Colunista Vitreo

Pré-Mercado: Ibovespa vai descolar para o bem ou para o mal hoje?

23 mar 2022, 9:35 - atualizado em 23 mar 2022, 9:36
Mercado sem memória: investidores assimilam um mundo de inflação e juros altos / Mulholland Drive (2001)

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Bom dia, pessoal!

Lá fora, as ações asiáticas subiram nesta quarta-feira (23) lideradas por empresas de tecnologia após a alta de ontem em Wall Street, embora os investidores continuem preocupados com a guerra na Ucrânia, a inflação e os apertos monetários no mundo desenvolvido, em especial nos EUA.

Na Europa, nesta manhã, os principais índices sobem timidamente, apesar das preocupações com o aumento dos custos de energia — os preços do petróleo subiram de volta para acima de US$ 115 por barril.

Os futuros americanos, porém, não acompanham o continente eurasiano e flertam com a ala negativa, ainda que estejam em região de estabilidade por enquanto.

Por lá, a preocupação é que, com poucas alavancas para pressionar a Rússia, a perda de uma quantidade significativa de petróleo russo seja mais permanente do que se pressupunha, na falta de alternativas para compensar (os mercados de petróleo russos podem levar anos para se normalizarem).

O Brasil, como foi em janeiro, tem espaço para se descolar.

A ver…

Vai se descolar para o bem ou para o mal?

Hoje, a Câmara pode votar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que proíbe a criação de despesas para estados e municípios sem indicar as receitas, o que seria uma sinalização fiscal mais positiva, depois de alguns esgarçamentos ao longo de 2022.

Por outro lado, também pode ser votada a urgência para o projeto de lei que institui subsídio federal para custear o transporte público gratuito de idosos nos estados, DF e municípios.

O mercado entende a necessidade de tais medidas em um ambiente difícil como este em que estamos.

Contudo, não custa lembrar que vivemos em um país com pouco espaço fiscal, estamos em ano eleitoral e ainda precisamos de inúmeras reformas para colocar nossa credibilidade fiscal em pé novamente.

Repercutem, por exemplo, os novos estímulos fiscais com base em renúncias do governo federal, como a redução de mais 10% na alíquota do imposto de importação de diversos produtos.

Saindo do âmbito fiscal e caminhando para o monetário (ainda que as duas coisas andem bem juntas), o mercado acompanha as falas do presidente do BC, Roberto Campos Neto, que se pronuncia duas vezes hoje e pode trazer novidades depois de a ata do Copom ter indicado que a Selic pode ir além de 12,75% se necessário — ainda assim, a mensagem que o mercado melhor captou foi que de fato estamos no final do ciclo e não devemos caminhar muito além de 13%.

Assimilação de movimentações geopolíticas

Os investidores também estavam observando de perto o que pode acontecer com a participação do presidente Joe Biden na reunião da OTAN na quinta-feira (24), quando novas sanções provavelmente estarão no topo da agenda — Biden quer trazer novos países para a mesa para bater ainda mais na economia russa e planeja também atrair nomes do G20, grupo que já ameaça excluir a Rússia de novos encontros, ao menos até que a situação seja solucionada.

Enquanto isso, os EUA e o Reino Unido suspenderão as sanções (impostos comerciais) um ao outro — tributos ao alumínio britânico e tributos variados aos produtos americanos. Ambos os lados reconhecem que impostos desnecessários não são ideais e apenas encarecem a economia em um momento de preços já elevados.

Assim, vemos que os países começam a tentar se esquivar dos efeitos das sanções sobre a Rússia, em especial o inflacionário.

Enquanto isso, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos subiram novamente, para 2,38% – o maior desde maio de 2019.

O quadro de expectativas para o juro se torna cada vez mais claro, com o investidor correndo para as apostas de que o Fed possa acelerar o ritmo de aperto em maio para 0,5 p.p., se necessário, na tentativa de não ficar “atrás da curva” (ou correndo atrás do próprio rabo).

Hoje temos o aniversário de dois anos da mínima do mercado americano durante a pandemia de Covid-19, em março de 2020.

Desde então, o Nasdaq subiu 106% e o S&P 500, 102%.

Apenas nove componentes do índice estão no vermelho nesse período.

Destaque para as ações de energia, que mais que triplicaram desde então, com alta de 219%.

Relações com Rússia e China

Sanções adicionais contra a Rússia são esperadas por parte dos EUA, Reino Unido e outros países europeus devem pintar no mercado nos próximos dias.

Com isso, os padrões de vida na Rússia já devem cair, uma vez que o impacto das sanções é provavelmente pior que os lockdowns da pandemia.

Em resposta, a Rússia deve cortar o fluxo de petróleo através do oleoduto Cáspio — o oleoduto transporta petróleo do Cazaquistão, mas termina em um porto russo (assim, a ação complica o fornecimento global de petróleo sem afetar os russos).

Enquanto isso, na China, os mercados reagiram ao anúncio formal, por parte do Partido Comunista Chinês, de estímulos fiscais.

Pequim anunciou 2,5 trilhões de yuans (mais de US$ 390 bilhões) em cortes de impostos este mês, o quinto ano de tais reduções, que somam cumulativamente mais de 9,7 trilhões de yuans.

O governo indica que os cortes são a melhor maneira de impulsionar o crescimento. Em um momento em que muito se questiona sobre a sustentabilidade do crescimento chinês, os estímulos caem muito bem.

Anote aí!

A agenda do dia está abarrotada de coisas. Lá fora, os dados de inflação do Reino Unido foram conforme o esperado, na esteira das participações do presidente do BoE, Andrew Bailey, e do presidente do Fed, Jerome Powell, no BIS Innovation Summit 2022 — Roberto Campos Neto também falará nesse evento. Dados de confiança do consumidor também são esperados na Zona do Euro.

Nos EUA, destaque para os dados de vendas de casas novas para fevereiro, com expectativa de 810 mil novas casas unifamiliares vendidas, em linha com o número de janeiro.

No Brasil, temos a filiação ao PSB do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que poderá trazer novidades de sua aliança com Lula para as eleições.

Adicionalmente, o mercado acompanha dados secundários de inflação, como o IPC-S da terceira quadrissemana de março, e novidades políticas em Brasília.

Muda o que na minha vida?

As discussões ao redor da crise alimentar continuam, com consumidores pagando mais por alimentos à medida que a inflação toma conta das nossas vidas (ao redor do mundo todo, consumidores estão pagando muito mais agora por carne, pão, leite, moradia, gás e serviços públicos).

Como já conversamos, a invasão da Ucrânia pela Rússia tirou do mercado um quarto das exportações de trigo, um quinto das exportações globais de milho e um décimo das exportações de petróleo.

Adicionalmente, mais de 30% das terras agrícolas da Ucrânia podem não ser utilizadas para plantio este ano, sendo que o trigo de inverno, que deveria ser colhido em junho, também está em risco.

Nem todos os países ocidentais importam alimentos da Rússia, isso seria um problema direto de outros países mais ligados ao Sudeste Asiático, ao Oriente Médio e ao Norte da África.

Ainda assim, para os preços cotados internacionalmente, sentiremos os impactos. Além disso, a Rússia é o principal produtor de fertilizantes e outros produtos químicos agrícolas que agora estão em falta à medida que a época de plantio se aproxima — sua falta encarece ainda mais as produções agrícolas.

Dessa forma, a guerra levou o mundo à beira de uma crise alimentar.

Um abraço,

Jojo Wachsmann

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