Colunista Vitreo

Pré-mercado: Será que fechamos a semana melhor do que começamos?

26 mar 2021, 8:41 - atualizado em 26 mar 2021, 8:41
Dançando no congestionamento: imagine a cena acima no Canal de Suez / La La Land (2016)

Bom dia, pessoal!

Algumas notícias positivas se acumulam, frente ao fluxo de informações negativas que estávamos recebendo no início da semana.

Nesse sentido, os mercados abrem em alta nesta sexta-feira (26). O tom positivo se estende da Europa, que já abriu, até os futuros dos EUA, também rodando em alta. A ver…

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Orçamento 2021 aprovado!

Depois de muita negociação (e três meses de atraso), finalmente conseguimos aprovar ontem a Lei Orçamentária Anual (LOA); em outras palavras, o Orçamento oficial para o ano de 2021 – até agora, estávamos funcionando com o orçamento prévio, com base na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), aprovada no final do ano passado.

Houve revisões, uma vez que a peça legislativa elevou as emendas parlamentares, para uso em obras dos seus redutos eleitorais, para um total de R$ 48,8 bilhões – reflexo das concessões do governo à sua nova base no Congresso.

Depois da PEC Emergencial e do Orçamento Oficial de 2021, as preocupações se voltam para

i) o eventual prolongamento (em tempo e tamanho) das medidas emergenciais, como o auxílio; e

ii) o esquecimento da agenda de reformas.

A equipe econômica vai ter que rebolar muito para conseguir fazer passar suas vontades. É possível? Claro que é.

No entanto, ninguém disse que seria fácil, principalmente com um orçamento tão criativo como esse que foi aprovado – a lista de polêmicas no texto de Marcio Bittar (PMDB-AC), relator do texto, como o corte de mais de R$ 26 bilhões em despesas obrigatórias (R$ 13 bilhões só de Previdência), provoca dúvidas sobre os agentes na efetividade da agenda de Paulo Guedes.

Para variar um pouco, mais Fed

O presidente do Fed dos EUA, Jerome Powell, para variar um pouco o discurso, seguiu afirmando que a autoridade monetária continuará estimulando até que a economia tenha se recuperado – o presidente se refere ao nível de emprego.

Neste caso, a política do Fed está dependente de dados (“data dependent”); isto é, reativa aos dados econômicos.

Um problema aqui é que os dados são cada vez menos confiáveis, sempre passando por revisões e com pouca aderência depois da pandemia, principalmente no caso de índices de preços para cestas de consumo genéricas (não capturam mudanças no padrão de consumo). Outro exemplo disso é o PIB dos EUA, que foi revisado para cima, mais uma vez.

Nessa dinâmica, o medo de o Fed ficar “behind the curve” (“atrás da curva”, em tradução livre), ou correndo atrás do prejuízo, assim como ficou o Banco Central brasileiro, cresce entre os agentes financeiros.

Como consequência, o mercado de juros segue estressado, ainda que um pouco mais acomodado do que na semana passada, por exemplo.

Embora o aumento nos juros, em especial o de dez anos (taxa livre de risco do mundo), tenha criado volatilidade, não esperamos que isso atrapalhe com consistência a rentabilidade das carteiras no longo prazo; ou seja, tem mais cara de um choque de curto prazo, acomodando juros no pós-pandemia, uma vez que os EUA estão vacinando pessoas como loucos (Biden ontem dobrou a meta de 100 milhões para 200 milhões de vacinados em seus primeiros cem dias).

Acreditamos, portanto, que o aumento dos juros reflete o otimismo do crescimento e as expectativas de uma inflação mais alta – na semana passada, por exemplo, o Federal Reserve elevou sua previsão de crescimento dos EUA para 2021 para 6,5% e sua projeção para o núcleo da inflação para 2,2%, acima da meta de 2%.

Ainda encalhado

O Ever Given, um enorme navio de contêineres, segue preso no Canal de Suez, depois de perder o controle em meio a ventos fortes e uma tempestade de areia.

Acredita-se que a melhor chance de desencalhar o navio pode não vir até domingo (28) ou segunda-feira, quando a maré chegar ao pico – isso se não levar mais dias para arrumar a situação definitivamente.

Assim, as cadeias de suprimentos, já afetadas pela pandemia, se mostram ainda mais comprometidas: cerca de 12% do comércio global e 30% do volume de contêineres do mundo transitam pelo Canal de Suez, tornando-o uma das vias navegáveis ​​mais importantes do mundo (19 mil navios transitaram por essa rota em 2020); em outras palavras, tem sido mais difícil para os fornecedores obter tarifas de remessa com bons preços.

Se a situação em Suez continuar por um período significativo de tempo, as taxas podem aumentar junto com os preços do petróleo – algumas empresas de navegação serão forçadas a redirecionar os navios ao redor do extremo sul da África (lembra as rotas do Vasco da Gama? Pois é…), o que adicionaria, além de custos, cerca de uma semana à viagem.

Dessa forma, as multinacionais também podem começar a se preocupar, ainda que apenas no curto prazo, com interrupções em suas cadeias de abastecimento, sabendo que qualquer mercadoria importada da Ásia para a Europa sofrerá atrasos.

Estima-se que quase US$ 10 bilhões de mercadorias estão sendo presos por dia, adicionando custos da ordem de US$ 400 milhões por hora.

O episódio também injetou volatilidade nos mercados de petróleo, que têm estado sob pressão recentemente, à medida que os investidores avaliam a oferta e a demanda rumo à próxima fase da pandemia.

Em resposta, os preços do petróleo seguem subindo, à medida que aumentam as preocupações com os embarques de petróleo. Este tipo de episódio mostra como é importante manter posições em commodities na carteira.

Foi com isso em mente que criamos o Vitreo Petróleo, para que nossos investidores conseguissem se expor a uma das commodities mais arbitradas do mundo.

Anote aí!

Para a agenda de hoje, vale acompanhar na Europa o evento entre líderes europeus, que deve tratar, entre outras coisas, da possível retomada dos lockdowns bem como de novos estímulos fiscais para 2021.

Ainda no exterior, o sentimento empresarial alemão também chama atenção, bem como o sentimento do consumidor dos EUA, que também será entregue hoje (os dados de Michigan incluem um componente de expectativas de inflação).

Por falar em EUA, dados de renda pessoal e consumo de fevereiro devem dar mais um cheiro da atividade econômica americana, acompanhados pelo deflator PCE, principal indicador do Fed para a política monetária.

Por fim, no Brasil, dados do setor externo, com conta corrente e investimento exterior direto, marcam o dia e podem trazer pressão ao câmbio.

Muda o que na minha vida?

E essas interrupções na cadeia de suprimentos, hein? Já foram observados problemas na cadeia em todo o mundo devido a fatores pandêmicos, como a demanda reprimida por bens de consumo e uma crescente escassez de semicondutores – note que o tema de escassez de semicondutores tem ficado cada vez mais importante e deverá nortear os mercados se a dinâmica continuar.

Não é para menos, as dificuldades em obter matérias-primas e outros insumos foram tantas recentemente, que levaram o governo Biden a exigir uma revisão das cadeias de suprimentos de produtos essenciais nos EUA – acredita-se que o novo plano de infraestrutura ataque os problemas logísticos americanos (foi o que deu para capturar da coletiva de ontem com o presidente).

Por meio de ordens executivas, Biden quer investigar principalmente a estrutura da cadeia de semicondutores, ingredientes farmacêuticos ativos, baterias avançadas, como as usadas em veículos elétricos, minerais e materiais essenciais.

O processo deve causar mais um boom nos EUA. Em um cenário de política monetária e fiscal acomodatícia e de um programa de vacinação ampliado que deve facilitar a reabertura, existe espaço para disrupção da cadeia de suprimentos.

O processo é global e afeta também os países emergentes, que, em geral, são a ponta inicial da cadeia por conta do fornecimento de commodities.

O Brasil é um caso desses. De proporção continentais e com inúmeros gargalos logísticos estruturais, nosso país bem que podia ter um plano como esse dos EUA.

Fique de Olho

Ontem foi dia de Diário de Bordo, minha newsletter semanal. Nesta edição falei sobre A Divina Comédia, de Dante Alighieri, e fiz um paralelo entre o clássico mundial da literatura e o verdadeiro inferno vivido todos os dias pelas pessoas gravemente atingidas pela crise econômica causada pelo Coronavírus.

É bem verdade que o mercado financeiro tem sofrido diversos reveses com os acontecimentos causados em consequência dessa pandemia, mas nada se compara às perdas irreparáveis causadas pelas mortes de milhões de pessoas ao redor do mundo, ao sofrimento das famílias que perderam seus entes amados, à dor das pessoas que perderam seus empregos e tiveram o sustento da família prejudicado e das que passam necessidades financeiras bastante graves e que precisam de muita ajuda para seguir em frente por ora.

Sobre este último ponto, acho muito importante dar destaque à participação de uma pessoa muito especial, que, no episódio de ontem do RadioCash (o podcast semanal que faço com o Felipe Miranda e a Ana Westphalen, disponível em todas as plataformas de streaming), jogou ainda mais luz sobre o problema enfrentado nas favelas do Brasil: o Gilson Rodrigues, presidente do G10 Favelas e importante liderança de Paraisópolis, comunidade localizada na zona sul do Estado de São Paulo.

Além disso, também falei sobre o lançamento do fundo Essencial Arrojado, que, pelo valor mínimo de R$100, leva para a sua carteira diferentes objetivos e teses, para que você possa, no longo prazo, buscar lucros que, além da famosa “pimentinha” do portfólio, oportunizem o equilíbrio e uma dose de proteção para o seu portfólio.

Ah, nesse Diário de Bordo o Jojo comentou um pouco sobre uma live bem legal e muito direcionada ao investidor pessoa física, que rolou na quarta-feira com o nosso diretor jurídico, Guilherme Cooke, o Felipe Miranda e o Alexandre Costa Rangel, diretor da CVM.

Caso você queira ler a íntegra de seu conteúdo, clique no botão abaixo.

[EU QUERO LER O DIÁRIO DE BORDO DESSA SEMANA]

Um abraço,

Equipe Vitreo