Preço do óleo de palma já está caro em junho e eleva custo da produção de alimentos
O preço do óleo de palma, importante matéria-prima utilizada na produção de alimentos (pães, bolos, biscoitos, chocolates, margarinas, entre dezenas de outros), e principal insumo utilizado na substituição de gorduras trans, segue com tendência de alta.
A produção nacional é estruturalmente insuficiente para atender o consumo. Após o mês de junho, quando se encerra a safra nacional do vegetal, o problema será agravado.
“No momento, o óleo de palma está em período de safra, mas em breve prevemos nova escassez nos mercados interno e externo. Em média, o insumo representa de 2% a 3% dos custos de produção da indústria de alimentos, podendo chegar a 5%, 10% e até 40% em determinados produtos, como massas e biscoitos”, afirma João Dornellas, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia).
A ampliação do plantio do óleo de palma no Brasil tem se limitado a 2% ou 3% de crescimento anuais, o que é insuficiente para atender à demanda, segundo Dornellas.
O dirigente reforça que o óleo de palma é imprescindível na produção de cerca de 50% dos alimentos industrializados presentes no mercado brasileiro.
Além disso, o produto refinado vem se destacando como a principal fonte de matéria-prima utilizada no esforço de substituição dos óleos e gorduras parcialmente hidrogenados (OGPH).
Para não prejudicar a produção, o setor de alimentos, que tem como principal representante a Abia, já importa usualmente essa matéria-prima, mas viu a necessidade de aumentar substancialmente o volume de importação do insumo.
A demanda internacional por óleo de palma também aumentou, inflacionando os preços no mercado externo.
Relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) publicado no início de janeiro mostra que as cotações internacionais subiram pelo sexto mês consecutivo, devido à queda dos níveis dos estoques mundiais, já que a produção foi menor nos principais países produtores, enquanto a demanda global manteve-se aquecida.
Os preços na Bolsa de Óleo de Palma da Malásia (Malaysia Palm Oil Board) seguem com tendência de alta em 2021, atingindo em abril US$ 1023/t, mais de 100% acima do patamar de abril de 2020.
Importações
Segundo dados do portal Comex Stat, em 2020 o Brasil incrementou em 69,9% o volume de importação deste ingrediente em relação a 2019, comprando 243,7 mil toneladas.
Para 2021, a previsão é importar 300 mil toneladas, volume 23% maior. Desse total, dois terços (268,7 mil toneladas) deverão ser consumidos pela indústria de alimentos.
A Abia entrou com um pleito de redução temporária (12 meses) da alíquota do imposto de importação do óleo de palma (atualmente em 10%), junto à Camex (Secretaria-executiva da Câmara de Comércio Exterior), por meio da inclusão da matéria-prima no regime especial da Lista Brasileira de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec), visto que o setor prevê um aumento da procura deste insumo para os próximos meses.
Impactos para o consumidor
Além da escassez do óleo de palma, outros fatores estão influenciando fortemente nos custos de toda a cadeia produtiva da indústria alimentícia.
O aumento nos preços de commodities agrícolas, a variação cambial e o impacto da pandemia são alguns deles. De acordo com levantamento da Abia, milho, soja e arroz subiram 84%, 79% e 59%, respectivamente, entre abril de 2020 e abril de 2021.
No mês passado, o índice de commodities agrícolas da FAO foi 30,8% superior ao do mesmo mês de 2020, maior patamar deste 2014.
No que diz respeito à pandemia, a estimativa é de que o custo adicional de produção tenha sido de 4,8% em 2020, o que impactou em até 2,5% o preço dos produtos ao consumidor final.
Matérias-primas e embalagens, que respondem por 65% dos custos de produção dos alimentos industrializados, também representam um gargalo por conta da oferta reduzida, agravada pela desvalorização da taxa de câmbio.
As resinas plásticas seguem com preços em alta, e, no caso da folha de flandres, além da restrição da produção interna, os preços acumulam alta superior a 60% nos últimos seis meses, o que tem gerado forte impacto.
Apesar desses entraves, de janeiro a março de 2021 registrou-se expansão de 2,3% na produção física (base volume) e de 2,2% nas vendas reais.
Os dados anualizados, acumulados em 12 meses até março, mostram um comportamento próximo ao do fechamento de 2020, com as vendas reais em alta de 3,5% e a produção física, de 1,2%.
No primeiro trimestre de 2021 o número de pessoas ocupadas na indústria de alimentos apresentou alta de 1,7% em relação ao mesmo período do ano passado.