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Precaução (ou seria provisão?!) e caldo de galinha não faz mal a ninguém: primeiras impressões da temporada de resultados nos EUA

16 jan 2023, 19:00 - atualizado em 16 jan 2023, 15:50
JPMorgan
JP Morgan e demais instituições financeiras dão pontapé inicial à temporada de balanço do quarto trimestre de 2022 nos EUA (Imagem: REUTERS/Andrew Kelly)

Por Enzo Pacheco*

Caro leitor,

Na última sexta-feira (13) tivemos o início da temporada de resultados do quarto trimestre nos Estados Unidos. Dentre as principais empresas que entraram na mira dos investidores estavam os maiores bancos americanos.

JPMorgan Chase (B3: JPMC34 | NYSE: JPM), Bank of America (B3: BOAC34 | NYSE: BAC), Citigroup (B3: CTGP34 | NYSE: C) e Wells Fargo (B3: WFCO34 | NYSE: WFC) reportaram números mistos: enquanto os dois primeiros vieram acima das estimativas dos analistas, os outros dois divulgaram resultados piores do que o esperado pelo mercado.

Em linhas gerais, o aumento de juros permitiu que essas instituições reportassem receitas maiores tanto no trimestre como no ano de 2022. A exceção foi o Wells Fargo, cuja operação tem grande concentração das operações no setor imobiliário — que teve forte redução nas vendas de casas por conta das altas de juros dos financiamentos.

E essa distinção fica ainda mais clara quando abrimos essa linha em receita financeira (que engloba as operações de crédito) e aquelas provenientes de taxas, comissões e fees. A parte de Banco de Investimentos dessas instituições, por exemplo, viram suas operações terem queda acima de 50% no faturamento anual.

Tabelas 1 e 2. Receita líquida trimestral e anual por tipo de receita dos bancos americanos que reportaram resultado na sexta (13) | Fontes: DFs dos bancos e Empiricus

Além disso, os bancos conseguiram de certa maneira manter as despesas operacionais comportadas, crescendo em um ritmo bem abaixo do observado nas receitas. Os índices de eficiência ficaram abaixo ou estáveis na comparação trimestral e também na anual para quase todos os bancos. A exceção, mais uma vez, ficou com o Wells Fargo.

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Caldo de galinha é provisão

Mas a partir daí as notícias não são tão boas.

Isso porque todas as instituições tiveram de aumentar substancialmente as suas provisões para devedores duvidosos (PDD). Ainda mais diante de um cenário macroeconômico desafiador para o ano que apenas se inicia.

Tanto que na teleconferência com os analistas, os CEOs do JPMorgan Chase e do Bank of America (Jamie Dimon e Brian Moynihan, respectivamente) pontuaram que ambos os bancos projetam que os EUA deve sofrer uma leve recessão em 2023.

 

Gráficos 1 e 2. Provisões para devedores duvidosos trimestral (esquerda) e anual (direita) por banco | Fontes: DFs dos bancos e Empiricus

Obviamente, isso teve impacto direto na linha final de resultados. Ainda que alguns desses bancos tenham conseguido apresentar um resultado superior na comparação trimestral, todos tiveram recuos expressivos em seus lucros anuais — isso mesmo em um ano em que a economia americana deve apresentar um leve crescimento.

Precaução com crédito 

Um dos pontos que tem mais tido atenção por parte dos bancos é o comportamento dos empréstimos de cartões de crédito das pessoas físicas. Nessa linha, todas as instituições apresentaram crescimento considerável no último ano. 

Os últimos dados consolidados desse segmento, disponibilizados pelo bureau de crédito TransUnion, mostram que ao final do terceiro trimestre de 2022 o número de cartões de crédito nos EUA ultrapassava a marca de 510 milhões, quase 8% maior do que no 3T21 e 15% acima do observado no 3T19 (antes da pandemia).

O JPMorgan Chase deixou claro essa preocupação, com um slide da sua apresentação de resultados apenas para demonstrar que o banco espera uma normalização no crédito em 2023. Segundo a instituição, a expectativa é de que a taxa de inadimplência, que está muito abaixo dos níveis pré-pandemia, alcance 2,6% (próximo dos 2,93% de 2020, mas ainda abaixo dos 3,1% de 2019).

Dado esse cenário não muito promissor para o crédito na Terra do Tio Sam aliado às perspectivas de retração econômica (ou, no mínimo, um ritmo muito abaixo do potencial), a ideia de os bancos ainda enfrentem dificuldades em suas operações e de que isso apareça nos resultados futuros não é desprezível.

Impressão para o investidor

Uma forma do investidor apostar na queda das ações do setor é por meio do ETF invertido ProShares Short Financials (NYSE: SEF). Este fundo tem como objetivo replicar o inverso da performance diária do índice Dow Jones U.S. Financials, que engloba as maiores instituições financeiras americanas.

Já que a palavra de ordem entre os executivos dessas instituições financeiras parece ser “precaução” neste momento, quem sou eu para ir contra eles. Cabe ao investidor aproveitar esse limão e fazer uma limonada (que para mim parece estar bem azeda).

Um abraço,

Enzo Pacheco

*Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).