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Pré-Mercado: Um novo choque do petróleo?

09 mar 2022, 9:36 - atualizado em 09 mar 2022, 9:36
EUA rompendo também as relações com o setor de energia russo | Scenes from a Marriage (2021)

Bom dia, pessoal!

Nesta manhã, as Bolsas europeias tentam novamente continuar seu caminho de recuperação, na contramão do desempenho das ações asiáticas, que encerraram a quarta-feira (9) em tom misto, sem uma direção única, mas com predominância de queda. De maneira semelhante aos europeus, os futuros americanos também começam o dia em alta, mesmo depois do anúncio dos EUA sobre o banimento do petróleo russo.

Enquanto isso, na Rússia, o banco central proibiu o sistema financeiro de vender moeda estrangeira até 9 de setembro, indicando a gravidade da crise financeira que se espalha pelo país por conta das sanções. Há sinais de que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, estaria mais disposto a negociar, inclusive desistindo de colocar a Ucrânia na Otan. A possibilidade de paz dá gás aos ativos hoje.

A ver…

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Preocupações com a gasosa

Depois de acompanharmos ontem (8) a atitude de Brasília frente à possibilidade da escalada do preço dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro se reúne hoje com Ciro Nogueira (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia), Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Roberto Campos Neto (Banco Central), para traçar alguma estratégia de combate à inflação — gera mal-estar a presença de Campos Neto.

Vale lembrar que na semana que vem teremos o Copom, que promete continuar com o processo de aperto monetário, ainda na reta final dele. A falta de visibilidade sobre a inflação futura provoca inquietação por parte dos investidores, que já começaram a esperar na curva de juros futuros uma Selic acima de 13%, a qual seria ainda pior para a atividade econômica brasileira, já comprometida para 2022.

Enquanto isso, no Congresso, o Senado pode votar os projetos sobre o ICMS e sobre a criação do fundo de estabilização de preços dos combustíveis. As alternativas que não provoquem intervenção de preços sobre a estatal deverão ser bem recebidas pelo mercado. Vivemos tempos extraordinários, os quais muitas vezes merecem medidas extraordinárias. Ainda assim, o mercado já está estressado demais para ser provocado.

Território de bear market

Ontem, o Nasdaq entrou em seu território de mercado baixista (bear market), caindo mais de 20% em relação ao pico de 19 de novembro, o primeiro mercado em baixa desde a grande correção no início da pandemia de Covid-19, em março de 2020. Diferentemente da última vez, porém, a recuperação atual não promete ser tão rápida.

Não temos desta vez os vastos gastos fiscais e o afrouxamento da política monetária. Aliás, muito pelo contrário. O Federal Reserve prometeu um aumento da taxa de juros na próxima semana, de modo a conter a alta dos preços (amanhã teremos índice de preços ao consumidor e será bastante acompanhado pelo mercado).

A grande informação que está sendo digerida pelo mercado é o movimento do presidente Joe Biden, que puxou o gatilho para a proibição das importações de petróleo, gás e energia russos. Enquanto o presidente falava, o petróleo Brent, referência internacional, disparou 7%, mas arrefeceu na sequência.

A Rússia exporta quase 5 milhões de barris de petróleo bruto por dia e os EUA importam cerca de 200 mil barris por dia de petróleo bruto e cerca de 400 mil barris de produtos refinados da Rússia. Os efeitos poderão ser consideráveis na inflação americana — o Reino Unido também suspenderá as importações de petróleo russo.

Um mercado de baixa dura em média 110 pregões, de acordo com a Dow Jones Markets Data, embora geralmente seja um sinal positivo para retornos futuros: o movimento médio de um ano para o Nasdaq após entrar em um mercado baixista é um ganho de 13%. Pelo menos um alento em meio a tanta incerteza.

Um novo choque do petróleo?

Os preços mais altos do petróleo mudarão a demanda do consumidor por seus derivados. Notadamente, o poder de compra será prejudicado pelos preços mais altos do petróleo, mas não tanto quanto o CPI poderá sugerir amanhã. De qualquer forma, o petróleo perto de US$ 130 representa grande preocupação para a economia global, bem como a disparada das commodities agrícolas.

Notadamente, a disparada dos preços do petróleo aumenta a possibilidade de uma recessão — os preços do petróleo mais que dobraram em relação a um ano atrás. Antes de três recessões anteriores, eles também haviam dobrado, em 1990, 2000 e 2008. Os altos preços da gasolina e do diesel aumentarão a inflação e poderão fazer com que as pessoas gastem menos em bens e serviços, afetando a atividade.

Agora, o Federal Reserve enfrentará pressão para conter a inflação sem afundar a economia, um equilíbrio delicado. Além disso, o petróleo poderia teoricamente atingir níveis recordes e depois cair por causa de uma recessão. Não é improvável que os preços subam para US$ 150 por barril, estimulem uma recessão e ainda terminem o ano abaixo de US$ 100 por barril — o choque é mais de curto prazo.

Contudo, vale lembrar que a inflação já era um problema antes das sanções à economia do terceiro maior produtor de petróleo do mundo. O cenário atual costuma ser difícil para que as posições em ações prosperem, sendo bastante parecido com a década de 1970 — o retorno do S&P 500 foi de -33% após o início do embargo de petróleo árabe de 1973.

Anote aí!

No Brasil, teremos continuidade da temporada de resultados, com nomes como CSN, Natura e Via apresentando seus números para o quarto trimestre do ano passado. O IBGE divulga a produção industrial de janeiro, enquanto esperamos mais uma divulgação de pesquisa sobre sucessão presidencial. Nos EUA, a agenda é esvaziada, mas contamos com o Relatório Jolts de Emprego em janeiro.

Muda o que na minha vida?

As cotações das commodities estão aumentando devido às preocupações de que a guerra na Ucrânia resultará em uma terrível escassez de materiais críticos. Por causa do fechamento de portos e sanções, a Rússia e a Ucrânia pararam de enviar mercadorias que são usadas em todo o mundo para alimentos, combustível e manufatura.

Não apenas petróleo, mas metais e grãos também subiram muito desde a invasão russa da Ucrânia, e continuam subindo. O ouro chegou a US$ 2.000 a onça pela primeira vez em 18 meses, enquanto o paládio atingiu um recorde histórico. Em metais básicos, o cobre também está em alta, o níquel subiu bastante (teve seu maior ganho diário em dólares já registrado) e o alumínio manteve mais de US$ 3.500 a tonelada.

O trigo, por sua vez, disparou mais de 50% desde que a guerra começou a atingir altas recordes, o que aparentemente é o que acontece quando quase um terço do total de exportações mundiais de trigo (pelas quais a Ucrânia e a Rússia são responsáveis) é desconectado. Os custos dos alimentos já haviam atingido um recorde e certamente aumentarão ainda mais, levando mais pessoas à fome.

O trigo caro afetará desproporcionalmente os países de baixa renda, como Egito e Indonésia, que dependem de grãos ucranianos e russos. Mas o aumento dos preços dos alimentos não apenas torna o jantar mais caro — ele também desestabiliza as sociedades. Protestos eclodiram em todo o mundo na última vez que os preços do trigo estiveram tão altos, em 2008.

Um abraço,

Jojo Wachsmann