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Pré-Mercado: Início das reuniões de política monetária deixa investidores ansiosos

03 maio 2022, 8:44 - atualizado em 03 maio 2022, 8:44
Depois de um abril difícil, a entrada do mês de maio foi para assustar | Se Beber, Não Case! Parte III (2013)

Bom dia, pessoal!

Lá fora, o feriado da “Golden Week” deixa os mercados no Japão e na China fechados hoje (3), retirando liquidez. Neste contexto, as ações asiáticas tiveram um dia misto de negócios, sem uma direção única e ainda digerindo a tempestade perfeita de crises em meio à ansiedade sobre a taxa de juros do Fed, a ser divulgada amanhã (4).

Ontem (2), uma reviravolta no final da tarde liderada por ações de tecnologia deixou os principais índices americanos moderadamente mais animados, evitando perdas adicionais após um abril complicado para investidores globais. O movimento não impediu a queda do Ibovespa, fazendo com o índice começasse o mês em baixa.

Nesta manhã, a maior parte das principais Bolsas europeias consegue sustentar uma alta, acompanhando a recuperação americana de ontem. Os futuros de Wall Street se sustentam perto da estabilidade, aguardando o início da reunião de política monetária do Fed. Há espaço para o Brasil recuperar algo hoje, depois de volta para os 106 mil pontos.

A ver…

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Início da reunião do Copom marca a terça-feira

Nesta terça-feira (3), teremos o início da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que deverá subir em 100 pontos-base a taxa de juros básica da economia brasileira para 12,75% a.a., dando pistas sobre seus próximos movimentos — a decisão será divulgada apenas amanhã, depois do fechamento de mercado. 

Paralelamente, o BC ainda tem que se preocupar com a escalada do câmbio, que voltou para acima de R$ 5,00 depois de flertar com patamares abaixo de R$ 4,60 há algumas semanas. Em resposta, a autoridade monetária deverá realizar leilão com oferta de até 20 mil contratos de swap (US$ 1 bilhão) para controlar a alta do dólar.

Na agenda, investidores aguardam participações de Paulo Guedes em alguns encontros ao longo do dia. Isso porque representantes do Amazonas e da União participam de reunião de conciliação com André Mendonça, o ministro do STF, sobre a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em todo o país.

Nas próximas semanas, Guedes e sua equipe deverão combater a ideia de que a redução do IPI prejudica a Zona Franca de Manaus. Sobre o tema, o ministro conversará hoje com o novo presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite. Guedes também se reunirá com o presidente da Associação Brasileira de Supermercados, João Galassi.

Na agenda econômica, a produção industrial de março ganha destaque, com a mediana das estimativas antecipando alta de 0,2% na comparação com o mês anterior, uma desaceleração frente ao dado de fevereiro (+0,7%). Adicionalmente, temos ainda o resultado das vendas de veículos novos em abril.

A volatilidade da curva de juros americana

Nos EUA, teme-se que uma política monetária agressiva do Federal Reserve force a economia a uma recessão, enquanto outros pensam que o Fed ainda pode realizar um “pouso suave” se conduzir o aperto monetário no ritmo correto. Ontem, o rendimento do Tesouro de 10 anos ultrapassou brevemente 3% pela primeira vez desde 2018. No final do pregão, fechou em 2,995%, o nível mais alto desde 30 de novembro de 2018.

Pode não parecer muito, mas o significado desse movimento pode ser bastante profundo. Afinal, o título de 10 anos agora oferece um “rendimento real” positivo ajustado pela inflação pela primeira vez desde o início da pandemia de Covid-19 — esse rendimento real é calculado tomando o yield atual e subtraindo a inflação esperada. 

Rendimentos reais negativos em mercados seguros, como o de títulos do Tesouro, empurraram os investidores para mercados mais arriscados em busca de retornos mais altos. Entretanto, à medida que o Federal Reserve aperta a política monetária para combater a inflação, há menos motivos para correr riscos. Ou seja, assim que os rendimentos aumentam, as ações parecem menos atraentes. 

Temporada de resultados pegando fogo lá fora

Com mais da metade das empresas do S&P 500 já tendo reportado seus resultados do primeiro trimestre, os investidores se deparam com sentimentos mistos. Das empresas que publicaram números até agora, observamos que 80% relataram lucros acima das estimativas, o que está um pouco acima da taxa média de cinco anos de 77%. Em conjunto, porém, o grau de superação dos resultados é menor, com ganhos em média 3,4% acima das estimativas, abaixo da média de 5 anos de 8,9%.

De maneira consolidada, o S&P 500 deverá encerrar a temporada com um aumento dos lucros da ordem de 7,1% no primeiro trimestre. De fato, o patamar de 7,1% é melhor do que o que os analistas esperavam no final de março, mas ainda marcaria o crescimento trimestral mais lento do índice desde o final de 2020.

Esta semana, outras 160 empresas do S&P 500 divulgam seus resultados — o índice negocia hoje a 18,1 vezes o lucro esperado para os próximos 12 meses. Para hoje, contamos com Advanced Micro Devices, Airbnb, BP, DuPont, Estée Lauder, Marathon Petroleum, Paramount Global, Pfizer, S&P Global e Starbucks.

Anote aí!

Nos EUA, temos a continuidade da temporada de resultados. Por lá, também contamos com dados de pedidos de fábrica do país em março e com as vagas de emprego e pesquisa de rotatividade de mão de obra. Na Zona do Euro, os investidores ficam atentos à inflação ao produtor (PPI) e à fala de Christine Lagarde, que pode reforçar a mensagem de alta antecipada do juro pelo BCE.

No Brasil, temos a possível votação da medida provisória que reformula a legislação sobre aviação civil, enquanto os servidores do Banco Central retomam greve por tempo indeterminado. A reunião do Copom tem início, enquanto averiguamos os dados de produção industrial, IPC-S Capitais de abril e vendas de veículos novos em abril.

Muda o que na minha vida?

Gradualmente, a economia global parece cada vez mais em risco. As maiores economias do mundo estão passando pelo período mais difícil desde o início da pandemia, aumentando a probabilidade de que uma recessão possa estar chegando. Para piorar, os lockdowns na China podem afetar bastante a cadeia de suprimentos global em 2022, prejudicando as perspectivas de crescimento.

A economia dos Estados Unidos, por exemplo, encolheu inesperadamente no primeiro trimestre de 2022, surpreendendo os analistas e levantando alarmes de que os planos do Federal Reserve de retirar o apoio econômico para combater a inflação podem piorar as coisas — o resultado americano foi muito afetado pelo desequilíbrio no trimestre entre importações e exportações, que impactaram negativamente o resultado.

A razão de a queda do PIB não ter gerado uma reação muito negativa do mercado foi que os gastos do consumidor estão se mantendo, ao menos por enquanto. Ainda assim, os investidores estão cada vez mais preocupados com o que acontecerá no próximo ano, quando a abordagem agressiva do Federal Reserve para combater os aumentos de preços realmente começará a surtir efeito.

Mas a preocupação não se restringe aos EUA. Na China, os dados mais recentes mostram que a atividade em manufatura e serviços caiu para seu nível mais baixo desde fevereiro de 2020. Enquanto isso, dados publicados na sexta-feira (29) mostraram que a economia europeia desacelerou nos primeiros três meses do ano.

Podemos estar caminhando para grandes problemas na economia global este ano. Para os investidores, isso demanda uma visão mais cautelosa para a exposição a risco, abrindo espaço para ajustes de posição diante do temor estagflacionário, uma realidade para o Brasil em 2022, mas que poderá ser muito comum ao redor do mundo a partir de 2023.

Um abraço,

Jojo Wachsmann