Pré-Mercado: Teríamos nesta sexta-feira a chance de recuperar um pouco das perdas?
Bom dia, pessoal!
Lá fora, as ações nos mercados da Ásia e do Pacífico subiram nesta sexta-feira (20), com as ações de Hong Kong liderando os ganhos à medida que chegamos ao fim de mais uma semana volátil para os mercados globais — os meses de abril e maio têm sido ruins para os mercados de maneira geral. Ajudou o fato de os preços ao consumidor no Japão terem vindo conforme o esperado em abril, o que evitou surpresas negativas para os investidores.
Por falar em preços, a inflação ao produtor alemão para abril foi mais forte do que o consenso de mercado. Mesmo com a pressão inflacionária depois da ata mais hawkish (contracionista) do BCE divulgada ontem (19), as Bolsas europeias se recuperam das quedas recentes nesta manhã, acompanhando a boa performance asiática. Os futuros americanos também estão animados hoje, pelo menos por enquanto. Há espaço, portanto, para o Brasil acompanhar o movimento positivo ao longo do pregão.
A ver…
Alguém aí falou em Orçamento?
Entre os ruídos de reajuste salarial para servidores públicos federais e do projeto que limita o ICMS — o Comitê Nacional de Secretários da Fazenda (Comsefaz) estima que o projeto que limita a 17% a alíquota do ICMS sobre combustíveis, energia, transportes e telecomunicações deve reduzir em até R$ 100 bilhões a arrecadação anual dos estados —, voltamos a ter discussões fiscais em meio ao debate do Orçamento para 2023.
Por isso, os investidores acompanham hoje a divulgação pelo governo do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, com a expectativa de bloqueio de R$ 10 bilhões em despesas para abrir espaço no teto de gastos a outros gastos, como subsídios agrícolas e sentenças judiciais, conforme antecipado pelo presidente Bolsonaro em sua live de ontem (19). Fora isso, o Palácio do Planalto ainda briga para arranjar mais R$ 7 bilhões para o reajuste dos servidores.
Todas as discussões de cunho fiscal podem ter impacto sobre a curva de juros, assim como ocorreu no segundo semestre do ano passado para nós. Esgarçamentos adicionais no Orçamento para 2023, a ser aprovado até 17 julho, antes de o Congresso entrar em recesso, podem gerar volatilidade adicional nos vértices mais longos de nossa curva de juros, o que propicia potencial desvalorização dos ativos de risco brasileiros. O problema é que nossos ativos já estão muito descontados para sofrerem ainda mais.
O legado do resultado das varejistas
Nem a recuperação modesta de hoje anima os investidores depois de tantas perdas em 2022. Só neste ano o S&P 500 já caiu mais de 18%, enquanto o Nasdaq caiu quase 30% de sua máxima de 19 de novembro do ano passado.
O sell-off é generalizado e em nada ajudam os resultados das varejistas nesta reta final de temporada do primeiro trimestre do ano, com as preocupações contínuas com a inflação sempre presentes — os custos mais altos afetarão as margens de lucro das empresas, o que pode gerar desaceleração do crescimento econômico.
Se o consumidor tivesse que fazer escolhas e gastar menos dinheiro, enquanto os varejistas não conseguissem repassar de forma lucrativa as despesas mais altas, isso representaria um problema maior. Esse cenário não é impossível e gradualmente se tornará mais e mais possível.
E pode botar expansionismo monetário na conta chinesa
Respondendo ao temor de desaceleração, a China cortou sua taxa básica de empréstimo de cinco anos (LPR) em 15 pontos-base, de 4,60% para 4,45%. Pressionada pela desaceleração econômica acentuada pelos lockdowns de sua política “zero Covid”, uma vez que as restrições prejudicam a demanda doméstica mais do que a oferta (as vendas no varejo caíram muito mais que a produção), o governo tem buscado alternativas para minimizar o estrago.
Foi o segundo corte da taxa chinesa de empréstimo de referência de um ano (LPR) este ano. Tal processo se dá em meio à queda dos empréstimos bancários, sinalizando falta de confiança entre empresas e famílias. O corte da LPR, juntamente com o corte do compulsório em abril, pode ajudar a aumentar a demanda no mercado, dando suporte para as commodities e para a cadeia de suprimentos global.
Anote aí!
Na Europa, temos continuação do encontro de ministros das Finanças e banqueiros centrais do G7, enquanto investidores digerem a confiança do consumidor e as vendas do varejo, ambos os dados do Reino Unido. Por aqui, o mercado aguarda a apresentação do relatório bimestral do Orçamento, mas o destaque da agenda é o possível encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e o bilionário Elon Musk. Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, participa de reunião extraordinária do Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (CPPI), na esteira da divulgação do Índice de Confiança do Empresário Industrial.
Muda o que na minha vida?
Nos EUA, um fator que poderia desacelerar o consumo seria aumentos ainda maiores das taxas do Federal Reserve. Os rendimentos dos títulos de longo prazo recuaram nos últimos dias, depois de subirem acima de 3% pela primeira vez desde dezembro de 2018, no início deste mês, mas o processo de um aperto mais rápido não foi descartado por todos, mesmo que a maioria dos membros do Fed se mostrem confortáveis com aumentos de 50 pontos-base nas próximas reuniões.
O presidente do Fed, Jerome Powell, por exemplo, sugeriu fortemente que a ideia de aumentar as taxas em mais de meio ponto percentual em qualquer reunião é improvável depois que o Fed elevou as taxas em meio ponto no início deste mês, de 0,25% para 0,75% — foi o primeiro aumento de meio ponto desde 2000. Vale notar que o Fed não elevou as taxas em mais de meio ponto desde 1994.
O problema é que o mercado sabe que pode ser muito cedo para descartar altas dessa magnitude, embora Powell pareça estar se inclinando contra isso — este é o mesmo Powell que se referiu repetidamente às pressões inflacionárias como sendo “transitórias”, quando não eram. Se o mercado identificar mudança de tom do Fed nas próximas semanas, os índices podem voltar a enveredar por uma queda.
Um abraço,
Jojo Wachsmann.