Colunista Vitreo

Pré-Mercado: Hoje é dia de decisão importante nos EUA

26 jan 2022, 9:26 - atualizado em 26 jan 2022, 9:26
Mercados gritam por ajuda do Fed, que conclui hoje sua reunião / Psicose (1960)

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Bom dia, pessoal!

Lá fora, os mercados asiáticos encerraram o pregão de quarta-feira (26) de forma mista, sem uma direção clara e com volume fraco, na expectativa da conclusão da reunião do Fed.

Preocupações com a variante ômicron permanecem em toda a região, mesmo que os casos estejam diminuindo na China antes do feriado do Ano Novo Lunar na próxima semana e da abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim em 4 de fevereiro — no Japão, o governo ampliou grande parte das medidas restritivas.

As Bolsas europeias e os futuros americanos, por sua vez, conseguem sustentar bastante otimismo nesta manhã, na esteira de bons resultados corporativos nos EUA, em especial o da Microsoft.

Paralelamente, o Brasil chama a atenção dos estrangeiros por ser barato demais e por ser dotado de setores de economia tradicional.

Neste sentido, o país acaba atraindo capital gringo interessado em migrar recursos para fora de teses caras, de crescimento, em direção às teses de valor e de commodities.

A ver…

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Um convite há muito aguardado

Enquanto os mercados americanos sofrem por vários dias seguidos, a entrada de fluxo estrangeiro no Brasil ajuda o Ibovespa a voltar para cima de 110 mil pontos e a derrubar o dólar, diante do entendimento de que os ativos brasileiros já estão muito baratos, tendo possivelmente precificado boa parte do ruído eleitoral do ano, que ainda promete gerar bastante volatilidade nos próximos meses.

Em poucos dias, o Congresso retorna de seu recesso e poderá voltar a ensejar pressão fiscal, uma vez que as contas públicas se mostram bem desgastadas.

Neste contexto, PT, PSB, PCdoB e PV se reúnem para começar a definir os termos do estatuto da federação partidária que pretendem criar para a eleição de 2022.

Entre notícias boas que ajudam o mercado, destaque para o convite formal recebido pelo Brasil para ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Claro, ainda há um longo caminho até a aprovação definitiva da nomeação — o processo pode demorar anos a depender do país (a Costa Rica e a Colômbia, dois pares latinos dentro da instituição, levaram um e dois anos, respectivamente).

De qualquer jeito, a entrada na OCDE pode facilitar acordos comerciais para o país, bem como atrair capital estrangeiro.

Só se fala de Fed

Nos EUA, em meio à temporada de resultados corporativos, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) anuncia sua decisão de política monetária.

Na verdade, espera-se que o banco central mantenha a taxa de fundos federais inalterada perto de zero.

Contudo, como a autoridade tornou-se mais agressiva nos últimos meses, em especial em dezembro e janeiro, os investidores precificam um discurso duro hoje.

Ainda assim, Jerome Powell não quer forçar o crescimento para baixo da tendência atual, que vem sendo positiva para o mercado de trabalho americano.

Dentro do mandato do Fed, controlar a inflação não pode no curto prazo destruir a economia.

De todo modo, entende-se como mais provável uma alta de 0,25 p.p. na reunião de março do Fomc e outras três altas (pelo menos) no ano. Para entender melhor o ritmo, a conclusão de hoje será muito importante.

Assim como o Fed, o mercado também entende que seja necessária uma normalização da política monetária, mas os investidores têm fracassado em antecipar bem os movimentos, o que proporciona sustos e grandes correções de mercado.

Quanto mais abruptos forem os ajustes na curva de juros, maior será a proporção da rotação setorial, que deverá continuar acontecendo nos próximos meses.

As tensões na Ucrânia continuam

Depois de se reunirem no início da semana, os líderes da União Europeia e os EUA estão perto de coordenar as sanções contra a Rússia, de modo a pressionar o Kremlin a não invadir a Ucrânia.

A dinâmica se dá em meio a uma eleição presidencial na Itália e à possível remoção de um primeiro-ministro britânico, o que não ajuda em nada os focos dos agentes envolvidos.

A Casa Branca tem estudado planos para garantir energia à Europa em um eventual conflito, se valendo do fornecimento da Ásia, Oriente Médio e África.

O problema é que, de qualquer forma, uma invasão russa poderia romper a cadeia de abastecimento energético, o que ameaça elevar ainda mais os preços da energia, dividindo os países entre lutar uma guerra e lutar contra a inflação; ou seja, pode provocar bancos centrais mais agressivos, machucando a recuperação pós-pandêmica.

Anote aí!

Hoje, o grande evento do dia é a decisão do Fomc, com a entrevista de Powell na sequência.

Ainda nos EUA, a temporada de resultados segue acontecendo, com nomes como Abbott Laboratories, AT&T, Boeing, Freeport-McMoRan, Intel, Kimberly-Clark e Nasdaq apresentando seus números hoje.

Fora isso, o relatório de vendas de casas residenciais também chama a atenção, mas de maneira secundária.

Na agenda doméstica, destaque para o IPCA-15 de janeiro, a nossa prévia de inflação oficial, e a Sondagem do Consumidor de janeiro pela FGV.

Muda o que na minha vida?

Todo mundo já sabe: o mundo de juros nominais zerados está chegando ao fim e as taxas de juros mais altas estão mais próximas do que esperamos.

Ninguém crê em uma alta de juros hoje, mas agora há uma chance superior a 90% de pelo menos um aumento de taxa de 0,25 p.p. em março, no próximo Comitê Federal de Mercado Aberto.

Adicionalmente, a mediana das estimativas aponta para quatro aumentos até o final do ano, cenário que hoje tem 65% de chance de ocorrer, sendo que há 24% de chance de até cinco aumentos (todos de 25 bps).

Há uma boa chance de que a pressão de venda que estamos vendo na Bolsa americana desde o início do ano possa diminuir amanhã assim que o Fed emitir sua declaração depois do almoço, seguida pela coletiva de imprensa de Powell, talvez o ponto mais importante do dia.

Para as ações, a antecipação dos aumentos das taxas é muitas vezes pior do que os próprios aumentos — no pânico, todas as ações se comportam de maneira semelhante, andando em uma só direção.

Há quem aponte semelhanças para a correção até aqui de janeiro de 2022 com a que aconteceu em janeiro de 2016, quando o ciclo de aperto causou uma retração de mais de 10% no S&P 500 no início do ano, com recuperação na sequência — o mercado continuou subindo até os ruídos de guerra comercial com a China e de um aperto acima do esperado, em 2018.

Ainda assim, o mercado seguiu com pelo menos dois anos fortes.

Não significa que as correções estão terminando por lá.

Elas devem continuar acontecendo, em especial nas empresas com múltiplo muito elevado, precificando muito crescimento.

Neste sentido, ainda que o ajuste nos mercados seja apenas no curto prazo, a volatilidade veio para ficar, em especial por conta dos demais fatores ao redor do mundo, como as questões geopolíticas, cada vez mais danosas ao mercado, já bastante sensível.

Um abraço,

Jojo Wachsmann