Pré-Mercado: Recapitulando no aguardo de novas informações
Bom dia, pessoal!
Após dias de nervosismo, a Rússia invadiu a Ucrânia, com o presidente Vladimir Putin afirmando que seu objetivo é derrubar o governo em Kiev. Vários ataques aéreos nas principais cidades já foram relatados, com uma possível escalada das tensões até que as tropas russas alcancem a capital nos próximos dias.
Inicialmente, o consenso era de que a maioria dos mercados de ações caiu e que a fuga para o segmento energético era apenas parte do movimento de risco. A volatilidade foi acentuada pelo ajuste de posição dos grandes investidores institucionais, que venderam pesadamente ontem (24).
Enquanto os mercados asiáticos e europeus tentam se recuperar nesta manhã, em um tradicional rebound pós-venda impulsionado por sanções — ainda que severas, não tão graves — impostas pelos EUA sobre a Rússia. Os futuros americanos, contudo, caem nesta manhã, depois da completa virada de mão na tarde de quinta-feira.
Para hoje, a Otan faz reunião extraordinária, com entrevista coletiva marcada para a parte da tarde — espera-se que os países membros se alinhem em novas respostas ao gigante eurasiano. Novas sanções não são descartadas. O Brasil acompanha o humor global, com sua própria agenda de dados econômicos e resultados a ser digerida.
A ver…
Pós-Vale
Depois de o resultado da Petrobras ter vindo em linha, com a surpresa positiva do grande dividendo a ser pago pela companhia, os investidores se debruçam hoje sobre os números da Vale publicados ontem à noite. O resultado em si foi bom, dando espaço não só para a alta de ontem, na véspera, como no after market de Nova York para as ADRs, que já subiam 0,59% na noite de quinta-feira — a única coisa que preocupa é a provisão adicional de US$ 1,7 bilhão para Brumadinho, que poderá assustar.
De resto, o mercado acompanha ansiosamente o resultado das contas do setor público consolidado de janeiro, depois de os dados de arrecadação e do governo central terem vindo surpreendendo as expectativas e em sua máxima da série histórica. A resiliência fiscal se funde com dados de inflação (IGP-M de fevereiro) e de confiança das empresas. Há espaço para a inflação surpreender para cima, assim como veio pela prévia do IPCA, e continuar pressionando o mercado e a autoridade monetária.
Fique de olho
A recente alta do petróleo no mundo acentuada pela guerra pode colaborar com a valorização de uma outra commodity, considera por muitos a commodity do futuro. Isso porque o petróleo é um combustível fóssil cuja utilização exige a compensação dessa outra commodity, o que pode movimentar um mercado estimado em, pelo menos, 1 trilhão de dólares.
Essa commodity é também protagonista de uma espécie de corrida na qual grandes multinacionais se comprometeram publicamente. Nesse sentido, pode ser uma oportunidade ao investidor aproveitar a alta do petróleo e esse rali entre as maiores empresas do mundo para se posicionar. Conheça aqui a “commodity de 1 trilhão de dólares”.
Volatilidade é o nome do jogo em meio às novas sanções
Foi bem estranho o que aconteceu ontem nos mercados americanos. As ações dos EUA caíram inicialmente na quinta-feira, com o Dow Jones caindo até mais de 850 pontos e o Nasdaq flertando brevemente com seu território de bear market (-20%) pela primeira vez desde 2020. Contudo, liderados por uma recuperação na tecnologia, os três principais índices americanos conseguiram fechar no verde. Tal volatilidade (o Nasdaq transformou uma perda de 3,5% em ganho de 3,3%) enseja cautela por parte dos investidores, que traçam paralelos com momentos de estresse do mercado.
Os mercados parecem estar reduzindo os riscos de cauda. As sanções adicionais anunciadas contra a Rússia importam para o país, mas a economia russa doméstica não importa muito para a economia global, desde que os suprimentos de energia continuem fluindo. As novas sanções de Biden contra a Rússia incluem mais bloqueios bancários e corte de importações de tecnologia, mas ainda sem movimento no Swift (o sistema de pagamentos internacionais). De qualquer forma, em meio aos temores de tensão no mercado energético global, investidores deverão ficar de olho hoje no indicador favorito do Fed para a inflação, o PCE de janeiro
E esse petróleo?
Os preços do petróleo continuaram a subir depois acima de US$ 100 o barril durante as negociações intradiárias de ontem pela primeira vez desde 2014, mas caiu quando o presidente Biden falou (o que se chamou de “Efeito Biden”), pelo fato de não ter anunciado nenhuma sanção ao petróleo russo. Contudo, ainda que não haja uma atuação sobre a oferta, apenas o risco de que haja deverá ser o suficiente para pressionar os mercados globais e as expectativas de inflação.
Se os suprimentos de energia estão fluindo, onde estão os riscos econômicos globais restantes? Preços de commodities mais altos por mais tempo enfraquecem o crescimento para os consumidores de commodities. Adicionalmente, se os preços de energia permanecerem elevados prolongadamente, os bancos centrais ficarão em uma sinuca de bico: por um lado, precisarão elevar os juros para controlar a inflação, prejudicando a economia; por outro, inflação alta por mais tempo machuca a confiança, a renda real e a demanda, já afetando a atividade econômica.
Anote aí!
Na Europa, investidores acompanham o índice de sentimento econômico da Zona do Euro do mês de fevereiro, bem como a inflação de preços ao consumidor na França, já querendo mensurar os efeitos iniciais dos recentes choques nos preços energéticos de janeiro e fevereiro. Ainda teremos a reunião da Otan na Bélgica, que nos fornecerá mais cenas da novela no Leste Europeu. Nos EUA, o destaque é para o PCE, as encomendas de bens duráveis e as vendas pendentes de imóveis. Por fim, no Brasil, contamos com o IGP-M de fevereiro e divulgação de pesquisa sobre avaliação do governo e sucessão presidencial.
Muda o que na minha vida?
Os investidores se preparam para a medida de inflação favorita do Fed, que pode levar a inflação anual para 5,1%. Naturalmente, está claro que a inflação estava em alta em janeiro. Nos EUA, o Índice de Preços ao Consumidor subiu 7,5% em janeiro na comparação anual — o aumento mais rápido em quatro décadas —, enquanto os preços ao produtor subiram 9,7%.
Agora, o último Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) chega nesta sexta-feira. Como medida de inflação favorita do Fed, pode sacudir as ações se vier mais alta do que o esperado, indicando que o banco central pode precisar ser mais agressivo ao aumentar as taxas de juros pela primeira vez em anos.
Notadamente, a inflação deve começar a cair em breve, em um processo de normalização (em especial porque os problemas da cadeia de suprimentos diminuem). Ou seja, ainda que alcance mais de 5% agora, deverá cair para baixo de 4% até o final de 2022, o que poderia reverter a atuação do Fed.
O mercado tem sofrido desde o início do ano com a precificação desse movimento de aperto monetário. No curto prazo, ainda vemos volatilidade derivada desse processo. Uma normalização da inflação, caso aconteça, definitivamente reduziria a volatilidade dos mercados.
Um abraço,
Jojo Wachsmann
P.S.: nossa Transparência Radical voltará na quinta-feira que vem, dia 3 de março, depois do Carnaval. Aproveitem o feriado e não exagerem na bebida, ainda temos muito trabalho pela frente em 2022.