Pré-mercado: O pulo do gato morto
Bom dia, pessoal!
Os mercados prometem usar os próximos dias para corrigir as subsequentes altas que temos verificado nas últimas semanas.
As Bolsas europeias abriram o dia em queda, acompanhadas pelos futuros americanos – mesmo diante de bons resultados, a correção é observada.
O Brasil, por sua vez, enfrenta novamente problemas com Brasília, que mais uma vez atrapalha a performance dos agentes.
Uma possível manobra fiscal impediu que ficássemos verdadeiramente otimistas com o discurso de posse do novo presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, que prometeu respeitar os preços internacionais.
Já há o famoso burburinho chamando essa recente busca dos 122 mil pontos de “pulo do gato morto”. A ver…
- Um belo drible
Brasília se prepara para traçar uma manobra para a interminável novela do Orçamento, que nesta segunda-feira (19) fez preço sobre o Ibovespa, fazendo com que perdêssemos os 122 mil pontos conquistados pela manhã.
As falas de ministros palacianos frustraram a expectativa do mercado e, depois de alguns meses atrasado, o Executivo parece ter fechado com o Congresso a questão sobre o Orçamento.
Resta saber se toda a equipe econômica está junta e misturada com a tentativa de flexibilizar o Orçamento – como dissemos, a questão será vetada parcialmente.
Ao que tudo indica, podemos estar nos distanciando da credibilidade fiscal, importante para atrair capital para o Brasil – um novo projeto de lei, acordado para satisfazer os parlamentares, retira da meta fiscal diversos gastos relacionados com a pandemia.
Ao todo, o cheque da Covid pode superar a marca de R$100 bilhões este ano (sim, quase R$ 100 bilhões fora da meta fiscal).
É o preço de se ter como base política o Centrão, que teve garantida suas emendas parlamentares, preservando as regras do teto de gastos e da meta de déficit primário. Resta agora irmos às vias de fato da sanção.
Quais os próximos passos da agenda de reformas, prometida por muitas alas no Congresso, mas que parece cada vez mais distante?
O início da formação do exército?
Um dos ministros do governo da Holanda sugeriu, em linha com as ideias do Departamento do Tesouro americano, comandado por Janet Yellen, que um acordo tributário corporativo global poderia ser alcançado ainda neste ano.
Mesmo que a frase soe demasiadamente otimista, uma vez que a própria Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vem tentando há anos e nem mesmo a Zona do Euro tem conseguido chegar a um acordo internamente, isso pode representar o início da disseminação da narrativa de Biden em escala global.
Se gradualmente, ao longo dos próximos meses, mais e mais pessoas se juntarem ao exército de defensores de um imposto mínimo global, a ideia poderá se materializar.
Por falar em Biden, as negociações pelo pacote de infraestrutura de US$ 2,3 trilhões já começaram – espera-se que avanços sejam conquistados no Congresso antes que a Casa Branca apresente a segunda etapa do plano, que deverá contar com mais US$ 1 trilhão.
Para financiar os gastos pelos próximos oito anos, no que promete se tornar o maior projeto em infraestrutura desde Reagan, a equipe econômica democrata deverá elevar os impostos corporativos para 28%, entre outras coisas, como a própria defesa do imposto mínimo global, que visa evitar fuga de capital dos EUA.
Por ora, o mercado parece não ligar para o aumento de impostos, mas uma eventual maior resistência republicana poderá levar a um momento ruim para os ativos de risco, que já precificam os estímulos.
Um ano de preços negativos
Passou-se um ano desde que os futuros de petróleo bruto West Texas Intermediate (WTI) de referência dos EUA fizeram história ao negociar pela primeira vez em patamares negativos – em 20 de abril de 2020, o contrato de petróleo bruto WTI de maio fechou a sessão em US$ 37,63 negativos o barril.
De lá para cá, os preços se recuperaram para negociar acima dos níveis pré-pandemia, uma vez que se limpou do cenário o risco mais extremo de estocagem – os preços negativos foram resultado do mercado adiando o plano de ações, uma vez que produtores não queriam interromper a produção.
Hoje, já temos níveis saudáveis para os preços do petróleo novamente e a perspectiva de oferta global da commodity parece bastante estável, dado o compromisso contínuo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) em apoiar os preços por meio de limites de produção.
Claro, o processo está imerso em um contexto de possível novo ciclo de alta para as commodities, puxado pelo crescimento dos EUA e da China – a China, por sinal, manteve a taxa de juros (um aperto monetário no gigante asiático pode representar problemas para as perspectivas de crescimento global e para o mercado de commodities).
Anote aí!
Em semana de agenda mais esvaziada, os mercados criam expectativa para a reunião do BCE, marcada para quinta-feira (22).
Hoje (20) seguiremos acompanhando os resultados no exterior, enquanto a temporada não se inicia por aqui e no Reino Unido. Nos EUA, destaque para os estoques de petróleo e derivados, que podem afetar o preço internacional.
No Brasil, Monitor do PIB da FGV e arrecadação tributária federal de março prometem agitar o dia, enquanto a participação de Paulo Guedes (Economia) em entrevista coletiva deverá chamar atenção para o mercado, na esteira dos acontecimentos recentes – o governo tirando os gastos com Covid de dentro do teto (um cheque em branco que deverá somar R$ 100 bilhões).
Muda o que na minha vida?
Ainda enfrentamos instabilidade na linearidade com que o mundo combate a Covid-19. Enquanto o Brasil parece começar a esvaziar a segunda onda, a Índia dá início ao enfrentamento do seu pior momento na pandemia. Ou seja, o progresso global no controle da pandemia permanece irregular.
Na Europa, que foi fonte de tensão em março por não saber se fechava ou abria, o Reino Unido tem anunciado uma flexibilização das restrições após um rápido esforço de vacinação.
Recentemente, dados britânicos sugeriram que a ausência de medo, combinada com o fim das restrições, levou a um rápido aprimoramento do setor de serviços.
As surpresas econômicas positivas podem continuar, com a vitória das teses de reabertura em um horizonte para os próximos 12 meses.
Agora, chegou a vez da Zona do Euro.
Os mercados seguem acompanhando os reveses no combate à pandemia, uma vez que este afeta as perspectivas de retomada econômica, ainda que tenhamos visto as ações globais atingindo níveis recordes.
Em grande parte, o movimento se justifica pelo fato de a demanda europeia estar sendo atrasada em vez de perdida por causa de restrições; ou seja, apenas estamos retardando o inevitável.
Dados recentes mostraram que os EUA continuam sendo um motor global de crescimento, o que seria outra plausível explicação para as altas dos ativos de risco.
Como ainda seguimos com nossas políticas estimulativas, as condições positivas são mantidas.
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Jojo Wachsmann