Colunista Vitreo

Pré-Mercado: O quão “super” foi a “Super Quarta”?

05 maio 2022, 8:25 - atualizado em 05 maio 2022, 8:25
Comunicação sobre para onde ir: os BCs sabem mesmo para onde nos levar? | Playtime – Tempo de Diversão (1967)

Bom dia, pessoal!

Depois de uma Super Quarta que acabou saindo melhor do que o esperado, os investidores contam hoje com a continuidade da digestão das decisões de ontem. Para hoje, ainda contamos com o encontro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+), que delibera sobre a produção de petróleo — a decisão é importante depois que a União Europeia divulgou alguns detalhes de seu plano para banir o uso do petróleo russo, o que deverá gerar mais pressão sobre o preço —, e do Banco da Inglaterra (BoE), que deve aumentar mais uma vez os juros no Reino Unido.

Na Ásia, as ações acompanharam o movimento de ganhos de Wall Street verificado ontem (4), repercutindo a elevação da taxa de juros dos EUA e o discurso com tom menos agressivo que acompanhou a decisão. Só ficaram para trás as ações chinesas, que desafiaram o otimismo diante do aumento de casos de Covid-19 e do lockdown no centro financeiro de Xangai. A Europa segue o bom humor de quarta-feira, uma vez que estava fechada quando Jerome Powell falou ao mercado. Já os futuros americanos, porém, corrigem a alta recente.

A ver…

Fazendo exatamente o que era esperado

Conforme era amplamente esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic em 1,0 p.p., para 12,75% ao ano, sinalizando uma provável (atenção para o termo “provável” aqui) alta adicional na reunião de junho, mas com menor magnitude. Isto é, poderíamos subir no próximo encontro da autoridade no máximo 75 pontos-base, indicando uma Selic terminal máxima de 13,5% ao ano. Há no ar um misto de temor recessivo também, o que impacta na decisão do Copom.

Os investidores sabiam que haveria espaço para um comunicado em que a situação seria deixada em aberto, como de fato foi. O comunicado, como sempre, deixou um pouco a desejar. Contudo, desta vez até foi compreensivo. Difícil contratar mais um ajuste para daqui a 45 dias quando sequer sabemos o que vai acontecer na semana que vem; afinal, da mesma forma que recebemos nos últimos meses choques exógenos de cunho inflacionário, também podemos receber alguns desinflacionários.

No ambiente político, Luciano Bivar anunciou saída do partido União Brasil da terceira via, provavelmente pavimentando um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Enquanto isso, três outras notícias entram no radar: i) a Câmara aprovou o piso da enfermagem; ii) foi adiada a sessão do Congresso prevista para hoje, em que poderiam ser votados os vetos à lei que autorizou a privatização da Eletrobras; e iii) o Senado aprovou medida provisória do Auxílio Brasil que instituiu os R$ 400 para o programa.

Menos agressivo do que pensávamos

Ontem (4), o Federal Reserve dos EUA fez exatamente o que era esperado ao aumentar em 50 pontos-base a taxa de juros americana (o maior aumento em 22 anos), para a faixa entre 0,75% e 1%. A diferença foi em relação ao discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, que veio mais dovish (expansionista) do que o esperado — a cautela do BC americano para tratar desse assunto é assustadora. Adicionalmente, devemos ter o início da redução do balanço do Fed a partir do mês que vem e ainda foram contratados mais aumentos de 0,5 ponto porcentual.

Powell expressou confiança de que o Fed está no caminho de domar a inflação sem desencadear uma recessão, recuperando aquela ideia de que os EUA poderiam ter um ajuste monetário de uma maneira suave. Será? Difícil…  Tal “pouso suave” é consideravelmente raro, ocorrendo apenas três vezes nos últimos 65 anos — todas as outras vezes, seguiu-se algum tipo de quebra de eixo econômico (recessão, por exemplo). Além disso, nenhuma dessas outras campanhas de aumento de taxa envolveu uma pandemia, uma guerra e um temor global sobre a cadeia de suprimentos.

Sobre se a inflação atingiu o pico, Powell indicou que verifica evidências de que o núcleo da inflação do PCE (medida favorita do Fed) talvez esteja atingindo um pico ou se achatando. De fato, o mercado entende como provável a chegada de um pico nos índices de preços ao redor do mundo nos próximos três meses, ou ao menos sinais de normalização. Sabendo disso, a autoridade logo descartou um aumento de 75 pontos, como os mais radicais indicam ser necessário. Em outras palavras, da maneira similar ao Bacen, o Fed não quer se prender ao radicalismo nesta altura do campeonato.

E a decisão de política monetária no Reino Unido?

Dando continuidade ao conjunto de autoridades que divulgam suas respectivas decisões de política monetária, ouvimos hoje o Banco da Inglaterra (BoE), que também deve apertar mais sua política, como vem fazendo já há alguns meses. Diferentemente dos demais grandes BCs globais, o BoE já subiu sua taxa de juros algumas vezes, sempre com uma perspectiva mais cautelosa, claro.

Notadamente, a atuação do Banco da Inglaterra soma-se ao movimento do governo britânico do atual primeiro-ministro Boris Johnson, que está promovendo um ajuste fiscal com a maior elevação de impostos desde 1950 (a conta Covid chegou). Tal aperto fiscal eleva os riscos de crescimento e aumenta a chance de uma recessão, como temos conversado neste espaço.

Anote aí!

Lá fora, investidores digerem os pedidos de fábrica da Alemanha e os dados de produção industrial da França, ambos números de março. Nos EUA, os custos unitários de mão de obra devem aumentar no primeiro trimestre, como o dado a ser divulgado hoje deverá nos confirmar. Além disso, a temporada de resultados continua, com nomes importantes hoje, tais como Anheuser-Busch InBev, ConocoPhillips, Kellogg, Metlife, Shell, Vertex Pharmaceuticals e Zoetis. Investidores também acompanham a reunião de política monetária do BoE e o encontro da da Opep+.

No Brasil, temos também vários resultados corporativos, com nomes de peso como Ambev, Gerdau, Direcional, Rumo e Fleury. Contudo, o mais importante de todos será o resultado da Petrobras, a ser divulgado depois do fechamento de mercado. Na agenda de dado contamos com a balança comercial de abril, que deverá ter superávit de US$ 9,6 bilhões. Por fim, no ambiente político, o Congresso deve promulgar o Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria um piso salarial para os agentes comunitários de saúde e de combate a endemias do Sistema Único de Saúde (SUS).

Muda o que na minha vida?

A Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia, divulgou novas sanções à energia russa, incluindo a eliminação gradual das importações de petróleo bruto dentro de seis meses e produtos refinados até o final do ano. Adicionalmente, a UE também propôs que o Sberbank, a maior instituição financeira da Rússia, e dois outros grandes bancos sejam desconectados do sistema internacional de pagamentos SWIFT. A onda de sanções não acaba.

Como consequência, os futuros de petróleo Brent subiram mais de 5%, de volta aos US$ 110 por barril. Os preços do petróleo subiram cerca de 40% desde o início do ano devido ao temor de que a invasão da Ucrânia pela Rússia cause um choque de oferta, alimentando a inflação e aumentando a pressão sobre as economias europeias.

Os europeus estão buscando maximizar a pressão sobre a Rússia e, ao mesmo tempo, minimizar os danos colaterais no próprio continente; afinal, as sanções visam prejudicar uma das fontes mais importantes de receita externa da Rússia (as lucrativas vendas de gás permanecerão intactas por enquanto).

Por outro lado, a Rússia também pode encontrar outros compradores que desejam aproveitar os descontos substanciais em seu petróleo, como Índia e Turquia. Além disso, autoridades da UE confirmaram em particular que a proposta da comissão inclui flexibilidade para a Eslováquia e a Hungria, que são altamente dependentes da energia russa — neste caso, tempo adicional será dado aos dois países para eliminar gradualmente as importações de petróleo, provavelmente até o final de 2023.

Ou seja, vão colocar mais sanções, но не так много (“pero no mucho” em russo). Embora cerca de 25% do petróleo da Europa seja importado da Rússia, existem grandes diferenças no nível de confiança entre os países membros. De todo modo, o bloco precisará encontrar oferta em outros lugares em um momento em que o mercado já está tenso.

Um abraço,

Jojo Wachsmann

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