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Pré-Mercado: Só se fala de Ucrânia hoje em dia

14 fev 2022, 9:01 - atualizado em 14 fev 2022, 9:01
Como parar um conflito que pode estar prestes a acontecer? | Matrix Reloaded (2003)

Bom dia, pessoal!

No exterior, os mercados sentem como nunca as tensões entre a Rússia e a Ucrânia. Os mercados de ações asiáticos caíram nesta segunda-feira (14), enquanto os preços do petróleo voltaram a subir em meio à preocupação com uma possível invasão russa (Brent a US$ 95 já é uma realidade). A correção nas Bolsas Europeias é considerável, com nomes caindo mais de 3% nesta manhã.

A queda dos futuros americanos consegue, por sua vez, ser mais contida, mesmo que exista. A semana guarda continuidade da temporada de resultados por lá e falas de membros do Federal Reserve — a ata do Fed será divulgada nesta semana. O Brasil fica refém do mau humor internacional, mas pode se beneficiar da alta do petróleo.

A ver…

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Ansiedade para a viagem de Bolsonaro à Rússia

A semana guarda a viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia, onde se reunirá com o presidente Vladimir Putin — ainda que tenhamos total autonomia para conduzirmos nossa diplomacia, o encontro entre os líderes deixou um gosto amargo na boca de nossos parceiros ocidentais. Tal noticiário toma a atenção dos mercados em meio a uma semana de agenda fraca, com destaque apenas para a continuidade da temporada de resultados, com nomes de peso pesado, como o Banco do Brasil hoje.

Além disso, investidores também se atentam à capital federal, onde o Senado pode discutir e votar dois projetos que visam estabilizar e baratear os preços dos combustíveis. O mais sensato para o mercado envolve a criação de uma conta de compensação com dividendos da Petrobras, o que provocaria menor impacto fiscal. Para a semana, discussão do novo marco do setor elétrico, julgamento da Eletrobras e avaliação da constitucionalidade do fundo eleitoral também são temas interessantes.

Entre tensões ucranianas, mais resultados pela frente

Investidores aguardam a fala de Jerome Powell, presidente do Fed, marcada para amanhã (15), na expectativa de que a autoridade monetária não pese tanto assim nos juros — as atas do Fomc também devem ser divulgadas em 16 de fevereiro. Falas de Fed boys também são aguardadas, com muitos presidentes regionais falando.

Contudo, o que chama mais atenção é a condução das negociações diplomáticas americanas diante da possibilidade de invasão da Ucrânia pela Rússia. Recentemente, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, pediu aos americanos que deixem a Ucrânia, em linha com o que o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido também quer dos cidadãos britânicos no país.

Em paralelo, a temporada de resultados segue acontecendo. A maioria das empresas já reportou seus números do quarto trimestre. Ainda assim, será outra semana movimentada, com cerca de 60 componentes do S&P 500 programados para apresentação aos investidores. Ainda teremos volatilidade sobre isso.

Para onde vai o petróleo com todo esse impasse no leste asiático?

A Casa Branca alertou que a Rússia poderia invadir a Ucrânia “a qualquer momento”. As tensões sobre a Ucrânia elevaram o preço do petróleo de volta para o maior patamar desde 2014, com o contrato Brent já em US$ 95, mesmo que os mercados ainda estejam relutantes em precificar em cenários extremos — um conflito de grande escala é improvável, mesmo que não impossível. O impacto de um preço mais alto do petróleo depende da duração das tensões e das respectivas sanções.

Nesse meio tempo, porém, a inflação volta a ficar pressionada e ocorre a famosa transferência de renda dos consumidores de petróleo (ruim para crescimento) para os produtores de petróleo (bom para emergentes como o Brasil). Sabemos, com isso, que um impacto nas projeções de crescimento ocorrerá (mais inflação ainda pressiona os BCs a apertarem mais rapidamente a política monetária, impactando ainda mais o crescimento esperado).

Anote aí!

Hoje, aqui no Brasil, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de alguns eventos ao longo do dia, que podem revelar mais das movimentações no interior de nossa autoridade monetária. Isso acontece em meio à temporada de resultados, na expectativa de nomes como Banco do Brasil, Engie e Raízen, e ao Relatório Focus, com as expectativas do mercado.

Lá fora, falas de autoridades monetárias também estão no radar, com o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, voltando a falar (ele tem um posicionamento hawkish, então poderá pressionar os juros novamente, como fez na semana passada). Na Europa, a presidente do BCE, Christine Lagarde, voltou a falar, podendo querer afastar novamente a visão mais hawkish que o mercado foi formando sobre o BCE.

Muda o que na minha vida?

Com a alta do preço do barril, as ações de petróleo flertam com a possibilidade de serem as novas FAANGs aos olhos do mercado. Isso porque uma razão pela qual as ações tropeçaram em 2022 é o baixo desempenho das ações das Big Techs — os resultados fracos da Meta Platforms (ex-Facebook) e do Netlix abateram as FAANGs em 2022.

Diante das dificuldades tecnológicas, os investidores estão migrando para ações de energia. O ETF Energy Select Sector SPDR subiu quase 25% este ano, à medida que os preços do petróleo dispararam. A Chevron está liderando o Dow com um ganho de 16%, enquanto a Exxon Mobil subiu mais de 25%. Assim, mesmo que preços mais altos de petróleo e gás não sejam bons para os consumidores, os investidores estão satisfeitos com o potencial aumento dos lucros para as gigantes do petróleo.

Já virou quase consenso que os preços do petróleo possam subir acima de US$ 100 o barril, principalmente com o conflito Ucrânia-Rússia sendo um catalisador-chave. No curto prazo, quaisquer mudanças nas expectativas sobre uma possível invasão podem causar oscilações adicionais no preço. No longo prazo, depois de os ânimos acalmarem, o preço do petróleo deve se estabilizar em torno de seu valor justo de US$ 90 por barril. De todo modo, prato cheio para os investidores do Vitreo Petróleo.

Um abraço,
Jojo Wachsmann