Colunista Vitreo

Pré-Mercado: Mastigando o Copom de ontem

03 fev 2022, 9:35 - atualizado em 03 fev 2022, 9:35
A inflação é um bicho duro de matar / Duro de Matar (1988)

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Bom dia, pessoal!

Os mercados globais amanhecem de mau humor, mesmo com a pouca liquidez derivada do mercado asiático, ainda em grande parte fechado por conta do feriado  de Ano Novo Lunar.

A Europa, na véspera de duas grandes decisões de política monetária – da Zona do Euro (BCE) e do Reino Unido (BoE) – também não tem uma vida fácil nesta manhã de quinta-feira (3).

O destaque negativo fica por conta dos futuros americanos, em especial o Nasdaq, que reage à frustração dos investidores em relação ao resultado de Meta Platforms (ex-Facebook) — no after-market de ontem, as ações da companhia caíram mais de 20%, movimento que terá desdobramentos no pregão de hoje.

Apesar de acompanhar a dinâmica global usualmente, as últimas semanas foram de descolamento do Brasil frente ao resto do mundo, para o bem e para o mal.

Ainda há espaço para ganhos nos mercados brasileiros, apesar do ambiente hostil no âmbito internacional.

Pelo menos o fluxo estrangeiro segue forte, principalmente depois da alta de juros de ontem, que deverá ser digerida hoje.

O mercado de energia também está bastante agitado.

Os contratos futuros de petróleo bruto subiram ligeiramente no último pregão, estacionando ainda abaixo de US$ 90 o barril, depois que a Opep e seus aliados (Opep+) mantiveram os planos de aumentar a produção em 400 mil barris de petróleo em março.

A tendência de alta para o preço da commodity deve continuar a ser positiva nos próximos meses.

A ver…

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Mastigando o Copom de quarta-feira

Na noite de ontem (2), o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou em 150 pontos-base a taxa Selic, colocando-a em 10,75% — é a primeira vez que alcançamos a marca de dois dígitos em mais de quatro anos.

Foi o oitavo aumento seguido da taxa básica de juros, em um processo de aperto monetário iniciado em março do ano passado.

Trata-se do contracionismo de liquidez mais agressivo desde o final da década de 90, quando o BC jogou a Selic para cima em 20 p.p.

O movimento em si foi dentro do esperado, restando a formação de expectativa pelo comunicado que acompanha a decisão.

Assim, já caminhando para o final do ciclo de aperto, o BC começou a reduzir seu tom, sinalizando desaceleração do ritmo verificado até aqui.

Com isso, conforme a própria autoridade monetária indicou, o Copom sinalizou como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros.

O tom mais dovish (“relaxado”), relativamente aos encontros anteriores, deve ser bem recebido pelo mercado, que não deverá realizar grandes ajustes no dia de hoje.

Resta agora entender até que ponto vai o ciclo, com a Selic terminal devendo repousar entre 11,75% e 12,25%.

Encerrado o processo atual, poderemos ter espaço para normalizar o nível de inflação, abrindo uma janela para, em um segundo momento, reduzirmos a Selic de volta para um dígito.

A reação do dia em relação a isso deveria ser comportada, ficando mais relacionado com os desdobramentos internacionais.

Hoje, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deve participar de encontros com o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e, mais tarde, com representantes de sindicatos e associações para tratar do reajuste salarial dos servidores.

Eventuais novidades serão acompanhadas de perto pelo mercado — toda e qualquer palavra do presidente pode ser importante.

Uma temporada de resultados curiosa

A queda de mais de 20% da Meta Platforms (controladora do Facebook) no after-market de ontem contratou um dia difícil para o setor de tecnologia americano, que deverá se espraiar para os demais setores e, consequentemente, índices — já pela manhã, os futuros abriram corrigindo consideravelmente.

O movimento se deu após perspectivas surpreendentemente fracas para a empresa, derivada da divulgação de seu resultado.

À medida que nos aproximamos da metade da temporada de resultados trimestrais nos EUA (ela só começou no Brasil na terça-feira), somos lembrados de que as coisas não devem ser tão simples quanto foram nos últimos anos, em meio ao aperto monetário por parte do Fed e na sequência do pior mês para as ações desde o início da pandemia.

Muitas preocupações permanecem com as taxas de juros mais altas, a inflação persistente e resultados frustrantes, sem mencionar o nervosismo com a situação geopolítica no Leste Europeu.

Sobre a questão do Fed, o mercado ficará de olho em Washington hoje.

Três potenciais novos funcionários da autoridade monetária serão objeto de uma audiência do Comitê Bancário do Senado nesta manhã, o que poderá gerar pressão de preços a depender do que for dito por lá.

Paralelamente, o mercado aguarda os resultados de Amazon, ConocoPhillips, Eli Lilly, Merck, Shell e Snap — eventuais novas decepções terão peso adicional na performance do dia.

É dia de decisão na Europa

Os bancos centrais europeus atraem alguma atenção hoje. Espera-se que o Banco Central Europeu (BCE) mantenha as taxas de juros em sua reunião, podendo ou não sinalizar que pretende manter o mesmo patamar de taxa pelo resto do ano.

O Banco da Inglaterra (BoE), por outro lado, deve seguir aumentando sua taxa de referência em mais 25 pontos-base, para 0,5%, seu segundo aumento consecutivo de taxa.

O Banco da Inglaterra se antecipou aos demais bancos centrais de países desenvolvidos e aumentou as taxas já em dezembro, reagindo a uma combinação incomum de aumentos simultâneos de preços energéticos e impostos.

Os preços de energia na Europa, que deveriam cair com o final do inverno, continuam pressionados por conta das questões geopolíticas, o que poderá proporcionar continuidade da inflação energética no país em 2022.

É uma questão de tempo para que muitos bancos centrais das economias desenvolvidas sigam o exemplo e comecem a aumentar as taxas ainda este ano.

O próprio Fed sugeriu que um aumento da taxa de juros está chegando em março — investidores acompanharão o relatório de empregos de janeiro na sexta-feira para dados de crescimento salarial e inflação, o que pode afetar futuras decisões do banco central americano.

A situação do BCE, no entanto, é um pouco diferente.

A presidente da autoridade monetária europeia, Christine Lagarde, é indiscutivelmente a mais pacifista dos principais presidentes de bancos centrais do mundo.

Recentemente, ela argumentou que é improvável que o BCE aumente as taxas em qualquer momento de 2022, já que a pandemia de Covid continua sendo um grande desafio econômico. Tal afirmação deverá ser preservada no comunicado de hoje.

Anote aí!

Lá fora, nos EUA, chama a atenção os dados semanais de pedidos de auxílio-desemprego iniciais e contínuos.

Vale também acompanhar a divulgação dos custos trabalhistas unitários dos EUA, uma medida trabalhista bastante importante para a inflação.

Por fim, temos também o índice de serviços americano para janeiro e os pedidos de fábrica para dezembro. Na Europa, destaque para as reuniões de política monetária e a inflação ao produto da Zona do Euro.

No Brasil, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se reúne com líderes partidários para definir a pauta de votação da próxima semana — combustíveis devem ser o nome da vez, com parlamentares querendo uma solução ainda em fevereiro (a criação do Fundo de Estabilização de Preços dos Combustíveis, defendida pelos governadores, parece ser a melhor para o mercado).

Muda o que na minha vida?

Foi um verdadeiro banho de sangue a reação ao resultado da Meta Platforms (ex-Facebook).

As ações da empresa caíram mais de 20% nas negociações após o expediente (after-market), o que se traduziria em tese a uma perda de valor de mercado de mais de US$ 175 bilhões de uma só vez.

Se o declínio for mantido na abertura de hoje (o que parece ser o caso), as ações deverão conquistar 35% de queda em relação ao seu recorde estabelecido em 7 de setembro de 2021.

Problemas derivados de mudanças de privacidade no software móvel iOS da Apple e queda no número de usuários ativos diários do Facebook (1,929 bilhão no quatro trimestre) prejudicaram muito a percepção do mercado.

Contudo, o real gatilho para o movimento foi, na verdade, o guidance da empresa (assim como no caso da Netflix).

Segundo a previsão da companhia, o crescimento da receita no trimestre atual poderia ser da ordem de 3%, uma forte desaceleração em relação ao ganho de 48% registrado no primeiro trimestre do ano passado.

Essa previsão levanta questões não apenas sobre as perspectivas de crescimento da Meta, mas sobre o setor de publicidade online e mídias sociais de maneira mais ampla.

Ao que tudo indica, a Meta está tendo sérios problemas em seu negócio principal, com desaceleração do uso dos principais serviços da empresa — a tentativa de rebranding no final do ano passado, buscando se lançar para outro segmento ainda inexistente, parece agora muito mais uma percepção interna de que as mudanças verificadas nos últimos meses poderiam ser irreversíveis.

Claro que uma queda dessa magnitude de um titã como o Facebook repercute em todo o mercado, com desdobramentos mais severos sobre empresas de mídias sociais, como Snap, Twitter e Pinterest.

O dia será difícil para tecnologia em âmbito global, com potenciais desdobramentos negativos para o setor no resto de 2022.

Um abraço,

Jojo Wachsmann