Colunista Vitreo

Pré-Mercado: Preparados para mais uma semana turbulenta?

08 nov 2021, 8:53 - atualizado em 08 nov 2021, 8:53
Qual a combinação secreta entre os Poderes para a questão fiscal? Army of Thieves (2021)

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Bom dia, pessoal!

A semana marca um novo horário para o mercado de ações brasileiro. A B3 passa a funcionar das 10h às 18h a partir desta segunda-feira (8), seguindo a mudança de horários nos EUA.

Continuamos acompanhando de perto Brasília, onde devemos votar amanhã a PEC dos Precatórios em segundo turno, que encontrou mais um capítulo agora com intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF).

Lá fora, os mercados asiáticos tiveram um início de semana misto, enquanto a China reportou crescimento do comércio – as exportações chinesas em outubro aumentaram 27,1% em relação ao ano anterior, embora isso tenha diminuído o crescimento de 28,1% do mês anterior.

Apesar do bom número, os controles chineses contra a Covid-19 podem prejudicar a atividade, ainda trazendo um quadro de recuperação incerto para o quarto trimestre.

Nos EUA, a temporada de resultados desacelera um pouco nos próximos dias, ainda contando, porém, com grandes nomes como Disney, Unity Software, Coinbase Global e Aurora Cannabis – sem falar na semana de eventos para semicondutores, com eventos de Nvidia e AMD.

A Europa tem manhã difícil, sem conseguir sustentar uma alta, diferentemente dos futuros, que ainda conseguem, mesmo de maneira tímida, subir um pouco.

A ver…

Terror sem fim

Passado o mau humor de quinta-feira (4), o mercado brasileiro reagiu bem ao término do leilão do 5G, provocando boa reação dos nomes listados do setor.

O leilão foi bem-sucedido em entregar as principais faixas para o serviço, superando as estimativas do mercado e conquistando R$ 46,8 bilhões em investimento já leiloados.

Mesmo com a boa notícia estrutural para o segmento, o mercado volta a se concentrar nos gatilhos macroeconômicos, com votação para acompanhar em Brasília e possível judicialização da PEC dos Precatórios.

Na última sexta-feira (5), a ministra Rosa Weber concedeu liminar suspendendo o pagamento das emendas do relator (RP9), usadas para negociar votos à PEC dos Precatórios.

A decisão vai a julgamento no plenário virtual do Supremo, em sessão extraordinária marcada para terça (9) e quarta-feira (10).

O movimento pode travar a votação em segundo turno da PEC na Câmara, que estava prevista para amanhã, adicionando mais um capítulo à saga do nascimento do Auxílio Brasil.

O fator que já era incerto, e contaria com reunião da bancada do PDT para alinhar o posicionamento da legenda em torno da proposta, ganha mais problemas com a nova dinâmica para o Orçamento de 2022.

Depoimento de Paulo Guedes à Câmara sobre suas contas no exterior, marcado para quarta-feira, e filiação de Sergio Moro ao Podemos, com possibilidade de se candidatar à presidência nas eleições de 2022, são eventos relevante para a semana, mas que adquirem contornos secundários em meio aos imbróglios fiscais.

Dias de menor agitação nos EUA?

Os mercados de títulos dos EUA estarão fechados na quinta-feira (11) em comemoração ao Dia dos Veteranos de Guerra, enquanto os mercados de ações permanecerão abertos. O movimento, de qualquer modo, reduz a liquidez dos negócios durante a semana.

Para a semana, além da temporada de resultados, que conta com nomes como AMC Entertainment Holdings, PayPal Holdings, BioNTech, Coinbase Global, Walt Disney, Brookfield Asset Management e a AstraZeneca, o mercado ficará de olho na inflação ao produtor dos EUA na terça-feira e nos preços ao consumidor na quarta-feira.

Hoje, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, falará, podendo dar mais detalhes da decisão tomada na última semana sobre o início da contração de liquidez. Seu tom “dovish” (flexível e expansionista) tem sido vital para manter o otimismo dos mercados.

Infraestrutura é o nome do jogo

Ainda nos EUA, na última sexta-feira, o presidente Joe Biden obteve uma grande vitória com a aprovação da lei de obras públicas de mais de US$ 1 trilhão, um movimento importante para a Casa Branca à medida que a atenção se volta para os feitos de seu governo antes das eleições de meio de mandato em 2022.

O total de votos foi de 228 favoráveis e 206 contrários, sendo que mais de dez republicanos votaram com os democratas.

Agora, o Congresso deve ter um recesso de uma semana e retornar em 15 de novembro com uma lista de itens a serem concluídos até dezembro a fim de evitar uma paralisação do governo e avançar no outro pacote de cerca de US$ 1,85 trilhão que se mostrou difícil de negociar.

Essa medida de dez anos, que reforça os programas de saúde, família e mudança climática, foi posta de lado depois que congressistas moderados exigiram uma estimativa de custo.

O adiamento frustrou as esperanças de que o dia produziria uma vitória dupla para Biden com a aprovação de ambos os projetos.

Ainda assim, o projeto de lei de US$ 1,85 trilhão de Biden é visto como improvável de aumentar o déficit.

Isso porque um comitê não partidário estimou que os aumentos de impostos propostos na conta de gastos sociais e climáticos levantariam US$ 1,5 trilhão em receitas ao longo de uma década e provavelmente não aumentariam o déficit a longo prazo.

Anote aí!

Para a agenda de hoje, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa da abertura da 8ª Semana Nacional de Educação Financeira e pode comentar um pouco sobre crescimento, inflação e fiscal brasileiro.

Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, participa da abertura do seminário “Mercado Digital Regional do Mercosul” – promovido pela Cepal e MRE.

Será bom ouvir o ministro, que poderá falar sobre a PEC dos Precatórios. Além disso, a Câmara pode votar o PL que regulamenta o mercado de compra e venda de créditos de carbono no Brasil – prato cheio para o mercado renovável brasileiro.

Lá fora, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, e o governador do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, têm pronunciamento marcado para hoje.

Por enquanto, o BoE foi o único banco central grande que não deu sinais mais claros de aperto monetário portanto, ouvir o contraste dos dois pode ser algo interessante para formar as expectativas de mercado.

Enquanto isso, a cúpula do clima COP26 segue aquecendo o debate sobre sustentabilidade para os próximos anos.

Muda o que na minha vida?

O mundo dá início ao fim de uma era para os bancos centrais globais. Por cerca de 20 meses, as autoridades monetárias jogaram no sistema financeiro uma quantidade sem precedentes de dinheiro, com o objetivo de limitar os piores efeitos da pandemia de Covid-19 sobre a economia.

Agora, de olho na inflação, eles estão mudando o curso, movimento relevante para o mercado financeiro.

Na última quarta-feira, o Federal Reserve disse que começará a reduzir em US$ 15 bilhões a cada mês as compras de ativos, uma parte fundamental de seus esforços de estímulo, concluindo o programa em meados de 2022.

O banco central da Austrália também tomou medidas para aliviar a política monetária na semana passada, enquanto o Banco do Canadá disse anteriormente que iria parar de expandir seu balanço patrimonial.

O Banco Central Europeu, por sua vez, também está desacelerando o ritmo de suas compras neste trimestre.

Dadas as mudanças de política, você pensaria que os investidores poderiam estar em pânico. Afinal, a quantidade de dinheiro no sistema foi a principal força por trás da euforia do mercado após o crash da pandemia.

Contudo, diferentemente de 2013, quando o Fed sinalizou que acabaria por desacelerar as compras de ativos, não houve estresse por parte do mercado.

Isso porque a mensagem foi extremamente clara e gradual, com muito tempo dedicado para preparar os mercados para esse movimento. Além disso, outros dois fatores são importantes:

i) a economia está se recuperando bem, como podemos ver pelos resultados corporativos, o que dispensa a necessidade de mais estímulos; e

ii) ficou claro que os bancos centrais estariam dispostos a ir “all in” novamente, caso a recuperação pós-pandemia fosse ruim.

Agora, com a inflação subindo à taxa mais rápida em três décadas, a questão é se os bancos centrais precisarão reduzir os estímulos ainda mais agressivamente ou se arriscarão a perder o momento de conter os aumentos de preços. Isso exigirá uma comunicação cuidadosa.

Um abraço,

Jojo Wachsmann

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