Preocupações do Fed crescem à medida que ameaças tarifárias de Trump aumentam
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As autoridades do Federal Reserve continuam incertas quanto ao impacto que as tarifas prometidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem ter sobre a inflação, mas começaram a delinear riscos mais sérios para as cadeias de suprimentos, as expectativas da população e para os preços, à medida que o escopo dos planos para as taxas se torna mais claro.
A guerra comercial deflagrada durante o primeiro mandato de Trump acabou levando o Fed a reduzir a taxa de juros porque, em vez de fomentar a inflação, as perspectivas de crescimento global e dos EUA começaram a se deteriorar.
Porém, com um episódio de inflação alta ainda recente, com os consumidores gastando e com uma maior sensibilidade do Fed em relação a como as distorções no fornecimento podem criar uma inflação persistente, a abrangência e a extensão dos planos de Trump estão causando preocupação.
A abordagem fragmentada do governo pode ser particularmente prejudicial, dizem as autoridades do Fed, à medida que as empresas e os consumidores se ajustam a uma perspectiva que parece imprevisível e preparada para preços mais altos.
Até o momento, Trump aumentou as tarifas sobre os produtos chineses, adiou outras sobre México e Canadá, estabeleceu tarifas sobre aço e alumínio importados a partir do mês que vem e orientou sua equipe a elaborar tarifas para qualquer país que imponha barreiras sobre os produtos dos EUA.
Os membros do Fed temem que as medidas possam causar um aumento nas expectativas de inflação da população, o que ameaçaria aumentos de preços mais crônicos no futuro.
“A maioria das tarifas leva a um choque único e depois o mundo segue em frente”, disse o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, neste mês. Mas se o debate, a implementação e a retaliação se estenderem ao longo do tempo e começarem a afetar as expectativas de inflação, “seria apropriado reagir” por meio da política monetária.
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Nem todas as autoridades do Fed estão tão preocupadas.
O diretor Christopher Waller disse na segunda-feira que não espera que as tarifas desencadeiem uma inflação persistente e acredita que as autoridades devem responder aos dados que têm diante de si. Esperar por uma certeza perfeita, mesmo em tempos voláteis, “é uma receita para a paralisia”, disse Waller.
A ata da reunião de janeiro do Fed, que será divulgada nesta quarta-feira (19), pode fornecer mais detalhes sobre os debates das autoridades a respeito da agenda prometida por Trump.
A reunião ocorreu apenas uma semana após a posse de Trump, mas a incerteza já estava aumentando e contribuiu para a relutância dos membros em reduzir ainda mais os juros até que eles tenham mais informações sobre como as políticas de Trump afetarão a economia.
As autoridades do governo argumentam que seus planos, que também incluem cortes de impostos, desregulação e repressão à imigração, reduzirão a inflação, uma visão que não é amplamente compartilhada pelos economistas.
Um artigo recente de pesquisadores do Fed de Boston concluiu que as tarifas de 25% sobre México e Canadá e de 10% sobre a China acrescentariam 0,8 ponto percentual à inflação, o que prejudicaria as perspectivas do Fed.
Mas essa estimativa, segundo o documento, não inclui os inúmeros ajustes que as tarifas provocariam: os consumidores podem substituir os produtos ou reduzir a demanda; as empresas podem assumir o custo ou repassá-lo; outros países podem retaliar; e as taxas de câmbio e de juros globais serão ajustadas.
“Acredito que as empresas estão mais propensas a repassar as pressões de custo do que há cinco anos”, disse o presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, em janeiro. Uma vez iniciado esse processo, “é preciso se preocupar com as expectativas”, já que as lembranças da inflação continuam frescas entre os consumidores.
Até o momento, as autoridades do Fed afirmam que não veem os consumidores ou os mercados perdendo a confiança na capacidade e na disposição do banco central de retornar a inflação para 2%. Com a taxa no que eles ainda consideram um nível “restritivo”, eles veem o cenário pronto para que as pressões de preços diminuam.
Mas podem estar surgindo sinais de alerta. A pesquisa mensal da Universidade de Michigan mostrou um salto nas expectativas de inflação dos consumidores, embora uma pesquisa semelhante do Fed de Nova York tenha sido moderada.