Colunista Vitreo

Pré-Mercado: O mercado é um bicho sentimental e sensível

18 fev 2022, 9:27 - atualizado em 18 fev 2022, 9:27
Procurando vida em meio a um oceano de ruídos | WALL·E (2008)

Bom dia, pessoal!

Lá fora, as ações asiáticas caíram nesta sexta-feira (18), acompanhando o recuo de ontem em Wall Street, à medida que voltamos a ter preocupações crescentes sobre a possibilidade de a Rússia invadir a Ucrânia. No aspecto positivo, o Japão informou que sua taxa básica de inflação, excluindo os custos mais voláteis (energia e alimentos), veio em janeiro abaixo da meta de 2% do Banco do Japão, o que afasta a chance de um aperto monetário mais duro por lá no curto prazo.

Os mercados internacionais tentam se recuperar do golpe de ontem, com Bolsas europeias esboçando leve alta nesta manhã, seguidas pelos futuros americanos, pelo menos por enquanto. Por aqui, a agenda de indicadores é bem vazia, permitindo que possamos surfar um pouco do humor de recuperação global. Depois de sete pregões de alta, fechamos em queda ontem aqui no Brasil — árvores não crescem até os céus e mesmo os mercados de alta precisam de eventuais correções.

A ver…

Tentando precificar o fim de ciclo monetário brasileiro

No Brasil, o grande esforço dos investidores tem girado em torno de precificar com clareza os próximos passos do BC local, que já está próximo dos passos finais do ciclo de aperto monetário. Para tal, a reunião trimestral com os diretores da instituição pode ser interessante para balancear as expectativas. Atualmente, a Selic terminal gira ao redor de 12,5% (há quem precifique 13%, mas ainda não são unanimidade).

Paralelamente, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de reunião com representantes do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central do Brasil (Sinal), da Associação Nacional dos Analistas do Banco Central do Brasil (ANBCB) e do Sindicato Nacional dos Técnicos do Banco Central do Brasil (SinTBacen) para discutir reajuste salarial de funcionários do BC. O tema dos reajustes deve ganhar relevância quando endereçarmos a questão dos combustíveis.

Sobre este último tema, ficou definido um novo encontro entre parlamentares na semana que vem para debater especificamente os dois projetos que tratam sobre os combustíveis. Para diminuir a insatisfação de algumas alas, uma série de mudanças deve ser contemplada no texto para que a matéria seja aprovada. Quanto menos impacto fiscal a peça legislativa tiver, melhor para o mercado.

Sentimentos geopolíticos

Os sinais contínuos de escalada no conflito entre a Ucrânia e a Rússia justificaram o movimento de correção de ontem do mercado americano, somados, é claro, com dados econômicos mais fracos do que o esperado e incerteza sobre o processo de aperto monetário nos EUA. Em relação ao primeiro tema, autoridades da Casa Branca afirmaram que uma invasão russa da Ucrânia pode ser “iminente” (mais uma vez).

Apesar da situação na Ucrânia preencher as manchetes dos jornais, todos nós sabemos qual o verdadeiro temor do mercado: a política monetária do Federal Reserve está prestes a mudar, e isso é suficiente para deixar todos tensos. Com isso, os investidores, desconfiados de qualquer má notícia, não conseguiram manter um impulso positivo nos mercados de ações em todo o mundo, pois os riscos geopolíticos dominam as manchetes.

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Entre tapas e tapas

Contrariando o posicionamento recente de Christine Lagarde, a presidente do BCE, que tem se esforçado para diluir o temor de aperto monetário desde a última reunião da autoridade monetária, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, falou de “normalização” de políticas, buscando descrever o desejo de estabilizar o crescimento acabando com as flexibilizações monetárias na economia.

Se de um lado o temor de um enxugamento de liquidez na Europa é ruim para os mercados, do outro, não de maneira positiva, a ansiedade sobre um possível conflito no Leste Europeu pressiona ainda mais o sentimento dos investidores. Ontem (17), o presidente Joe Biden alertou que a Rússia, que se acredita ter reunido cerca de 150 mil soldados perto das fronteiras da Ucrânia, poderia invadir em poucos dias.

A crise na Ucrânia paira sobre os mercados há semanas, aumentando a volatilidade. A Rússia é um grande produtor de petróleo e gás. Caso invada a Ucrânia, outros governos responderão com sanções econômicas, o que poderá impedir o acesso a cerca de 7% do mercado global de energia, o que pressiona novamente a cadeia de suprimentos e os preços da economia (mais inflação), o que se traduz em mais ajuste monetário, visando estabilizar os preços.

Anote aí!

O Brasil digere os resultados corporativos de ontem, enquanto espera pelos números da Cosan no fechamento de hoje. Em agenda esvaziada no âmbito local, acompanhamos a reunião do trimestre do BC com economistas, bem como a participação de Roberto Campos Neto em reunião com sindicatos de funcionários da instituição. Teremos também a divulgação da pesquisa XP/Ipespe sobre eleição para presidente e governador no estado de São Paulo.

Lá fora, os mercados avaliam as vendas no varejo do Reino Unido em dezembro, que foram revisadas para baixo, e as vendas de janeiro, que vieram mais fortes em reação. Nos EUA, depois dos dados fracos de ontem, investidores aguardam pelos dados de vendas de casas existentes e pelas falas de autoridades monetárias — três oradores do Fed falam hoje (tais pronunciamentos têm gerado volatilidade).

Muda o que na minha vida?

Ao que tudo indica, a pandemia de Covid-19 finalmente está chegando ao fim. Com isso, a aceleração da digitalização desencadeada pela pandemia, que se espalhou no primeiro semestre de 2021, estará menos presente a partir de 2022. Tal entendimento, por mais simples que seja, tem um caráter temático e estrutural muito importante para o mercado, que parece ter perdido o interesse pujante por tecnologia de fronteira.

Chegamos a um ponto em que o vírus não está mais atrapalhando nossas vidas diárias, apesar de ainda precisarmos controlá-lo em muitas localidades e da necessidade de o processo de vacinação continuar. Contudo, os investidores não parecem ver muitas empresas preparadas para o pós-pandemia. Compreender que não estamos mais em uma realidade de pandemia sem controle será fundamental para firmamos nossas posições em 2022 e adiante.

Um abraço,

 

Jojo Wachsmann