São Paulo

Prédio de 26 andares em chamas desaba no centro de São Paulo

01 maio 2018, 11:34 - atualizado em 01 maio 2018, 11:41
O edifício, que ficava na avenida Rio Branco, na região do Largo do Paissandu, era ocupado por um movimento social de defesa ao direto a moradia. – Direitos reservados Corpo de Bombeiros de São Paulo

Um prédio de 26 andares no centro da capital paulista, onde viviam 50 famílias, desabou em chamas por volta das 3 horas de hoje (1º), após ter sido atingido por um incêndio. O edifício, que ficava na Avenida Rio Branco, na região do Largo do Paissandu, era ocupado por um movimento social de defesa ao direto a moradia.

O Corpo de Bombeiros confirmou, até o momento, que uma pessoa morreu. Não há informações oficiais sobre o número de desaparecidos. Uma faixa da avenida Rio Branco foi tomada pelos escombros do edifício que desabou.

Um segundo prédio, próximo ao que desabou, também foi atingido pelo incêndio. O edifício, no entanto, estava vazio e as chamas estão restritas a um único andar. Cerca de 160 membros do Corpo de Bombeiros atendem a ocorrência.

Rovena Rosa/Agência Brasil_01/05/2018

O presidente da República, Michel Temer, esteve nesta manhã na região. Ele afirmou que o prédio é da União e colocou o governo federal à disposição do governo de São Paulo e da prefeitura da capital paulista para “o que seja possível”. Temer já estava em São Paulo, onde passa o feriado do Dia do Trabalho.

Segundo Temer, serão tomadas providências para dar assistência às vítimas e às famílias que ficaram desabrigadas. “A situação é dramática, tanto que aconteceu o que aconteceu. Mas nós vamos exatamente providenciar assistência àqueles que foram vítimas desse desastre. Eu não poderia deixar de vir aqui porque, afinal, eu estava em São Paulo e ficaria muito mal eu não comparecer para dar exatamente apoio àqueles que perderam suas casas.”

Rovena Rosa/Agência Brasil_01/05/2018

 

Até o momento, os bombeiros só confirmam a morte de uma pessoa, que estava sendo resgatada no momento do desabamento. Parte dos moradores do prédio está, junto com familiares e amigos, aglomerados em frente à igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu.

Elaine de Oliveira, moradora do prédio há mais de dois anos, estava com o marido e duas filhas, de dez e de dois anos, no momento em que o incêndio teve início. Segundo ela, as chamas começaram no quinto andar, o mesmo onde ela morava.

“Não sei bem a hora, era depois da meia-noite. Escutei algo como uma explosão e depois só os gritos de fogo, desce, desce”, disse Elaine, que perdeu tudo que tinha no incêndio. Ela estava descalça, com a roupa de dormir em frente a igreja do largo.

Elaine, de 32 nos, contou que sua maior preocupação é com seus remédios controlados e com um balão de oxigênio que ela usava devido a problemas de saúde. “Fiquei um tempão para conseguir os remédios de graça, agora perdi tudo. Nenhum documento consegui salvar”. Até o momento da entrevista, por volta das 8h45, ela não tinha sido contatada por nenhuma órgão oficial.

Alexandro da Conceição, morador há três meses do edifício, estava dormindo quarto andar na hora em que o fogo teve início. Ele contou que pagava um aluguel de R$ 150 para morar no local, e que nunca havia percebido falhas na estrutura do prédio.

“Era pouco, mas eu pagava direitinho. Sou pedreiro e nunca tinha percebido qualquer problema na estrutura do prédio”, disse Alexandro, que vivia no local com a esposa e a filha. Ele contou ainda que tinha sido cadastrado pela prefeitura há uns três meses, mas que, depois disso, não foi mais contatado. “Agora quero encontrar um lugar para levar minha família”.

O fogo começou por volta das 1h30 no 5º andar, espalhando-se rapidamente até o desabamento do prédio, que ocorreu por volta das 3 horas. O local abrigava a antiga sede da Superintedência da Polícia Federal em São Paulo, localizada na avenida Rio Branco, na região do Largo do Paissandu.

O Corpo de Bombeiros atendeu ao chamado pouco depois do início do incêndio, que também atingiu o prédio ao lado e uma igreja luterana inaugurada em 1908. As equipes de resgate, com mais de 160 bombeiros e 57 viaturas, Defesa Civil, Polícia Militar e equipes do Samu, iniciaram os trabalhos de resgate no início da manhã, sendo confirmado até o momento, a morte de uma pessoa que tentava ser socorrida no momento do desabamento do prédio.

A Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de São Paulo informou que havia 92 famílias cadastradas no prédio, totalizando 248 pessoas. As vítimas serão encaminhadas a um centro de acolhimento. Segundo os bombeiros, são mais de 160 homens trabalhando no combate às chamas e 57 viaturas estão no local. Um helicóptero também ajuda na ocorrência. Equipes do Samu, da Defesa Civil, da Companhia de Engenharia de Tráfego e da Polícia Militar trabalham no local.

“Em um primeiro momento, vamos levar as famílias para um local de amparo, acalmá-las e alimentá-las. Depois disso, a Secretaria de Habitação fará o atendimento”, disse o secretário de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo.

Antiga sede da PF

O edifício Wilton Paes de Almeida é um prédio de 24 andares e dois patamares de sobreloja, com 11 mil metros quadrados, localizado na esquina da Rua Antônio de Godoy com a Avenida Rio Branco, no Largo do Payssandu.  O prédio foi sede histórica da Polícia Federal na capital durante 20 anos, com grandes casos de repercussão nacional.

No edifício, ficou preso por algumas horas o argentino Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, no fim da ditadura militar. Também ficou detido o chefe da Máfia da Itália Tommaso Buscetta, após ser preso no Morumbi. Em 1985, o então chefe da PF, delegado Romeu Tuma, comandou do local as investigações para a identificação da ossada do nazista Josef Mengele, o chamado “anjo da morte” de Hitler.

O local estava em avançado processo de degradação. As salas, que antes eram departamentos da PF, se tornaram moradias separadas por madeira. A fachada tinha várias vidraças quebradas, com luz e água foram cortadas.

O comando do Corpo de Bombeiros divulgou que o estado precário da estrutura do prédio, como a retirada dos elevadores contribuíram para a propagação do incêndio, já que o fosso livre serviu como uma chaminé para o material inflável, como papelão e botijão de gás presentes nas moradias.

Escombros

A Prefeitura de São Paulo estimou em uma semana o trabalho de retirada dos escombros. Três quarteirões na região central de São Paulo estão interditadas para os trabalhos. Cães farejadores estão no local para busca por possíveis vítimas.

O segundo prédio atingido pelo incêndio foi evacuado e não corre risco de desabamento. Parte do teto da igreja Luterana, a primeira em estilo neogótica na capital, desabou e que também tinha orgão de tubos alemão e vitrais da mesma oficina do Teatro Municipal.

A Prefeitura de São Paulo informou que engenheiros e técnicos da Defesa Civil estão no local para avaliar os danos causados aos imóveis vizinhos. A CET organiza os bloqueios de trânsito na região. A companhia ainda informará detalhes sobre o esquema de interdição que funcionará a partir de amanhã.

Histórico

A Secretaria Municipal de Habitação atuava na ocupação do edifício por meio do grupo de Mediação de Conflitos, uma vez que no local estava prevista uma reintegração de posse movida pela Secretaria de Patrimônio da União. Uma vez desocupado, o imóvel seria cedido à prefeitura.

A Secretaria de Habitação realizou seis reuniões com as lideranças da ocupação, entre fevereiro e abril, para esclarecer a necessidade de desocupação do prédio, devido ao risco e à ação judicial.

No dia 10 de março, a secretaria cadastrou cerca de 150 famílias, com 400 pessoas, ocupantes do prédio. Desse total, 25% são famílias estrangeiras. Esse cadastro foi feito para identificar a quantidade de famílias, o grau de vulnerabilidade social e a necessidade de encaminhamento das famílias à rede socioassistencial.

A Prefeitura de São Paulo estima em cerca de 70 prédios ocupados na região central com aproximadamente 4 mil famílias. Trata-se de uma estimativa, uma vez que, em sua maioria, são prédios particulares. Nestes casos, cabe ao proprietário ações junto à justiça e às lideranças da ocupação.

A Secretaria Municipal de Habitação criou, em 2017, um Núcleo de Mediação de Conflitos, que monitora 206 ocupações em toda a cidade, com cerca de 46 mil famílias. Desse total, 25% da atuação do grupo ocorre em ocupações na região central,  com 3.500 famílias. Para essas ocupações, o grupo atua no sentido de buscar uma solução conciliada com a desocupação voluntária e sem confronto.

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