Pré-Mercado: Tempestade em alto-mar ou bons presságios?
Bom dia, pessoal!
Antes de começar, um recado importante: amanhã não teremos nossa edição do Transparência Radical em função do feriado. Nos vemos na sexta!
Lá fora, o mundo ainda acompanha os eventos do FMI e do Banco Mundial, que reúnem autoridades econômicas do mundo inteiro, inclusive as brasileiras. Ontem (19), algumas revisões nas projeções para o crescimento global, conforme comentaremos a seguir, chamaram a atenção de alguns investidores, deixando-os em estado de alerta, principalmente para um cenário de estagflação em diversas regiões do globo.
Os mercados asiáticos encerraram a quarta-feira (20) sem uma direção única, mas predominantemente em alta, acompanhando a boa performance de ontem nos EUA, que estão sob uma tempestade de resultados corporativos, os quais vieram em sua maioria positivos na terça-feira, com exceção da Netflix, que deverá ter um péssimo dia hoje. Os futuros americanos estão próximos da estabilidade, enquanto a Europa sobe.
Na agenda, o Brasil continua acompanhando os desdobramentos das discussões fiscais domésticas, enquanto os investidores internacionais se atentam não só à temporada de resultados, mas também à entrega do Livro Bege do Federal Reserve, que apresentará as condições da economia americana. Na Europa, além da guerra, destaque para o debate presidencial francês (o segundo turno será no final de semana).
A ver…
Entre dados, ruídos sobre commodities e tensões fiscais
Repercutindo as revisões negativas para o crescimento global e acompanhando o noticiário de lockdowns na China, as commodities estão passando por um momento de bastante volatilidade, o que afeta não só a inflação global (expectativa para a prévia do IGP-M marcada para ser apresentada hoje), mas também a performance dos ativos brasileiros, muito associados às matérias-primas ao redor do mundo.
Há uma certa tendência de aversão ao risco no ar, com investidores assumindo posições mais defensivas ao passo que esperam novos dados de inflação e as cenas dos próximos capítulos sobre as questões fiscais. Hoje, teremos repercussão dos dados de produção da Vale, divulgados na noite de ontem — o pre-market das ADRs, pelo menos até agora, não foi tão positivo.
Em Brasília, os servidores do Tesouro Nacional fazem nova paralisação por reajuste salarial, enquanto o Tribunal de Contas da União (TCU) analisa o processo de desestatização da Eletrobras (deverá haver pedido de vista). Paralelamente, a Caixa libera, a partir de hoje, o saque extraordinário de até R$ 1 mil do FGTS, o que pode impulsionar um pouco a economia em estado de desaceleração.
Dois outros temas chamam a atenção: i) nesta quarta-feira, o Comitê Gestor deve prorrogar o prazo para adesão ao Refis do simples, rebatizado de Programa de Reescalonamento do Pagamento de Débitos no Âmbito do Simples Nacional (Relp); e ii) na Câmara, votação da Medida Provisória que institui o auxílio Brasil pode ser adiada mais uma vez — apesar disso, a medida deverá ser aprovada e o valor atual do benefício, mantido.
Os desafios da Netflix
A Netflix perdeu 200 mil assinantes líquidos no 1T22 e espera perder 2 milhões de assinantes líquidos no trimestre atual. Como consequência, as ações caíram quase 26% nas negociações após o expediente, no after-market.
Por outro lado, a IBM e alguns bancos, como o Signature Bank e o Citizens Financial Group, reportaram números robustos no trimestre. A Johnson & Johnson, que era muito aguardada por sua grande gama de produtos disponíveis no mercado, também conseguiu superar as estimativas, apresentando boa performance no after-hours.
Não tem jeito, em temporada de resultados só se fala disso. Hoje, o foco será a Tesla, que apresentará seus números após o fechamento do mercado — é provável que desaponte depois que suas entregas de veículos ficaram aquém das estimativas, mas nunca se sabe, uma vez que Elon Musk, seu CEO, sempre gosta de surpreender o mercado, para o bem e para o mal.
Outros nomes do dia incluem Alcoa, ASML Holding, Baker Hughes, Crown Castle International, Nasdaq, P&G e United Airlines. Fora da esfera corporativa, o Federal Reserve divulga seu levantamento periódico das condições de negócios em todo o país, conhecido como Livro Bege — novidades sobre a percepção de inflação podem ser relevantes para o mercado precificar os ajustes nos juros (o yield do título de dez anos já superou o patamar de 2,9% ao ano).
Revisões de crescimento
Em meio aos eventos em Washington, patrocinados pelo FMI e pelo Banco Mundial, foi divulgada ao mercado uma série de perspectivas econômicas mais negativas para a economia global. O movimento faz parte de um contexto que segue cada vez mais pessimista para as condições de crescimento global. Hoje, podemos considerar que os riscos de crescimento já são maiores do que os riscos de inflação.
Na verdade, o que tem impedido que a recessão comece mais cedo é i) a continuidade dos gastos dos consumidores ao redor do mundo, em especial nos países desenvolvidos (grande poupança armazenada durante a pandemia, principalmente entre os mais ricos), e ii) a cautela adicional dos bancos centrais para apertar a política monetária — apesar da agressividade recente, as políticas ainda estão bem frouxas.
Anote aí!
Nos EUA, a continuidade da temporada de resultados e a apresentação do Livro Bege do Fed são os grandes destaques do dia. Além disso, a Associação Nacional de Corretores de Imóveis relata vendas de casas existentes para março, enquanto vários membros do Federal Reserve têm espaço para falar, como Mary Daly, presidente do Federal Reserve Bank de San Francisco, e Charles Evans, presidente do Federal Reserve Bank de Chicago.
Por aqui, o destaque fica para a segunda prévia do IGP-M de abril, que deve registrar aceleração, e para a participação de Paulo Guedes em reunião ministerial do G20, reunião com a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, e reunião do FMI. O julgamento da privatização da Eletrobras também é esperado.
Muda o que na minha vida?
Que papelão foi o resultado da Netflix ontem à noite, com queda de mais de 25% no after (movimento que ainda se verifica no pre-market desta manhã). Apesar de ser considerada a empresa líder das novas mídias, tirando as redes sociais, dominando o mercado de streaming, ao menos por enquanto, a Netflix manteve a tendência do quarto trimestre, entregando um péssimo início de 2022 — no nível atual, as ações caem mais de 60% em relação ao pico de novembro.
Depois de informar que perdeu 200 mil assinantes líquidos no primeiro trimestre em relação ao quarto, sua primeira perda desse tipo em mais de uma década, a empresa ainda alertou que pode perder mais 2 milhões de assinantes no trimestre atual. A Netflix, que era tradicionalmente avaliada como uma ação de tecnologia, agora está começando a ser avaliada mais como um provedor de conteúdo tradicional, o que gera uma severa reavaliação de seu valor de mercado. Pelo peso da marca, há possibilidade de o mau humor ser contagioso e se espalhar pelo resto da Nasdaq hoje.
Um abraço,
Jojo Wachsmann