Agronegócio

Preço do boi: a difícil tarefa de traduzir (e contentar) o mercado – Parte 2

30 jul 2019, 9:11 - atualizado em 30 jul 2019, 9:11
As muitas variáveis formam a caixa-preta da precificação do boi (Imagem: Pixabay)

Neste ano ficou mais evidente a dificuldade em retratar com maior assertividade e por uma régua mais ampla as cotações do boi gordo. Além da bagunça que o veranico de começo de ano e as chuvas mais tardias criaram, atrasando a safra e deixando a bússola da oferta fora da caixinha, entrou em cena com mais peso o boi China. O gigante comprador da Ásia forçou mais a compra desse animal, que passou a entrar com maior número de cabeças na composição geral.

O clássico oferta e demanda manda no jogo, mas na lista de fundamentos definida pelos compradores, há de tudo um pouco, com graus de influência claros e outros nem tanto. E por enquanto, manda quem pode.

Intermediário em preços entre o mais nobre, o boi Europa, e o mais volumoso, o boi comum, a categoria desejada pelos chineses – animal de 30 meses e até quatro dentes – teve o rebanho mais encorpado. Que, aliás, ninguém sabe o tamanho. Chute é o que mais tem.

As referências das empresas de consultorias e do Cepea/Esalq, que Money Times trouxe ontem (29) abordando a relação de indicações mínimas e médias, cada qual com seus métodos que por estratégia não comentam (embora tudo começa pelo número de informantes), acabam sendo sempre sobre o chamado boi comum, mais comercial e sem premiação de exportação para determinados mercados.

O gado qualificado – não necessariamente comprado só para exportação, mas sim sendo um padrão de remuneração também para venda interna -, varia acima do boi “commodity”, com um teto e mínima que dependem do volume disponível pelo vendedor.

“O boi china na composição está tendo grande importância. Somado ao Europa, elevam a média em mais de R$ 2,00 (sobre o comum). Então, não podemos levar o preço mínimo como referência”, pensa Gustavo Figueiredo, da AgroAgility, que diz ter visto na semana passada vendedores que conseguiram R$ 160,00 em lotes.

Teve e tem mesmo nessa cotação, mas como afirmou Juca Alves, produtor de Barretos, ontem houve negócios a R$ 156,00 também, em volume menores e classificação considerada mais acanhada pelos compradores.

Caixas-pretas

Uma coisa é saber a premiação, outra é medir a influência no mercado em geral, puxando também os preços do comum. Ainda é uma caixa preta.

Ninguém sabe ao certo o que tem de volume de bois com bonificação que entraram nos frigoríficos, por mais que se queira traçar um paralelo com as exportações mensais, por exemplo. E como já foi dito, nem tudo vai para exportação, ainda que a maioria vá. Portanto haveria distorção.

Só as indústrias têm essa informação, mesmo algum consultor ou jornalista contando com fontes internas que possam dar pistas do número.

Concorre para a dificuldade de avaliação, mesmo entre analistas, o volume de boi a termo que chega para abate. Essa modalidade de negócio, inaugurada lá trás pela JBS, contratando a entrega de determinado volume e especificações de animais com preço pré-fixado, é outra caixa-preta. Os grandes pecuaristas, com alta oferta, fogem do assunto para evitar críticas, uma vez que o termo fecha escalas e deixa a sobra para as ofertas mínimas de balcão.

Pode-se saber de um produtor, com qual se tem negócio de consultoria, ou até de uma indústria, a depender as fontes, mas nunca é o universo.

E mesmo entre boi comum há distinções. Ele pode ser mais velho que o boi china, mas pode ter um rendimento de carcaça e qualidade diferenciadas dentro da categoria. Abaixo de 50% é uma coisa, nos 53% é outra.

E esta variável de rendimento é outra caixa-preta, de frigorífico para frigorífico, que normalmente é assim: pega ou larga.

Correndo por fora, há o gado de nicho. Cruzamentos industrias de animais taurinos (europeus) com zebuínos (indianos) – mais forte entre o angus e o nelore -, entre outros, que de vez em quando entram nas margens da composição.

E em algumas regiões, quando há movimento importante de exportações de gado em pé, como no Pará ou no Rio Grande do Sul, igualmente deturpa o ambiente como um todo, ao enxugar mais a oferta. Ou faz sobrar, como, por exemplo, desde que a Turquia, maior importador, entrou em crise econômica.

Tipo de relacionamento entre frigoríficos e vendedores contam também, mais ainda no caso de regularidade (fidelização) de volume e períodos de entrega (não necessariamente o a termo) e distância das plantas (o frete é a indústria).

 

 

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Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
giovanni.lorenzon@moneytimes.com.br
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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