Economia

Presidente acelerado do BC enfrenta economia estagnada

16 set 2019, 14:49 - atualizado em 16 set 2019, 14:49
Roberto Campos Neto
O atual presidente do BC já trouxe duas grandes surpresas para investidores durante sete meses no comando (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O Banco Central costumava usar uma frase favorita em seus comunicados, alertando que a política monetária devia ser conduzida com “cautela” e “serenidade”.

Roberto Campos Neto, que chegou ao comando do BC depois de trabalhar no mundo não muito sereno do mercado de câmbio, eliminou a frase, o que pode fornecer uma pista sobre o resto do seu mandato.

O executivo de 50 anos estava acostumado a agir rapidamente e assumir riscos quando era chefe da rentável divisão de tesouraria global do Banco Santander. Campos Neto parece ter trazido esse ethos para o pacato mundo da política monetária, onde os desafios são muito diferentes.

O maior deles para Campos Neto é impulsionar a economia – que escapou por pouco de entrar em recessão no último trimestre – sem comprometer o sucesso de seu antecessor em ancorar as expectativas de inflação.

O atual presidente do BC já trouxe duas grandes surpresas para investidores durante sete meses no comando. Campos Neto reduziu a taxa básica de juros mais do que o esperado, iniciando o que provavelmente será um ciclo de cortes. E vendeu dólares das reservas internacionais pela primeira vez em uma década.

Visão mais ousada

“Desde o início, a atitude de Campos Neto tem sido diferente”, disse Sergio Machado, sócio da gestora de recursos SF2 Investimentos. “A decisão sobre as reservas internacionais mostrou uma visão mais ousada, típica de um trader.”

Pelo menos parte da mudança provavelmente tem a ver apenas com estilo.

Jogador de tênis e fã de tecnologia que vai para a academia quase todos os dias e já estudou blockchain, Campos Neto representa um leve contraste em relação ao mais cerebral e sedentário antecessor Ilan Goldfajn, economista com doutorado pelo MIT.

No entanto, ninguém espera que o novo presidente do BC arrisque arruinar o sucesso de Goldfajn no controle sobre os preços ao consumidor.

Depois de saltar para mais de 10% em 2015 e 2016, quando a economia foi atingida pela pior recessão em um século, a inflação desacelerou para 3,4% – bem abaixo da meta de 4,25% do BC, e deve ficar nesse nível.

A inflação estável pode dar a Campos Neto espaço para perseguir outros objetivos, que são muitos.

Seu principal mandato é a estabilidade de preços. Mas o status incomum do Banco Central – que não é totalmente autônomo e seu presidente pode propor leis – pode abrir caminho para um papel mais amplo.

Empréstimos exorbitantes

Campos Neto, que não quis dar entrevista para este artigo, prometeu um projeto de lei que garantiria a autonomia do BC. (Goldfajn também tentou, mas não conseguiu apoio suficiente do Congresso.)

Em um objetivo mais amplo, Campos Neto enfatiza a necessidade de modernizar o ambiente de negócios no Brasil. Um pesadelo são as regras do mercado de câmbio, que datam da década de 1920 e estipulam que uma importação só pode ser registrada e paga depois de entrar no país.

O presidente do BC também quer trazer mais tecnologia, inovação e concorrência para o setor bancário – uma rede emaranhada com vários tipos de crédito e juros muitas vezes exorbitantes. É comum encontrar taxas de 200% ou mais para alguns tipos de empréstimo.

“Ele tem se concentrado muito na melhoria das condições de empréstimo e na modernização do Banco Central”, disse Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. “Podemos realmente ver sua influência.”