Pré-Mercado: O sobe e desce da guerra
Bom dia, pessoal!
Ontem (9), os mercados deram uma pausa em sua espiral descendente derivada da guerra na Ucrânia para reavaliar as consequências econômicas, ainda que brevemente. Notadamente, a disposição do governo ucraniano em fazer concessões aos russos (não entrar na OTAN) para encerrar o conflito provocou uma recuperação nos mercados — Moscou também apontou não ter interesse em ocupar a Ucrânia.
Em resposta ao aprimoramento de humor, as Bolsas subiram, o dólar caiu e houve um alívio no temor sobre a inflação e subsequente desaceleração global. Hoje (10), os mercados asiáticos fecharam em forte alta, em linha com o desempenho ocidental de quarta-feira. Ainda assim, é provável que a volatilidade permaneça elevado à medida que os investidores continuam a acompanhar os desdobramentos da guerra.
Mesmo que os investidores comecem a antecipar o fim da guerra, haverá tensão no ar, em especial pela desestabilização econômica — também repercutiu o possível movimento da Opep em elevar a produção, que ajudou na queda do petróleo. Nesta quinta-feira, porém, norteados pela volatilidade e ajustando posições depois da forte alta de ontem, os mercados corrigem na Europa e nos futuros americanos.
A ver…
Acompanhando o ritmo global
Depois de um janeiro e um fevereiro bastante descolados do mercado internacional, nossos ativos começaram a se comportar em linha com o exterior nos últimos dias, diante da escalada das tensões na Ucrânia. Ontem (9), a Bolsa subiu, os juros devolveram suas altas e o dólar quase furou os R$ 5, mesmo que ainda haja receio de possível intervenção na Petrobras caso necessário, de modo a estabilizar os preços.
Quanto menos ruídos da guerra estiverem no radar, mais poderemos voltar à dinâmica de descolamento com os demais mercados desenvolvidos. Para hoje, investidores acompanham a sessão no Senado que poderá votar as propostas sobre o ICMS e sobre o fundo de estabilização de preços dos combustíveis. Ainda em Brasília, contamos também com a sessão de análise de vetos presidenciais (questão do Refis está incluída).
No aspecto econômico, chamaram atenção os dados de produção industrial bem mais fracos do que o esperado (houve queda de 2,4% do indicador em janeiro na comparação mensal), já refletindo a desaceleração brasileira para 2022. Neste pregão, contaremos com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) relativos a janeiro e com os dados relativos ao varejo em janeiro — números mais fracos podem abrir espaço para um Copom mais comedido na semana que vem.
Refletindo sobre a retomada americana
Apesar de hoje os futuros apontarem para baixo nesta manhã, ontem foi um bom dia para as ações americanas. Todo o mau humor recente havia provocado a entrada dos índices dos EUA em mercado baixista (bear market).
Historicamente, porém, o índice sempre se recuperou — quem tivesse comprado S&P 500 no pior momento da crise de 2008 (o nível mais baixo se deu em 9 de março de 2009) teria acumulado mais de 700% de retorno até hoje.
Na segunda-feira, o S&P 500 caiu mais de 2,95%, em sua pior queda de um dia desde outubro de 2020. De setembro de 2008 a março de 2009 houve mais de 30 quedas de um dia de 2,95%. Ontem, porém, o S&P teve sua maior alta desde junho de 2020.
Se a quarta-feira foi dia para nos recuperarmos, a quinta será dedicada aos dados de inflação de preços ao consumidor dos EUA em fevereiro. A estimativa consensual é de alta de 7,8% em relação ao ano anterior para o índice de preços ao consumidor e de 6,3% para o núcleo, que exclui os custos de alimentos e energia.
Política monetária europeia
Ainda para hoje, o Banco Central Europeu reúne-se para definir sobre política monetária, revelando sua resposta inicial à invasão russa. Agora, autoridades anteriormente interessadas em sair do estímulo emergencial em um momento de inflação recorde podem evitar fazê-lo em meio à incerteza sobre o impacto no crescimento, mesmo com os preços subindo ainda mais (pressão de commodities).
Vale lembrar que na última reunião foram necessárias duas semanas de comentários do BCE para reverter as percepções errôneas criadas pela presidente da autoridade monetária, Christine Lagarde. A decisão mais cautelosa, tendo em vista a última reação, seria a de recuar um pouco do último discurso. Ainda assim, percepções sobre a economia e o mercado de trabalho (em especial sobre salários) serão importantes.
Anote aí!
No mundo desenvolvido, a reunião do BCE e o índice de preços ao consumidor de fevereiro nos EUA são os destaques da agenda econômica, enquanto ainda esperamos novidades vindas da Rússia e da Ucrânia. Na Europa, uma reunião de cúpula dos líderes da União Europeia pode chamar a atenção. Ainda lá fora, os EUA divulgam também os pedidos iniciais de auxílio-desemprego para a semana encerrada em 5 de março. Aqui no Brasil, temos pesquisa mensal de comércio, Caged e indicador prévio de inflação pelo IPC-S da primeira quadrissemana de março.
Muda o que na minha vida?
O rápido aumento nos preços globais das commodities desacelerou, com o petróleo caindo das altas recentes. Contudo, apesar do movimento de quarta-feira, os preços das commodities permanecem muito elevados, com os investidores esperando mais volatilidade nos próximos dias, até mesmo por conta das reuniões de política monetária ao redor do mundo (no Brasil e nos EUA estão marcadas para a semana que vem).
Os altos preços das commodities levarão a mais pressão sobre a inflação já acelerada e aumentarão as perspectivas de mais recessões. Os investidores já estão aumentando sua expectativa sobre a inflação enquanto reduzem as perspectivas de crescimento, o que significa que falar sobre estagflação está se tornando mais comum, não sendo mais um caso isolado só do Brasil.
Não só o arrefecimento das tensões na Ucrânia foi importante para isso, mas houve também indicações de um possível progresso dos EUA em incentivar mais produção de petróleo de outras fontes. A Opep+, por exemplo, poderá ter do Iraque e dos Emirados Árabes Unidos apoio para aumentar a produção, reduzindo o preço do barril.
Um abraço,
Jojo Wachsmann