Colunista Vitreo

Pré-Mercado: Rússia parte para a tomada de territórios

24 fev 2022, 9:13 - atualizado em 24 fev 2022, 9:13
Para onde correr em meio ao ataque russo? | 1917 (2019)

Oportunidades do dia

A commodity de 1 trilhão de dólares

Uma improvável commodity tornou-se a protagonista de uma corrida envolvendo as maiores potências e empresas do mundo e estabelecendo um mercado de, pelo menos, 1 trilhão de dólares. Confira o relatório especial liberado hoje.

[QUERO CONHECER]

Bom dia, pessoal!

Lá fora, os mercados sustentam forte correção nesta manhã, em reação ao anúncio do que Putin chamou de “operação militar especial para proteger” os territórios ucranianos na região de Donbass (Donetsk e Luhansk). Apesar de o presidente da Rússia dizer que não planeja ocupar a Ucrânia, fica difícil saber quais serão os desdobramentos dos movimentos mais recentes. Novas sanções dos EUA e da Europa estarão na agenda dos investidores, que acompanham de perto o conflito geopolítico.

A volatilidade é intensa, com correção agressiva na Ásia, Europa e EUA (com seu mercado de futuros já aberto). Durante a madrugada, o petróleo Brent bateu os US$ 100 por barril devido à preocupação com a possível interrupção do fornecimento russo, o que pode ter um efeito positivo no Brasil, apesar do temor inflacionário. Não é trivial a situação e qualquer projeção neste momento deverá ser três vezes mais cuidadosa.

A ver…

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Tiro, porrada e bomba

Depois da divulgação de um patamar inflacionário acima do teto das expectativas pela prévia do IPCA de fevereiro, o Brasil voltou a se preocupar com os preços e com a política monetária, os quais se provaram verdadeiros empecilhos para a formação de expectativas.

Como se não bastasse, ainda temos que nos preocupar com as eleições, que contam com nova pesquisa eleitoral hoje, e com a mobilização de funcionários do Banco Central por reajuste salarial.

Pelo menos os dados de arrecadação foram animadores e a economia, neste início de ano, deverá se mostrar consistente. Para complementar, hoje investidores acompanham a divulgação do Tesouro Nacional do resultado das contas do governo central de janeiro. Adicionalmente, ainda temos a taxa de desemprego do último trimestre encerrado em dezembro e a sondagem da indústria em fevereiro.

Também avaliamos hoje o bom resultado da Petrobras, enquanto esperamos o da Vale — a predominância de commodities no índice brasileiro pode proporcionar novo descolamento do mundo (mesmo se cair, o Brasil tenderia a cair menos).

Território de correção encontrado

Ontem (23), o S&P 500 registrou queda de mais de 10% desde seu último pico. A história mostra, porém, que não devemos nos preocupar muito com o fato de um confronto entre o Ocidente e a Rússia estar sacudindo as ações dos EUA — o mercado consegue precificar muito mal eventos geopolíticos.

Historicamente, o ganho médio do S&P 500 nos 12 meses após fechar em território de correção é de 9,3% desde 1998. Com isso, não podemos deixar de nos lembrar do verdadeiro tema para 2022: a inflação e a política monetária.

Aqui, a questão crítica para os preços das ações não tem sido realmente Vladimir Putin, mas a inflação e a resposta do Federal Reserve a ela. O conflito com a Rússia está apenas exacerbando esse problema para o mercado, pois eleva os preços da energia, ameaçando adicionalmente causar problemas nas cadeias de suprimentos.

A decisão foi pela invasão

Durante a madrugada, as tropas russas lançaram um amplo ataque à Ucrânia depois que o presidente Vladimir Putin deixou de lado a condenação e as sanções internacionais e alertou outros países que qualquer tentativa de interferência levaria a consequências nunca vistas.

O preço do petróleo a US$ 100 por barril, o maior patamar em sete anos, vai ganhar as manchetes do mundo inteiro, apesar de ser o preço médio do petróleo nos próximos três a seis meses que determinará as transferências de riqueza dos compradores de petróleo para os vendedores de petróleo e as mudanças associadas nos padrões de gastos globais.

Outro ponto importante são as sanções, que até agora não assustaram o mercado (ao menos as que entraram em vigor). Um eventual aumento das sanções pode ser mais disruptivo economicamente, impulsionando nova precificação sobre o crescimento econômico para 2022.

Anote aí!

No Brasil, contamos com os dados de desemprego, algumas prévias de inflação e a sondagem da indústria, bem como o resultado do governo central, que deverá apresentar superávit primário de R$ 63,9 bilhões em janeiro.

Lá fora, toda a atenção fica por conta de eventuais novas sanções dos governos ocidentais — o Conselho Europeu, por exemplo, realiza reunião emergencial sobre a situação da Ucrânia. Nos EUA, contamos com pedidos de auxílio-desemprego, PIB do quarto trimestre, índice de atividade do Fed de Chicago e vendas de moradias novas.

Muda o que na minha vida?

A temporada de resultados corporativos nos EUA deveria ter mudado o humor azedo de Wall Street, mas não foi o caso. A maioria dos balanços para o final de 2021 foram publicados e, no geral, pareciam relativamente robustos. Contudo, bons resultados não foram o suficiente para acalmar os investidores nervosos, que estão estressados ​​com a inflação, o aperto monetário e os conflitos geopolíticos.

Por enquanto, com mais de 85% das empresas do índice já tendo reportado seus números, o crescimento dos lucros das companhias do S&P 500 está em 28% no quarto trimestre de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020, de acordo com o The Earnings Scout. Isso está bem acima da média de três anos.

A justificativa para a correção é, portanto, que os investidores, em grande parte, descartaram esses ganhos e, em vez disso, estão se apegando à incerteza sobre o futuro. No fundo, tudo gira em torno dos dados de inflação e do Federal Reserve. A tensão ucraniana acaba servindo como um catalisador para a inflação, o que pressiona novamente os investidores, que hoje buscam por proteções como ouro, prata e commodities, em especial o petróleo.

Um abraço,

Jojo Wachsmann