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Pré-Mercado: Quando poderemos parar de falar sobre inflação?

13 abr 2022, 8:48 - atualizado em 13 abr 2022, 8:48
Encontro pouco amoroso? Acionistas da Petrobras se reúnem hoje… | Eraserhead (1977)

Bom dia, pessoal!

Lá fora, os mercados asiáticos tiveram predominantemente um bom dia, apesar das perdas de ontem (12) no Ocidente, em especial nos EUA e na Europa, que repercutiram os dados de inflação americana e as falas de autoridades monetárias (a atuação vocal pelos membros do Fed e do BCE tem sido um importante vetor de volatilidade).

Destaque negativo para a Bolsa chinesa, que reagiu aos dados de importação mais fracos de março (as restrições pandêmicas estão mostrando seus efeitos econômicos).

Os mercados europeus não têm uma manhã de direção única hoje, mas nota-se uma tendência mais negativa para a maioria das Bolsas. Os futuros americanos, por outro lado, conseguem sustentar uma alta nesta manhã.

A ver…

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A nossa querida petroleira volta a ser assunto

Em meio à renovação da alta internacional do petróleo (Brent recuperou os US$ 150 por barril), a Petrobras volta aos holofotes com a sua assembleia de acionistas marcada para a tarde de hoje. Entre os assuntos a serem tratados, podemos destacar a provável aprovação do nome de José Mauro Coelho para a presidência da companhia — conhecido por já ter defendido paridade internacional de preço, Coelho foi bem lido pelo mercado por conta de seu perfil experiente e técnico.

Nota-se que houve bom aprimoramento institucional na companhia desde as mudanças de governança ocorridas depois da Lava Jato. Entra e sai presidente, mas a estatal segue sua programação, sem ser passível de muita interferência sobre sua política de preços, pelo menos até agora.

Outros assuntos do dia são relacionados com:

  1. i) Discussão da paralisação e greve geral de servidores da Controladoria-Geral da União (CGU), do Tesouro Nacional, do Banco Central e da Superintendência de Seguros Privados (Susep); e
  2. ii) Repercussão da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição que permite que estados e municípios descumpram o investimento mínimo em educação, em 2020 e 2021, sem responsabilizar gestores nas esferas administrativa, civil ou criminal — ente da federação que não cumprir o mínimo constitucional deverá aplicar os recursos até o final do ano financeiro de 2023.

Mais um dia de inflação

Depois de o índice de preços ao consumidor americano ter vindo ontem em linha com o esperado — levemente acima das expectativas na comparação anual da base cheia, em 8,5% de alta em 12 meses, e abaixo do esperado no indicador núcleo, que exclui itens mais voláteis e que ganha contornos mais relevantes por dar um indicativo de quão estrutural é a inflação —, o mercado conta hoje com os preços ao produtor (PPI).

Ainda que esteja alta e tenha alcançado seu maior patamar em 40 anos, a inflação americana já dá sinais de desaceleração, visto que a demanda por alguns bens já está se normalizando. A inflação de preços ao produtor nos EUA em março, por sua vez, é mais relevante para o poder de precificação das empresas.

O PPI deve saltar 10,5% na comparação anual, em comparação com um ganho de 10% em fevereiro. Um aumento de 8,4% está previsto para o núcleo do PPI, que exclui os custos de alimentos e energia. À medida que uma onda de resultados corporativos dos EUA se aproxima, os investidores não podem deixar de estar cientes de que a inflação elevada – e a esperada resposta agressiva do Federal Reserve para domá-la – pode prejudicar o crescimento econômico.

O início da temporada de resultados

Nos EUA, nesta quarta-feira (13), o JPMorgan abre a temporada de resultados corporativos, seguido ainda hoje por nomes como BlackRock, Delta Air Lines e Bed Bath & Beyond. Amanhã, contamos com Wells Fargo, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Citigroup.

Os resultados dos grandes bancos nesta semana devem dar mais luz aos investidores sobre os rumos da economia, da inflação e da política monetária a ser adotada pelo Fed. Os investidores, entretanto, esperam ver fraqueza nos resultados de bancos de investimento, particularmente nos mercados de capitais de ações.

Outros fatores que estão sendo observados são os relacionados com salários e preço dos períodos. Nesta temporada, uma onda de empresas aumentando os salários, bem como os preços, provavelmente preocuparia o Fed antes da reunião de maio, sugerindo que o pico de inflação ainda não foi atingido.

Anote aí!

Nos EUA, índice de preços ao produtor e início da temporada de resultados são destaques — falas de autoridades monetárias também são aguardadas. Em solo europeu, temos as falas de membros do BCE e relatório da Agência Internacional de Energia sobre o mercado de petróleo. Nesta manhã, por lá, mercados regados a dados de inflação do Reino Unido, que também estão fortes. Por fim, no Brasil, temos divulgação de pesquisas sobre a sucessão presidencial, bem como dados de vendas ao varejo — o varejo restrito em fevereiro deve crescer 0,2%, na margem, enquanto o ampliado deve subir 1,1% na comparação mensal. 

Muda o que na minha vida?

Você se lembra da Primavera Árabe de 2011, quando pessoas no norte da África e no Oriente Médio lutaram por liberdade e justiça social? Coincidentemente, o movimento social se deu em meio aos preços mais elevados dos alimentos – os preços dos alimentos subiram acentuadamente no período que antecedeu os protestos da Primavera Árabe.

Isso mesmo, inflação descontrolada de alimentos em países mais pobres é fator grave de insurreição popular e estamos vivendo hoje uma possível crise alimentar, como temos falado há algum tempo.

Na semana passada, protestos eclodiram em todo o mundo, do Sri Lanka e Paquistão ao Peru. Outros deverão eclodir ao redor do globo, em resposta ao aumento dos preços nos países, o que pode elevar a violência.

A guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia pioraram muito a situação, uma vez que os dois players são importantes nomes do mercado agrícola mundial (40% das exportações de trigo e milho da Ucrânia vão para o Oriente Médio e a África, por exemplo). Tudo isso está prejudicando particularmente os países que já estão lutando com questões de insegurança alimentar e fome.  

Um abraço,

Jojo Wachsmann