Colunista Vitreo

Pré-mercado: Politicagem em todos os lados

25 mar 2021, 8:40 - atualizado em 25 mar 2021, 8:40
Nos bastidores da reunião dos Três Poderes / Os Sete de Chicago (2020)

Bom dia, pessoal!

Instabilidade na curva de juros americana, vaivém do lockdown europeu, imbróglios políticos locais e navio encalhado em uma das principais rotas do mundo.

O noticiário tem acumulado novidades potencialmente negativas, ao passo que os ativos de risco buscam novos gatilhos para a sustentação.

A agenda do dia, no âmbito local e internacional, pode trazer alguma emoção, enquanto os mercados europeus abrem o dia em tom negativo. Futuros de Wall Street têm manhã mista. A ver…

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O resultado da reunião dos Três Poderes

Depois de alcançarmos a marca terrível de 300 mil mortes por Covid-19, o Congresso parece ter imposto alguns limites às falhas de gestão do Executivo diante da pandemia — claro, o Congresso não é a maior referência de gestão do país, mas pelo menos percebeu que as coisas estavam saindo do controle (pandemia, quadro fiscal e desgaste político).

A reunião de ontem (24) entre os Três Poderes parece ter gerado um resultado positivo, ainda que muitos entendam ter surgido muita tensão entre as partes ao longo da conversa — o encontro contou com o presidente Bolsonaro e os presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, além de governadores e ministros.

A impressão que ficou é que o Executivo está transferindo parte da gestão da Saúde para outras áreas.

Duas implicações:

i) possível continuidade do enfraquecimento do governo diante da criação de um comitê de crise; e

ii) temor de que a agenda de reformas seja abandonada.

Especialistas apontam que o resultado da reunião não deverá afetar a condução da equipe econômica, mas nem todos acreditam nisso.

Ao que tudo indica, inclusive, alguns governadores estariam pressionando os parlamentares, agora mais influentes do que nunca, sobre a questão da pandemia, para que o auxílio emergencial volte aos parâmetros de 2020, na faixa de R$ 600, etc.

Não precisamos dizer o quão desastroso isso seria para o longo prazo. A Bolsa deverá refletir esse medo nos próximos dias.

Mais do mesmo e de olho nos indicadores do dia

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, continuaram com suas participações no Capitólio, seguindo da Câmara para o Senado.

Ambos reconheceram que os preços dos ativos estão altos, mas afirmaram que estão mais preocupados com a recuperação econômica, que parece estar se fortalecendo, do que com a estabilidade financeira de curto prazo.

Para sustentar essa ideia, enfatizaram que o pacote de estímulos de Biden não deve levar a um aumento sustentado da inflação e que, se necessário, o banco central tem as ferramentas de que precisa para lidar com as crescentes pressões sobre os preços no curto prazo — veja, essa é a fala padrão do Fed, só significa que ele não falou nada de novo.

Assim, hoje os investidores deverão se atentar aos dados do PIB do quarto trimestre dos EUA, apesar de se tratar de um número revisado.

Atualmente, os EUA parecem ser o país desenvolvido mais preparado para sair da crise, principalmente pelo suporte fiscal e pela campanha de vacinação.

Bom será também que, com este relatório, o deflator PCE também será apresentado — como já conversamos, o PCE se trata de uma medida ampla de inflação que evita alguns dos problemas do índice de preços ao consumidor, já capturando em partes as mudanças no padrão de consumo derivadas da pandemia.

Tem ou não tem lockdown?

A chanceler alemã, Angela Merkel, que está próxima do fim de seus longos anos à frente da Alemanha, voltou atrás e anunciou que as restrições renovadas de cinco dias durante a Páscoa foram canceladas.

No curto prazo, isso evita as consequências econômicas negativas de um novo lockdown mais aprofundado na Europa e estabiliza os preços das commodities, que estavam sensíveis diante da escalada da possibilidade de demanda de países desenvolvidos afetada novamente.

A médio prazo, porém, os mercados temem que isso gere problemas na contenção do vírus em solo alemão, provocando atrasos na normalização econômica. Em outras palavras, um lockdown curto agora poderia evitar um lockdown pior depois.

Anote aí!

A agenda brasileira guarda dois itens principais, ambos ligados à inflação.

O primeiro deles é o Relatório Trimestral de Inflação do BC, que deverá ser lido por muitos financistas ao longo do dia. Além deste, temos também a prévia da inflação oficial de março, o IPCA-15.

Complementarmente, vale checar a sondagem da construção de março e a votação do Orçamento de 2021 no Congresso, apesar de que este último, ao que tudo indica, não deve conter surpresas.

No exterior, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos EUA marcam o dia, podendo começar a mostrar alguma divergência entre os Estados que estão removendo as restrições mais rapidamente que outros.

Na Europa, por sua vez, confiança do consumidor alemão e dados do setor creditício da Zona do Euro devem ter certo espaço.

Muda o que na minha vida?

Como o problema no Canal de Suez afeta a nossa realidade? Um navio de carga do tamanho de um arranha-céu (maior que a Torre Eiffel) que cruzava o Canal de Suez, no Egito, encalhou lateralmente na rota, obstruindo a passagem e, até agora, causando um congestionamento de pelo menos 150 outros navios que precisam passar pela hidrovia.

O fato coloca ainda mais o transporte global em perigo, tal qual as renovadas ondas de lockdown — desta vez, porém, a pressão de preços seria exclusivamente para cima, dado que a disrupção foi só na oferta.

Desde o ocorrido, os esforços para desencalhar o navio usando dragas, escavações e ajuda da maré alta ainda não tiveram o efeito desejado.

Como não podia deixar de ser, o fechamento afeta os embarques de petróleo e gás do Oriente Médio para a Europa, que dependem do canal para evitar navegar pela África.

Em um instante, o preço do petróleo de referência internacional, o Brent, que estava pressionado com a expectativa de queda de demanda por parte da Europa, voltou para cima de US$ 63 o barril.

O bloqueio do Canal de Suez tem impacto relevante no mercado de petróleo. Consequentemente, ele tem um impacto global em todos os preços do mundo — os três fatores que mais influenciam preço no mundo são petróleo, dólar e juros americanos (isso é uma abstração, claro, mas nos auxilia a enxergar com clareza eventuais pressões inflacionárias).

Alta do petróleo costuma ser algo positivo para ativos de risco de países emergentes, como é o caso do Brasil.

Contudo, em um contexto de pressão inflacionária, uma alta do petróleo não deve ser tão positiva assim. O problema deve, porém, ter mais um impacto de curto prazo do que de longo.

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