Pré-Mercado: Mal acabou e já voltou a acontecer
Bom dia, pessoal!
Os mercados internacionais não amanhecem tão bem diante do fato de a Rússia não estar dando sinais de recuar hoje (17), conforme divulgado por alguns veículos de notícia no início da semana. A Europa segue a Ásia e não consegue sustentar um tom predominantemente positivo nesta manhã.
Os futuros americanos também apresentam queda depois de a ata do Fed manter o tom duro da autoridade monetária. O Brasil, por sua vez, tem se descolado do humor global, com forte entrada de recursos estrangeiros, que buscam ativos descontados em meio à rotação setorial.
A ver…
É chuva de dólares
O Brasil tem experimentado uma grande entrada de capital internacional, movimento que favorece o real — no ano, o fluxo total segue positivo em US$ 6,57 bilhões. Com isso, ontem (16) o dólar à vista atingiu sua menor cotação desde o início de julho do ano passado no fechamento, em R$ 5,1279 (uma queda de quase 8% no ano). A Bolsa brasileira também é embalada pelo gringo, voltando para cima de 115 mil pontos pela primeira vez em cinco meses.
Enquanto o mercado espera as prévias da inflação de fevereiro, podemos ficar menos preocupados com Brasília, pelo menos nesta semana — o Senado adia a votação de projetos sobre combustíveis para a semana que vem. A reunião trimestral de diretores do Banco Central e o encontro do Conselho Monetário Nacional acontecem hoje. Não houve arrefecimento das apostas para uma Selic acima de 12% ainda neste semestre, mas os eventos devem chamar a atenção dos investidores locais.
Não disse muito, mas também não disse pouco
A quarta-feira (16) reservou a divulgação da ata da reunião do Fed em janeiro, que indicou, entre outras coisas, que será apropriado começar a redução de balanço após o início do ciclo de redução dos juros e que tal redução será mais rápida do que no passado recente (tentativa de 2017/2018 de reduzir o balanço), dadas as condições bizarras atuais. De todo modo, o tom mais agressivo do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, não é unanimidade dentro da autoridade, o que dá brecha para um alívio.
Contudo, o documento, apesar de relevante e de tom duro, não esclareceu as intenções de curto prazo do Fed. No fim das contas, as atas não revelaram nada de novo sobre a direção que o Fed provavelmente tomará. Contudo, paralelamente, os mercados absorviam dados fortes de produção industrial e de vendas no varejo em janeiro, ambos os dados acima da expectativa do consenso. O calor da economia americana sinaliza que a inflação não se normalizará tão cedo, forçando o Fed a atuar.
Arrefecimento de tensões durou pouco
A atenção europeia ainda está focada na Ucrânia. De ontem para hoje, novas informações foram assimiladas pelos investidores, que passaram a entender, conforme sinalizou a Casa Branca, que a Rússia não só não está retirando suas forças da fronteira, como teria colocado mais sete mil soldados nos últimos dias. Apesar dos esforços diplomáticos ocidentais, as mobilizações aumentam a chance de um conflito.
Sobre o tema, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, afirmou que a organização escutou os sinais de Moscou sobre a continuação dos esforços diplomáticos; entretanto, até agora, a Otan indica não ter visto qualquer desescalada no terreno. A volta das tensões aquece o sentimento de aversão ao risco e gera volatilidade nos mercados, em especial o de energia.
Anote aí!
Na agenda doméstica, acompanhamos a participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em diversos eventos ao longo do dia. Eventuais falas sobre condução de política monetária poderão refletir sobre o mercado. A temporada de resultados segue firme por aqui, como nomes como Neoenergia e Rumo. No aspecto econômico, índices prévios de inflação, como o IGP-M (segunda prévia de fevereiro) e o IPC-S Capitais (segunda quadrissemana de fevereiro), marcam o dia.
Lá fora, o presidente Jair Bolsonaro tem reunião com o presidente da Hungria, János Áder, e com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Nos EUA, a temporada de resultados aguarda por nomes como Palantir Technologies, Roku e Walmart. Paralelamente, os investidores aguardam pelos dados de novas construções residenciais para janeiro, bem como os tradicionais pedidos iniciais de auxílio-desemprego para a semana encerrada em 12 de fevereiro. Falas de autoridades monetárias na Europa e em solo americano são esperadas.
Muda o que na minha vida?
Há muita preocupação nos mercados sobre uma potencial invasão russa da Ucrânia e aumentos das taxas de juros pelo Federal Reserve. De fato, tais fatores macroeconômicos e geopolíticos têm bastante influência sobre um mercado informado e sensível como o atual. Contudo, como pano de fundo, as empresas continuam a gerar lucros muito fortes, uma dinâmica que pode impedir que as ações caiam demais, apesar da pressão de venda.
Nos EUA, aproximadamente três quartos das empresas do S&P 500 já divulgaram seus resultados dos últimos três meses de 2021. De acordo com a FactSet, 77% superaram as expectativas de Wall Street, que estão acima da média de cinco anos. Espera-se agora que as empresas do índice cresçam os lucros do quarto trimestre em mais de 30%, com base nos resultados já divulgados e nas projeções dos que faltam.
Porém, nesse aspecto, nem tudo são flores. As expectativas para o futuro estão ficando mais nebulosas, uma vez que, para o primeiro trimestre de 2022, até agora pelo menos 47 empresas disseram esperar lucros menores do que o previsto anteriormente, enquanto apenas 17 aumentaram suas expectativas. Tais sinalizações indicam que estamos em um ponto de inflexão para os lucros corporativos, depois da grande recuperação pós-pandêmica (as coisas precisam se normalizar agora).
Um abraço,
Jojo Wachsmann