Combustíveis

Interferência política pressiona ações da Petrobras

14 jan 2021, 13:43 - atualizado em 14 jan 2021, 14:01
Petrobras
Nesta quinta-feira, as ações preferenciais da Petrobras operavam em alta de 0,45% por volta das 13:20 (Imagem: YouTube/Petrobras)

Crescentes preocupações com possíveis interferências políticas sobre a independência da Petrobras (PETR4) para reajustar preços dos combustíveis pesaram sobre as ações da companhia na quarta-feira, disseram analistas de bancos, após os papéis terem recuado quase 5%.

Rumores sobre uma possível greve de caminhoneiros, que aumentaria a pressão sobre a estatal, também ajudaram no desempenho negativo das ações na véspera, que caíram mais que o barril do petróleo Brent, referência internacional (-0,9%), de acordo com relatórios.

Os temores surgiram após importadores menores terem apresentado ofício ao órgão antitruste Cade na semana passada acusando a empresa de práticas de valores de combustíveis “predatórias”. E notícias na imprensa apontando uma possível nova greve de caminhoneiros para 1º de fevereiro aumentaram a tensão.

Analistas do BTG (BPAC11) e da XP (XP) , entretanto, ponderaram acreditar que a política de preços de combustíveis Petrobras tem sido coerente e que a administração da petroleira segue livre para decidir sobre as cotações.

Na véspera, o Valor Econômico publicou entrevista com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, onde ele rebateu as acusações de que a estatal venha segurando o reajuste dos preços dos combustíveis para prejudicar as empresas privadas concorrentes.

“As ações da Petrobras tiveram desempenho fortemente inferior (na véspera) ao de seus pares globais, bem como do Brent ontem, o que acreditamos estar pelo menos parcialmente relacionado às crescentes preocupações de que a independência da política de preços da Petrobras esteja em xeque”, afirmou a equipe de análise do BTG em relatório nesta quinta-feira.

Eles pontuaram, no entanto, que a petroleira tem conseguido adotar preços de paridade de importação com sucesso desde o fim de 2018, apesar de evitar repassar volatilidade ao mercado interno.

“Nosso cenário básico ainda é que a Petrobras permanecerá livre para definir preços e em breve começará a ajustá-los. Dito isso, os riscos de inflação e greves de caminhoneiros obviamente também aumentam o risco de que uma solução ‘fácil’ possa ser considerada”, disseram analistas do BTG.

A XP investimentos foi na mesma linha, dizendo acreditar que “o mercado pode ter reagido de forma exagerada às notícias”.

“Em primeiro lugar, embora os preços da gasolina e diesel da Petrobras estejam abaixo das referências internacionais, notamos que isso só é aconteceu nos últimos 6 dias (desde 7 de janeiro), o que não acreditamos ser um período significativo para formar conclusões sobre a política de preços da Petrobras”, escreveram os analistas em relatório na noite de quarta-feira.

A equipe da XP também citou que órgãos do governo não teriam identificado grande risco de uma greve geral de caminhoneiros em fevereiro.

Segundo os cálculos do BTG, a Petrobras estaria vendendo gasolina no mercado doméstico a preços 21% abaixo da paridade de importação, enquanto o diesel estaria com desconto de 14%, após uma recente alta nos preços internacionais do petróleo.

Na entrevista ao Valor, o presidente da Petrobras negou que a estatal esteja segurando reajustes e disse considerar insinuações nesse sentido uma “ofensa profissional” e ele e à equipe econômica do governo.

“O controle de preços já foi remetido ao museu de armas ineficazes no combate à inflação”, disse ele, de acordo com o jornal.

Nesta quinta-feira, as ações preferenciais da Petrobras operavam em alta de 0,45% por volta das 13:20 (horário de Brasília), contra avanço de 0,85% do Ibovespa, enquanto o petróleo Brent recuava cerca de 0,9%.