Pré-Mercado: Hoje o dia é da senhora inflação
Bom dia, pessoal!
Nesta quarta-feira, todas as notícias ao redor do mundo inteiro se resumem aos dados de inflação. A evidência até agora é de que a inflação começou a ser de fato mais transitória do que permanente, flertando com o alcançar de seu pico e caminhando para uma posterior normalização — internacionalmente, as mudanças mensais dos preços agora estão mostrando desinflação e, em alguns casos, deflação. Várias regiões no mundo divulgam seus respectivos indicadores de preços, inclusive o Brasil.
Lá fora, as ações asiáticas tiveram um pregão misto, sem uma única direção. As Bolsas mais relevantes, porém, como a chinesa e a japonesa, conseguiram sustentar um bom dia, com os índices chineses em alta depois da recuperação de ontem nas empresas de tecnologia de Wall Street. A maioria dos mercados europeus amanhece em alta, assim como os futuros americanos, ainda em processo de rebound depois de tantos dias de queda neste início de maio. No aguardo do indicador de inflação, os investidores brasileiros também acompanham os desdobramentos políticos de Brasília.
A ver…
Combustíveis para cima, ministro exonerado e dado de inflação
Fazia 60 dias que a Petrobras não reajustava o diesel quando, na segunda-feira, a companhia anunciou a revisão no preço do combustível — o preço médio do litro de diesel vendido para as distribuidoras passou de R$ 4,51 para R$ 4,91, um aumento de 8,87% (os preços da gasolina e do gás de cozinha não foram alterados).
Como consequência, Bento Albuquerque foi exonerado na noite de ontem de seu cargo no Ministério de Minas e Energia. Adolfo Sachsida, que deixa o cargo de chefe da Assessoria Especial do Ministro da Economia, Paulo Guedes, foi nomeado para o cargo (Sachsida também foi secretário de Política Econômica até fevereiro).
O aumento dos combustíveis é importante, uma vez que ele tem sido um dos fatores que melhor explica a alta inflacionária em 2022. Por isso, será importante avaliarmos o IPCA de abril, que será divulgado hoje. A mediana das expectativas aponta para um acumulado de 12,1% em 12 meses, uma alta frente aos 11,3% registrados em março — dados acima do esperado podem impactar negativamente o mercado.
Inflação americana também é destaque
Ontem, uma retração nos rendimentos dos títulos americanos ajudou o Nasdaq, índice focado em tecnologia, a ter um desempenho superior aos seus pares — o yield do título do Tesouro dos EUA de 10 anos voltou para abaixo de 3%, depois de saltar acima de 3,1% na sexta-feira. Agora, o caminho da política monetária dependerá dos dados nas próximas semanas, em especial os de inflação.
Sobre o tema, os EUA divulgarão o índice de preços ao consumidor de abril antes da abertura do mercado. Em média, o mercado espera ver um aumento de 0,3% no índice na comparação mensal, o que resultaria em um aumento de 8,1% em 12 meses. Excluindo os componentes mais voláteis, como alimentos e energia, o núcleo do IPC deve ter ganho 0,4% em abril, resultando em um salto de 5,9% em relação a 2021.
Se confirmados, ambos seriam ritmos anuais mais lentos de crescimento de preços do que os 8,5% do IPC geral e 6,5% do núcleo do IPC em março. Ou seja, se o mercado estiver certo, a inflação deverá ter atingido o seu pico nos EUA. Claro, isso não significa voltar à meta de 2% de inflação do Fed tão cedo, mas se a tendência estiver pelo menos na direção certa, haverá mais otimismo do mercado.
Não é só de Brasil e de EUA que vive a inflação
Como se não bastasse as inflações do Brasil e dos EUA, também contamos com preços ao consumidor da Alemanha e digestão da inflação chinesa. Durante a noite, os dados de preços ao consumidor chinês mostraram queda, indicando a natureza muitas vezes local da inflação — as restrições da Covid limitaram a demanda e, à medida que a inflação do setor de serviços desacelerou, reduziu o valor do núcleo de inflação.
Em território alemão, também tivemos a inflação de preços ao consumidor de abril. A taxa registrou a leitura mais alta desde o outono de 1981, subindo 7,4% no ano. O dado reforça a necessidade do BCE também começar com seu processo de ajuste monetário, antes que as coisas saiam muito do controle. O problema é que a economia europeia é muito mais desaquecida do que a americana, elevando o risco de recessão.
Anote aí!
Mais resultados são aguardados hoje. Lá fora, contamos com Rivian Automotive, Toyota Motor e Walt Disney. Por aqui, temos BB, JBS, Braskem, Ultrapar e Copel. Além dos dados de inflação ao redor do mundo inteiro, os investidores também prestam atenção nas falas de autoridades monetárias europeias, como a própria Christine Lagarde, presidente do BCE, e americanas, como o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic.
No Brasil, a Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara ouve especialistas sobre o teto de gastos, enquanto o Ministério do Meio Ambiente e o Banco Central promovem um evento sobre mercado global de carbono — vale dar uma olhada no Vitreo Carbono. Duas pesquisas de sucessão presidencial são devidas, na esteira da divulgação do índice de Confiança do Empresário Industrial pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Muda o que na minha vida?
Pela primeira vez em muito tempo o mercado começa a se virar contra as decisões do Fed. Muito dificilmente a principal autoridade monetária do mundo assumiria que cometeu um erro; entretanto, é notável que mesmo membros do Federal Reserve entendem que eles tenham esperado demais para começar a agir.
Richard Clarida, por exemplo, que foi vice-presidente de Powell até janeiro, disse que as taxas de juros terão que ir para níveis que Jerome Powell não reconhecia a princípio como possíveis, como levar a taxa de juros para cima de 3% ou até mesmo 4%.
Adicionalmente, Randal Quarles, que até outubro era outro vice-presidente de Powell, foi ainda mais contundente, dizendo que a equipe deveria ter começado a combater a inflação em setembro do ano passado.
Muitos outros agentes do mercado entendem que, agora que a taxa de juros ficou “atrasada” e terá que ir para patamares mais elevados, uma recessão ficou mais provável para a economia americana entre 2023 e 2024. No final do dia, este parece ser um problema que o próprio Fed criou para si. A questão é o quão caro sairá este erro para os próximos anos.
Um abraço,
Jojo Wachsmann