Colunista Vitreo

Pré-mercado: Se não é um, é outro

24 mar 2021, 8:46 - atualizado em 24 mar 2021, 8:46
Brasileiros ontem à noite depois do pronunciamento de três minutos / Meu Pai (2020)

Bom dia, pessoal!

O contexto internacional é temático, alterna o dia a dia a depender de como o mercado vai querer surfar o fluxo de notícias — passamos diariamente por uma rotação setorial: um dia é de busca por teses de valor, seguido por outro em que se volta a ter medo da pandemia, favorecendo setores como tecnologia e saúde; e os dias passam, alternando entre nomes de reabertura econômica e companhias que ficaram para trás.

No Brasil, por sua vez, cresce o sentimento de aversão ao risco.

Hoje (24) pela manhã, a abertura dos mercados na Europa tem um tom negativo dos investidores, enquanto os futuros americanos, por outro lado, iniciam o dia em alta generalizada. A ver…

Pandemia, crise fiscal e insegurança jurídica

A conjuntura estrangeira não nos ajuda: a renovada onda de restrições em diferentes localidades afeta negativamente os preços das commodities (perspectiva de menor demanda), o que impede uma alta robusta de países emergentes, incluindo o Brasil. A aversão ao risco, porém, já tem o fator doméstico por si só para se justificar.

Ontem (23), em rede nacional, Bolsonaro tentou reverter sua imagem de negacionista, mostrando-se a favor das vacinas como nunca antes.

O pior momento da pandemia, somado ao problema fiscal de provavelmente termos que gastar mais ao longo de 2021, faz com que os investidores fiquem receosos.

Para piorar a situação, a ata bem hawkish do BC e a suspeição de Sergio Moro no caso do triplex de Lula são fatores que contribuem para o sentimento de aversão ao risco, que não deve ser eliminado de nossas vidas tão cedo.

Que venham impostos

A piora global da pandemia, em especial na Europa, derrubou as Bolsas no mundo inteiro, proporcionando uma corrida para o dólar e para os títulos americanos. O movimento deve se repetir mais algumas vezes — vai piorar antes de melhorar.

Enquanto isso, Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, como já comentávamos por aqui anteriormente, sugeriu que os planos de gastos futuros do governo (mais sobre isso na seção “Muda o que na minha vida”) seriam financiados por impostos. A conta Covid chega para todo mundo.

Yellen e o presidente do Fed falam novamente hoje. Depois de ontem, o mercado deverá prestar ainda mais atenção. O Fed segue comprando títulos para fornecer liquidez e atender à elevada demanda. Nessa dinâmica, a relação entre as ações e os juros dos títulos, que não poderia ter se mostrado mais forte nas últimas semanas, deve se aprofundar ainda mais.

Inflação, lockdown e intrigas comerciais

Na esteira da escalada da inflação mundial, a inflação dos preços ao produtor no Reino Unido mostrou aumento.

Mesmo que o indicador de preços ao consumidor tenha vindo mais fraco do que o esperado, os investidores têm se preocupado predominantemente com os preços ao produtor, que serão repassados em um segundo momento nas mercadorias.

A alta recente da cotação do petróleo aumentará a inflação do segundo trimestre; as novas restrições em locais como Alemanha e França, porém, impedem que se espere uma grande alta — a cadeia de suprimentos está sob ameaça novamente.

Enquanto isso, para fazer inveja aos EUA, os mercados começam a precificar as tensões entre a União Europeia e a China. Há quem sugira que o Acordo Global para o Investimento (Comprehensive Agreement on Investment – CAI) poderia estar relacionado à disputa.

Os mercados podem se preocupar com qualquer novo desacordo, assim como o fazia nas disputas entre EUA e China, que parecem ter amenizado bastante o tom.

Anote aí!

Por conta das novas restrições, dados da atividade na zona do euro e nos EUA devem ter pouca importância, uma vez que os novos lockdowns impactariam novamente a recuperação.

Nos EUA, os dados de pedidos de bens duráveis ​​chamam atenção — como já conversamos, os bens de consumo duráveis ​​devem ser apoiados pela mudança de gastos com serviços para bens. Depois da queda de ontem das commodities, os estoques de petróleo também são importantes por lá.

Na Europa, prévia da confiança do consumidor e falas de autoridades monetárias fazem preço. Por fim, no Brasil, confiança do comércio e IPC-S Capitais se isolam na agenda.

Muda o que na minha vida?

O progresso da política fiscal de Joe Biden apoia a recuperação cíclica.

O presidente dos EUA mal sancionou o pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão, ordenando aos Estados que tornassem todos os adultos norte-americanos elegíveis para uma vacina contra a Covid-19 até 1º de maio, e sua equipe já está preparando mais um pacotão (a ser financiado com novos impostos).

A sequência de estímulos aumenta a perspectiva de uma normalização mais rápida.

O otimismo de crescimento resultante tem ajudado a empurrar o S&P 500 para uma alta recorde, enquanto os yields do Tesouro dos EUA de dez anos se acomodam acima de 1,6%. Agora, assessores da Casa Branca preparam um pacote de infraestrutura e empregos de US$ 3 trilhões para Biden.

A proposta, sobre a qual os principais assessores de Biden vêm deliberando há semanas, seria segmentada em duas partes distintas: a primeira focada em infraestrutura e energia limpa e a segunda voltada para o que está sendo denominado “economia do cuidado”, com foco sobre as principais questões econômicas domésticas.

O pacote faz parte da agenda de empregos que Biden apresentou durante sua campanha, com um conjunto de possíveis aumentos de impostos sobre empresas e ricos como opções para cobrir alguns dos custos, conforme destacado por Yellen ontem (mais informações podem ser divulgadas hoje).

Claro, por enquanto são apenas ideias; isto é, nenhuma decisão final foi tomada.

Mas à medida que os detalhes da próxima grande prioridade legislativa de Biden tomam forma, investidores e empresas observam de perto. Uma coisa é certa, o norte dos EUA é de grande expansionismo fiscal e de elevação de impostos. O que acontece nos EUA costuma reverberar ao redor do globo.

No Brasil, o aumento de impostos, por sua vez, parece ser inevitável, de modo a dar mais sustentação ao dramático quadro fiscal do país. Resta ver quem vai pagar a conta e como — não se enganem, tributar bancos acaba sendo o mesmo que tributar o tomador de crédito (desincentivo considerável à economia).

Fique de olho!

Hoje teremos uma Live especialíssima. O nosso diretor de compliance, Guilherme Cooke, vai se juntar ao Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, e ao Alexandre Costa Rangel, diretor da CVM.

O tema do papo será o presente e o futuro das regras de mercado voltadas para o investidor pessoa física.

Dilemas informacionais, restrições de acesso a determinados ativos e conflitos de interesse estão na pauta. Sempre de forma clara, transparente e direta, para descomplicar o que parece complicado (ou até mesmo chato).

Nós sabemos como interessa aos nossos clientes temas como a qualificação de investidores (um dos pedidos que mais recebemos é que possamos abrir ao público geral os nossos fundos restritos ao investidor qualificado). Essa é uma chance de ouro para mandar perguntas e enriquecer o debate.

O papo acontece ao vivo neste link às 19h.

[QUERO ASSISTIR AO PAPO]

Um abraço,

Jojo Wachsmann

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