Pré-Mercado: Vai uma oferta da Eletrobras (ELET6) aí?
Bom dia, pessoal!
Lá fora, os mercados asiáticos caíram nesta quinta-feira (26), depois que o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, alertou que a segunda economia do mundo estava pior agora do que durante os primeiros dias da pandemia. Os comentários de Keqiang deram um golpe na confiança dos investidores, ofuscando a recuperação de ontem (25) no Ocidente, embalada por uma posição menos agressiva do Federal Reserve dos EUA.
Enquanto a China persiste com uma política de zero Covid para erradicar o vírus, os europeus contam hoje com o encerramento do Fórum Econômico de Davos, na Suíça. As principais Bolsas por lá sobem nesta manhã, mesmo com a possibilidade de novos impostos no Reino Unido, acompanhadas parcialmente pelos futuros americanos (Dow Jones e S&P 500 sobem, enquanto a Nasdaq volta a cair).
O Brasil tem bastante coisa de sua própria dinâmica para absorver, apesar de estar passível de reagir à revisão (leitura final) do PIB do primeiro trimestre dos EUA, que havia mostrado uma queda anualizada de 1,4% na entrega preliminar realizada recentemente. Por aqui, temos questões envolvendo ICMS, Petrobras e Eletrobras para acompanharmos de perto.
A ver…
Entre o conselho da Petrobras e a oferta da Eletrobras
Nesta quinta-feira, os investidores locais ficaram atentos para os desdobramentos da aprovação na Câmara do projeto que limita a alíquota do ICMS para combustíveis e energia elétrica em 17%, o qual pode ter um impacto significativo para as perspectivas fiscais brasileiras, principalmente as estaduais. Foram 403 votos a favor, 10 contrários e 2 abstenções, sendo que todos os destaques que pretendiam alterar o texto foram rejeitados. Desta forma, o texto segue agora para análise do Senado.
Segundo o presidente da Câmara, teremos mais projetos na semana que vem que visam atingir os combustíveis e a energia elétrica, como o que buscará criar mais transparência na composição de preços de derivados de petróleo praticados pela Petrobras. Por falar na Petrobras, o conselho de administração da companhia atrasou a agenda do presidente Bolsonaro para mudar o comando da estatal, retardando a convocação de uma assembleia geral.
Mas a petroleira não é a única gigante brasileira sob os holofotes. Isso porque a Eletrobras pode entrar na CVM e SEC hoje, com o lançamento da oferta bilionária de ações. Além disso, nesta quinta-feira teremos análise de vetos no Congresso, entre eles o que autorizou a capitalização da Eletrobras. Para derrubar um veto presidencial são necessários 257 votos na Câmara e 41 no Senado, mas não devemos ter surpresas negativas desta frente em relação ao mercado.
Depois de 100 dias de pregão
Ontem, as Bolsas americanas comemoraram o centésimo dia de negociação de 2022. Quer dizer, não foi muito bem uma comemoração. No período, o Nasdaq caiu 26,9%, o S&P 500 teve queda de 16,5% em seu pior começo de ano desde 1970, e o Dow Jones Industrial Average caiu 11,6%. Na quarta-feira (25), porém, as ações, que tanto sofreram em 2022, foram ajudadas pela divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve em 3 e 4 de maio.
A ata da reunião do Federal Reserve não disse nada aos economistas que eles já não soubessem, principalmente que o Fed deve aumentar as taxas em 0,5 ponto percentual nas reuniões de junho e julho. Mas o ritmo mais lento de aperto parece o caminho mais provável e, por isso, menos letal para os mercados.
Hoje, contamos com a segunda estimativa para o produto interno bruto do primeiro trimestre dos EUA. A estimativa consensual é de que o PIB recuou a uma taxa anual ajustada sazonalmente de 1,4%, inalterada em relação à estimativa divulgada no final de abril. O dado pode influenciar as expectativas dos investidores para o cenário de estagflação tão temido atualmente.
China causando problemas
Diferentemente do que está acontecendo em boa parte do mundo, a China está dando estímulos fiscais e monetários. Nesta quinta-feira, por outro lado, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang alertou sobre o crescimento econômico, reforçando que ações governamentais e corporativas são necessárias.
O desafio da China sempre foi estimular sua economia doméstica à medida que a demanda global por bens se normalizava, sendo que as restrições pandêmicas afetaram mais a atividade doméstica do que o setor de exportação.
O compromisso da China com a política de “zero Covid” significa que é quase certo que ficará abaixo de sua meta de crescimento econômico. Pequim admitiu ter perdido a meta apenas uma vez desde que a estabeleceu há três décadas — por apenas 0,2 ponto percentual em 1998.
Anote aí!
Hoje, temos a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que participa da reunião do Comitê de Estabilidade Financeira. Além dele, o ministro da Economia, Paulo Guedes, concede coletiva de imprensa nesta manhã. Será importante para desenharmos uma narrativa dos resultados de arrecadação de abril, a serem divulgados pela receita. Temos ainda divulgação de pesquisa Datafolha sobre sucessão presidencial. Nos EUA, contamos com PIB do primeiro trimestre e pedidos de auxílio-desemprego da semana até 21/05.
Muda o que na minha vida?
Na China, o presidente Xi Jinping lançou as bases para tratar a meta do PIB como um objetivo entre vários para as autoridades em 2022 — para o governo chinês, o PIB não deveria mais ser o “único critério de sucesso”. Por conta disso e das restrições pandêmicas, Pequim não menciona a meta de crescimento desde março. Em vez disso, as autoridades enfatizaram repetidamente a estabilização do emprego.
Ao que tudo indica, as projeções para o crescimento do PIB este ano caíram para 4,5%, bem abaixo da meta oficial de cerca de 5,5%. Com a meta de crescimento aparentemente inatingível, a máquina de propaganda da China começou a acelerar.
Embora Pequim possa se reconciliar com o fracasso da meta, isso não significa que desistiu completamente do crescimento. Se a China desacelerar muito, poderá ser superada pelos EUA pela primeira vez desde 1976.
Independentemente disso, uma desaceleração chinesa é muito ruim para a economia global, em especial para o Brasil, que tem no gigante asiático o seu principal parceiro comercial. Desdobramentos dessa desaceleração serão sentidos aqui.
Um abraço,
Jojo Wachsmann