Pré-mercado: Qualquer sopro já é um alento
Bom dia, pessoal!
O Brasil consegue se sustentar, ainda que enfrente diferentes crises nas mais diversas frentes.
Qualquer coisinha que encontramos para resolver parcialmente alguma delas já ajuda o Ibovespa a se manter, como aconteceu ontem (8), quando rompemos finalmente os 118 mil pontos, ao passo que a questão orçamentária flertava com uma solução, mesmo que seja resolvida de fato apenas em 22 de abril.
Enquanto isso, o bom humor contaminou ativos de risco globais, que entregaram excelentes resultados na quinta-feira (S&P renovou máxima no fechamento mais uma vez).
Hoje, a Europa abre de maneira mista, predominantemente no vermelho, mas com estabilidade em certos casos. Os futuros americanos também ficam perto da estabilidade — por enquanto, apenas a Nasdaq se encontra em patamar negativo, mesmo que marginal.
A ver…
Quem aí pediu uma CPI?
Para piorar o clima em Brasília, entra em cena a CPI da Covid, que avaliará a conduta do governo durante a pandemia, especificamente a de Bolsonaro.
Há chances de defesa e consequente desfecho positivo para o Executivo, mas isso depende de qual desfecho ele dará para a questão orçamentária, que está prejudicando a performance dos ativos de risco nacionais, uma vez que um acordo não foi encontrado.
Na questão é importante que Guedes saia vitorioso, garantindo segurança jurídica para o presidente e ainda salvando o Brasil de um rompimento descontrolado do teto de gastos.
O mercado espera um desfecho com contornos fiscais mais robustos, sabendo que a solução de qualquer jeito é temporária e a crise fiscal brasileira é complexa e profunda — não há mais solução que leve pouco tempo.
Dois encontros de Bolsonaro animaram o mercado:
i) com empresas, que ao longo da quinta-feira foi sendo digerido como uma boa presença do presidente perante uma de suas alas de apoio abaladas; e
ii) reunião de Bolsonaro para solucionar a crise. Um direcionamento foi dado para um possível veto parcial à Lei Orçamentária Anual, mas Lira precisa testar isso em sua base.
O presidente não está disposto a correr o risco de cometer crime de responsabilidade — certo ele.
O problema é que talvez a classe política, personificada pelo Centrão, não tenha se dado conta do tamanho do buraco em que colocaremos o Brasil se seguirmos por este caminho.
Novidades nesse sentido devem fazer preço hoje (9).
New “New Deal”…
Desde a posse do presidente Biden, um tema importante surgiu para os EUA, que impactam os mercados de todo o mundo: gastar muito na América.
O ambicioso plano “Build Back Better” (“reconstruir melhor”, em tradução livre) envolve propostas de investimentos em uma escala que não víamos há décadas.
Há três vertentes. Na primeira, para “reconstruir”, um estímulo de US$ 1,9 trilhão já foi aprovado para acelerar a recuperação, garantindo renda e elevando as compras de bens e serviços nos Estados Unidos.
Na segunda, para que a construção seja “melhor”, Biden elaborou um enorme pacote de infraestrutura de US$ 2,3 trilhões para os próximos oito anos, o qual inclui gastos com estradas, pontes e energia limpa. Por fim, a última vertente é sobre elevação de impostos de modo a financiar tudo isso pelos próximos 15 anos.
O início do segundo trimestre, como reflexo disso, tem tido excelente para o índice S&P 500, que ultrapassou a marca de 4.000 pontos — estima-se que o plano geral de infraestrutura, ainda com uma segunda parte a ser apresentada (sim, US$ 2,3 trilhões foi só a primeira parte), pode adicionar 0,5 a 1 ponto percentual às projeções de crescimento no produto interno bruto dos EUA em 2022, flertando com um crescimento de 6% no ano que vem.
Agora, resta saber se o Congresso aprovará tal projeto, que inclui impostos corporativos mais altos.
Toda essa atividade, claro, tem efeitos sobre a inflação. Assim, vale dar uma olhada se os dados de preços ao produtor de março são devidos, já sentindo os efeitos do petróleo, ainda que de maneira temporária.
Contudo, se outras pressões sobre os preços estiverem em evidência, o mercado começará a ficar preocupado — por ora, não parece ser o caso, uma vez que boa parte da inflação ainda reflete o interrompimento das cadeias de suprimentos globais. Mas sempre há espaço para mudança.
Duplinha de digestão de dados: China e Europa
O mercado asiático reflete os dados de inflação da China, os quais mostraram uma aceleração, já sentidos os esperados efeitos dos preços do petróleo.
O índice de preços ao consumidor, relacionado à demanda do consumidor doméstico, subiu 0,4% em março em comparação com queda de 0,2% em fevereiro, já que os preços dos combustíveis saltaram quase 12% em relação ao ano anterior.
Os preços pagos pelos produtores aumentaram 4,4% em relação ao ano anterior. Note que os dados de preços ao produtor não nos dizem muito sobre o preço dos produtos importados da China e devem ser lidos como um sinal de pressões sobre os preços das commodities, em vez de pressões sobre os preços globais dos produtos.
Enquanto isso, na Europa, seguindo os passos do Fed, as atas do BCE foram divulgadas e mostraram preocupações sobre o ritmo lento dos programas de vacinação europeus — efeito sentido nas Bolsas nesta manhã.
Em grande parte, as novas restrições econômicas são o principal motivo do atraso na recuperação da economia europeia.
Exemplo da fraqueza recente da recuperação foi o dado de produção industrial alemã de fevereiro, que caiu com o impacto de novas limitações na Europa. Os mercados esperavam um aumento, então o reflexo tende a ser negativo mesmo.
Anote aí!
Na agenda do dia, o Brasil conta com a medida oficial de inflação, o IPCA, que deverá atingir seu maior resultado para março em seis anos (+1,03%) e ainda furar o teto da meta.
A expectativa da autoridade monetária é que consigam trazê-lo de volta da banda superior antes do final do ano, mas o movimento não é trivial. Também contaremos com a primeira prévia do IGP-M e também com o IPC-S das Capitais (prévia também).
Note que os dados de inflação agora têm um peso muito maior. Roberto Campos Neto e Paulo Guedes falam na sequência do evento do FMI.
No exterior, destaque para os preços ao produtor americano (PPI) de março e estoques do atacado de fevereiro. Dados sobre os poços de petróleo também podem impactar o mercado.
Muda o que na minha vida?
Em 2021, perguntar duas coisas se tornará moda: i) “Você já foi vacinado?”; e ii) “Estamos em uma bolha?”.
O mercado de ações continua a subir, com o S&P 500 e o Dow Jones batendo novos recordes diários com uma frequência impressionante. Há, porém, uma diferença importante entre a alta verificada até aqui, em 2021, e a alta do ano passado.
Basicamente, conforme a economia se recupera e as taxas de juros sobem em vértices mais longos da curva, os investidores estão se afastando da tecnologia e adotando um grupo grande de “ações para a recuperação”, também conhecidas como cíclicas (obedecem aos ciclos econômicos).
São ações de setores que tendem a ter um bom desempenho quando a economia está crescendo. Viagens, turismo, construção, varejo, bancos e… commodities. O Dow, com mais peso cíclico, subiu consideravelmente mais que a Nasdaq, com peso em tecnologia.
Agora, a caça dos investidores gira em torno dessas oportunidades, ainda que guardem posições em tecnologia. Destaque para as commodities que flertam com o início de um novo grande ciclo.
As renovadas restrições de mobilidade na Europa e as paralisações para manutenção das refinarias na China fizeram com que o preço do petróleo bruto Brent caísse em relação ao pico recente.
O bloqueio do Canal de Suez, por sua vez, aumentou ainda mais a volatilidade. Nessa mesma dinâmica, os metais industriais também caíram em relação ao topo de fevereiro.
A correção parece ser mais temporária do que estrutural, fazendo com que investidores procurem por oportunidades em petróleo e metais.
Como as perspectivas macroeconômicas continuam propícias a uma demanda mais forte por commodities em meio à reflação, há uma visão positiva sobre o petróleo e os metais industriais. Acaba sendo um bom momento para os investidores considerarem aumentar a exposição às commodities.
Fique de olho!
Na quinta-feira (08), saiu mais um Diário de Bordo escrito pelo Jojo, e que está recheado de novidades para você.
Nesta edição, Jojo disse o motivo de não está preocupado com o futuro das techs no longo prazo. Sabemos que o momento é turbulento, mas ele explica sobre os ciclos econômicos e como essa situação das empresas do setor tem tudo para ir bem no longo prazo.
Além disso, há detalhes sobre alguns lançamentos muito especiais que ganharam vida durante os últimos dias. Inclusive, está no ar a nossa plataforma de renda fixa e com produtos exclusivos.
E, para fechar, saiu o décimo episódio do RadioCash, desta vez o Jojo, Felipe Miranda e Ana Luísa Westphalen conversaram com o Stelleo Tolda – fundador e CEO do Mercado Livre, confira isso e muito mais no Diário de Bordo.
Para ler essa edição na íntegra, basta você clicar no botão abaixo:
[EU QUERO LER O DIÁRIO DE BORDO]
Um abraço,
Jojo Wachsmann