pressão, obviamente precisamos tentar melhorar as coisas.”

Porém, as declarações provocaram uma repercussão entre defensores dos diretos humanos.

“Ao varrer para o lado as críticas legítimas ligadas aos direitos humanos, Gianni Infantino está dispensando o preço imenso pago pelos trabalhadores imigrantes para fazer esse torneio emblemático – assim como a responsabilidade da Fifa por ele”, afirmou Steve Cockburn, da Anistia Internacional.

Cockburn disse que as demandas por compensações justas não deveriam ser “tratada como algum tipo de guerra cultural”.

“Me sinto gay”, diz presidente da Fifa

Infantino também causou surpresa neste sábado ao tentar demonstrar empatia com grupos marginalizados, dizendo a jornalistas: “eu me sinto gay… me sinto como um trabalhador migrante”.

Infantino abriu a tradicional entrevista coletiva pré-Copa do Mundo no sábado com um longo monólogo rebatendo os críticos ao Catar, que sedia o torneio, por conta do histórico do país em relação aos direitos humanos.

“Hoje, me sinto catari. Hoje me sinto árabe. Hoje me sinto africano. Hoje me sinto gay. Hoje me sinto deficiente. Hoje me sinto como um sem-teto, hoje me sinto como um trabalhador migrante”, disse.

“Eu sinto tudo isso porque o que eu vejo…me leva de volta à minha história pessoal.”

“É claro, eu não sou catari, eu não sou árabe, eu não sou africano, eu não sou gay, eu não sou deficiente”, acrescentou depois. “Mas eu me sinto assim, pois eu sei o que significa ser discriminado, ser vítima de bullying, como um estrangeiro em um país diferente.”

Os direitos LGBT têm sido uma questão sensível para os críticos da Copa no Catar, já que as relações entre pessoas do mesmo sexo são ilegais e puníveis com até três anos de prisão no Catar.

“A julgar pelas redes sociais, seus comentários de que você se sente gay causaram a surpresa para muitos na comunidade homossexual”, apontou um jornalista antes de fazer uma pergunta a Infantino.

“Porque, você está dizendo que, se você realmente fosse gay, você não poderia dizer isso porque estaria admitindo efetivamente uma ilegalidade.”

O diretor de relações de imprensa da Fifa, Bryan Swanson, no entanto, concluiu a entrevista coletiva com uma mensagem pessoal de apoio ao chefe.

“Eu vi muitas críticas a Gianni Infantino desde que cheguei à Fifa, especialmente da comunidade LGBTI”, disse. “Estou aqui em uma posição privilegiada, num palco global como um homem gay aqui no Catar. Ele recebeu garantias de que seria bem vindo… só porque Gianni Infantino não é gay, não significa que ele não se importa. Ele se importa.”

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