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Pré-Mercado: Já podemos pedir para o mês de abril voltar?

10 maio 2022, 8:36 - atualizado em 10 maio 2022, 8:36
Pré-Mercado
Teria a ata do Copom de hoje um cunho libertador para o mercado local | A Árvore da Vida (2011)

Bom dia, pessoal!

Lá fora, nesta manhã, acordamos com os mercados asiáticos encerrando o dia predominantemente em queda — Tóquio, Hong Kong, Seul e Sydney caíram, enquanto Xangai subiu. As ações asiáticas acabaram seguindo o humor verificado ontem em Wall Street, com a elevação dos temores de que os aumentos das taxas de juros dos EUA para combater a inflação possam parar o crescimento econômico.

Em outras palavras, o Federal Reserve está tentando esfriar a inflação que alcançou sua máxima de quatro décadas, mas os investidores temem que isso possa desencadear uma desaceleração nos EUA. Os mercados de ações teoricamente deveriam precificar as expectativas para o futuro, mas os investidores parecem presos em uma narrativa, não reagindo objetivamente às notícias econômicas.

As bolsas europeias amanhecem tentando recuperar as perdas do início da semana, acompanhadas pelos futuros americanos, que também sobem. O Brasil, na expectativa pela tão aguardada ata da última reunião do Copom, pode seguir o movimento de recuperação na véspera da divulgação do índice de inflação. Por outro lado, a queda do petróleo, que ainda se sustenta acima de US$ 100 por barril, pode atrapalhar.

A ver…

O que a ata do Copom nos reserva?

Os investidores locais têm apresentado exacerbado sentimento de aversão ao risco, que jogou o Ibovespa de volta para a casa dos 103 mil pontos e o dólar para cima de R$ 5 novamente. Hoje, o mercado conta com o Banco Central divulgando a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a autoridade aumentou de 11,75% para 12,75% a taxa básica de juros, tendo contratado mais uma provável elevação para a próxima reunião de junho.

Os detalhes podem dar algum alívio para o mercado local, que vem se afogando no péssimo humor internacional, diferente de como fez no primeiro trimestre do ano. Além disso, dois outros temas estão no radar: i) o IBGE divulga o resultado do varejo em março; e ii) a Câmara pode iniciar a análise de seis medidas provisórias, entre elas a MP que pretende acabar com incentivos tributários para a indústria química e petroquímica no âmbito do Regime Especial da Indústria Química (Reiq).

Os famosos Fed Boys

Os investidores esperavam um novo começo de mês depois de um abril agitado e predominantemente negativo. As ações, porém, continuaram a cair, com nomes de tecnologia dando continuidade à queda livre — o Nasdaq terminou o dia de ontem em queda de mais de 4%, acumulando queda de 27% desde o início de janeiro. O índice S&P 500 não é diferente, apresentando queda de 17% desde o começo do ano.

Tanto para o S&P 500 quanto para o Nasdaq, os últimos três dias de negociação representam o pior período de três dias desde março de 2020, quando a pandemia estourou sobre os mercados. Os fatores que impulsionaram tais movimentos estão associados ao processo inflacionário e à alta dos juros americanos. Sobre isso, seis Fed boys (membros da autoridade monetária dos EUA) têm falas previstas para hoje.

Além deles, contamos também o depoimento de Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos EUA, ao Comitê Bancário do Senado, que coloca em pauta também as expectativas com o crescimento americano. Um dos temores de hoje é sobre as consequências do aperto monetário, sendo a mais perigosa delas o plausível quadro de recessão nos EUA entre 2023 e 2024.

Na expectativa de atingir o pico logo

Wall Street está procurando por sinais de que a inflação atingiu o seu pico, embora muitos economistas e o próprio Federal Reserve acreditem que a inflação deverá permanecer alta por mais tempo do que pensavam há seis meses — as dúvidas incluem os efeitos da persistente pandemia de Covid-19, em especial na China, a influência da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre as commodities e a crise energética na Europa.

O dólar está em sua máxima em duas décadas em relação a outras moedas (força medida pelo Dollar Index), apesar da inflação ter sido a mais alta em 40 anos. A fraqueza econômica em todo o mundo está impulsionando a alta do dólar. Um dólar forte, por sua vez, significa que os americanos podem comprar coisas de outros países a um preço mais baixo, mas também pode tornar os produtos americanos mais caros para estrangeiros, contaminando a nossa inflação, por exemplo.

Amanhã, os EUA divulgam o seu índice de preços ao consumidor de abril. Espera-se um ganho de 8,1% em relação ao ano passado, ou 5,9% excluindo os preços voláteis de alimentos e energia. As leituras de março subiram 8,5% e 6,5%, respectivamente, o que significaria uma desaceleração da inflação, abrindo espaço para maior estabilidade dos ativos de riscos no curto prazo, diferente de como vivemos nas últimas semanas.

Anote aí!

A temporada de resultados continua no Brasil e nos EUA. Por aqui, contamos com nomes como Telefônica Brasil (Vivo), Qualicorp, CVC e Brasil Agro. Lá fora, temos Electronic Arts e Occidental Petroleum. Fora os resultados, os EUA aguardam a divulgação do índice de otimismo para pequenas empresas para abril. No Brasil, esperamos que a Anfavea divulgue o resultado da produção de veículos em abril, na expectativa paralelamente para a ata do Copom e pelos dados de varejo de março. Temos também pesquisa sobre avaliação do governo e sucessão presidencial, bem como palestra do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento fechado promovido pelo Banco Nacional Suíço e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em Zurique, na Suíça.

Muda o que na minha vida?

Se o Fed decidir priorizar a normalização das taxas de juros sobre possíveis consequências econômicas, podemos ver uma aceleração da alta dos juros, o que seria consideravelmente prejudicial aos mercados financeiros. Historicamente, porém, com o tempo, as taxas de juros atingiram níveis progressivamente mais baixos.

Em 2006, por exemplo, depois do aperto monetário, o Fed atingiu o pico dos juros em 5,25%, enquanto em 2018, eles chegaram a apenas 2,5%. E desta vez? Bem, isso depende de quanto tempo o Fed acha que precisa para compensar seu erro de cálculo sobre a inflação — por muitos meses durante a recuperação pós-pandêmica, o Fed encarou a inflação como mais transitória do que deveria.

Note que a inflação continuou a ganhar força desde que o ciclo de aperto do Fed começou em março, com a guerra da Rússia na Ucrânia elevando os preços de energia e alimentos, e os severos bloqueios contra a Covid na China perturbando ainda mais a cadeia de suprimentos. A força no mercado de trabalho dos EUA também suportou o aumento esperado maior que o normal. 

Com isso, hoje, em vez de ser amigo dos investidores, o Fed tornou-se um inimigo com a intenção de apertar as condições monetárias. Pode-se debater o quão agressivo será, mas é improvável que o Fed volte a ajudar o mercado tão cedo como fez nos últimos 10 anos. Dessa forma, dependemos de que os primeiros ajustes do Fed sejam suficientemente efetivos para que o ciclo de aperto seja o mais breve possível.

Um abraço,

Jojo Wachsmann

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